sábado, 28 de novembro de 2020

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 1º DOMINGO DO ADVENTO - ANO B (2020-2021)

 

VIGILÂNCIA CONSTANTE


Neste domingo, 29.11.2020, celebramos o primeiro domingo do advento, data que inicia o novo ano na liturgia católica romana, a qual não segue o calendário civil. Hoje é, portanto, o primeiro dia do ano novo religioso. Neste ano, classificado com a letra B, as leituras do evangelho serão, preferencialmente, do evangelista Marcos.


Cronologicamente, o evangelho segundo Marcos foi o primeiro dos quatro a ser escrito. Consta que João Marcos era um discípulo de Pedro e teria sido também o escriba das cartas deste. Era também sobrinho do apóstolo Barnabé e acompanhou Paulo nas suas primeiras viagens missionárias. A mãe de Marcos era uma senhora rica da região, que ajudava no sustento de Jesus e de seus discípulos, tendo importante liderança naquela comunidade. Marcos é, portanto, um personagem importante dos primeiros tempos da era cristã. O evangelho de Marcos é considerado o mais próximo das fontes documentais, pelo fato de apresentar-se mais resumido e com poucos detalhes dos fatos narrados, tendo servido de apoio para os demais evangelhos. Deve ter sido escrito por volta do ano 50 d.C.


A palavra “advento”, numa interpretação literal, quer dizer aquilo que está para vir, ou seja, o nascimento de Cristo. É conveniente recordar que a festa de Natal, celebrada em 25 de dezembro, é apenas uma data referencial, não significando o dia exato em que Jesus nasceu. A escolha desta data foi uma intromissão do imperador romano Constantino no cristianismo. Ele aproveitou uma festa tradicional pagã que existia em homenagem ao deus sol invencível, e que marcava a passagem do solstício de inverno no hemisfério norte, e ao se tornar cristão, ele transformou esta solenidade pagã em uma festa cristã, homenageando Jesus, o novo sol do mundo. As igrejas cristãs orientais não seguem essa data, pois não aceitaram a imposição de Constantino, e lá celebra-se o nascimento de Jesus no dia 6 de janeiro.


Contudo, o 25 de dezembro foi assumido pelo catolicismo romano e de lá trazido para o continente americano, associado a paisagens de frio, com pinheiros cobertos de neve. Porém devemos nos lembrar que Jesus nasceu em Belém, na Judeia, e lá não havia nem pinheiros nem neve, ao contrário, a região é predominantemente desértica. Esta é a visão europeia do natal e é mais um motivo para nós buscarmos compreender a sua simbologia coerente com o evangelho e não com os costumes tradicionais, que associam o Natal à troca de presentes e à farta ceia com iguarias típicas da data. Diferente disso, o nascimento de Cristo foi um acontecimento modesto e até austero, pois como se sabe, Maria e José não encontraram nem hospedagem decente naquele dia de grande aglomeração em Belém.


A leitura do evangelho de Marcos tem uma mensagem de vigilância (Mc 13, 33-37). O texto tradicional latino exortava: Vigilate! (Vigiai). Podemos perceber como essa preocupação chegava a ser exagerada, pela forma como o tema nos é apresentado na parábola do patrão que viajou ao estrangeiro e deixou sua propriedade sendo cuidada pelos seus empregados. O patrão também deixou a cada empregado uma tarefa específica, encarregando um deles de ser o porteiro, que ficaria vigiando a casa. Quanto aos demais, diz a parábola, devem estar sempre preparados, porque não sabem a que dia ou hora o patrão retornará. Pode ser de tarde, de noite, de madrugada, ninguém sabe quando será este dia.


Do modo como a história é contada, tem-se a impressão de que aqueles empregados não poderiam nem dormir, porque podia ser que o patrão chegasse na hora do sono deles. Ora, meus amigos, parece óbvia aqui uma figura de linguagem. Na verdade, o foco da mensagem, a meu ver, se refere à execução da tarefa da qual cada um foi encarregado e não ao sono em si. Essa, sim, deve ser cumprida conforme o cronograma divino, de modo que, no retorno do patrão, a tarefa não esteja em atraso. A tarefa maior que Jesus deixou para nós, os empregados, está resumida naqueles dois mandamentos, que todos conhecemos muito bem: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Essa é a tarefa que não pode ser deixada para depois, mas deve ser realizada constantemente.