domingo, 26 de junho de 2016

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 13º DOMINGO DO TEMPO COMUM - O CHAMADO E O SEGUIMENTO - 25.06.2016

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 13º DOMINGO DO TEMPO COMUM – O CHAMADO E O SEGUIMENTO – 25.06.2016

Caros Leitores:

Na liturgia deste 13º domingo do tempo comum, as leituras se direcionam para o tema do chamado de Deus e da resposta que cada um de nós deve dar para segui-lo. A principal atitude que Deus espera de nós, em resposta ao seu chamado, é a adesão incondicional. Quem se dispõe a aceitar o convite também deve dispor-se a mudar suas rotinas, não pode permanecer apegado à situação anterior, pois a adesão implica uma autêntica “metanóia”, ou seja, uma mudança de mentalidade. Esse é o verdadeiro sentido da palavra conversão. A resposta ao chamamento divino produz em nós aquela mudança da qual Paulo fala na carta aos Gálatas: proceder de acordo com o espírito e não satisfazer os desejos da carne. Não bastassem os mal-entendidos que essa expressão tem provocado na cabeça de quem faz a interpretação pela literalidade, Paulo ainda complica mais o entendimento quando conclui que quem se conduz pelo espírito não está sob o jugo da lei. Vejamos como é uma forma mais sensata de compreender essa bela lição da teologia paulina.

Antes, concentremo-nos na primeira leitura, colhida do Livro dos Reis (Rs 19, 16-21), onde o hagiógrafo narra o chamado do profeta Eliseu: o Senhor disse a Elias “vai e unge Eliseu como profeta no teu lugar”. Não avisou a Eliseu, não perguntou se ele queria, quando Elias chegou, ele estava arando a terra com doze juntas de bois. Devia ser uma área enorme, porque eram necessárias doze juntas de bois para a tarefa. Elias passou por ele e jogou sobre ele o seu manto. Eliseu saiu correndo atrás de Elias e pediu para ir despedir-se de seu pai e de sua mãe, ao que Elias concordou. Esse detalhe é importante para compreendermos a atitude diferente de Jesus, numa situação similar posterior. Afinal, honrar pai e mãe é um mandamento da Lei de Moisés e Jesus veio cumprir a Lei. No caso de Eliseu, ele não apenas foi despedir-se de seus pais, como ainda fez um grande banquete de despedida, servindo-se da junta de bois que ele pilotava e fazendo fogo com a madeira do arado. Dali, ele saiu com Elias e colocou-se ao seu serviço. Vemos que Eliseu aderiu ao chamado de Deus de uma forma incondicional, ou seja, largou o que fazia, deixou tudo para trás e foi adiante, cumprir a sua missão. Foi um grande profeta de Javé e operou inúmeras maravilhas em nome deste.

Na segunda leitura, continuando a carta de Paulo aos Gálatas (Gl 5, 13-18), o Apóstolo explica aos cristãos da Galácia o significado da liberdade para o cristão. Ser livre não significa usar esse dom a serviço da carne, mas devotar-se ao serviço do espírito. “Procedei segundo o espírito, assim não satisfareis os desejos da carne”. Meus amigos, essa frase foi inúmeras vezes jogada na nossa cara nas palestras formativas, querendo dizer que devíamos ficar o tempo todo rezando e lendo a Bíblia e os livros religiosos, praticando mortificações para não dar oportunidade às tentações do demônio em relação aos desejos da carne, que eram entendidos precipuamente como a luxúria, a gula, o riso, as brincadeiras. Todos devem se recordar de uns educadores italianos que eram terminantemente contra os jogos com bola e outras formas de diversão. Naquela época em que não havia televisão nem diversões eletrônicas, as horas de folga eram dedicadas à prática de esportes e aos jogos de tabuleiro e de mesa. Entendia-se que, para não satisfazer os desejos da carne, de acordo com o dito de Paulo, era preciso proibir o consumo das frutas do pomar e quaisquer outros alimentos fora dos horários de refeição e praticar muita atividade física, para tirar da cabeça os “maus pensamentos”. Assim, viveríamos segundo o espírito. Suponho que muitos dos nossos colegas continuam com esse mesmo entendimento, embora nãomais o adote na prática. Mas vamos esclarecer melhor essa problemática, porque essa interpretação literal e fundamentalista não corresponde ao que Paulo ensinou.

De acordo com a cultura grega, o conceito de “carne” (em grego, sarx) não está vinculada ao corpo, no sentido orgânico, mas ao corpo enquanto matéria, ou seja, às coisas materiais. Este conceito se contrapõe ao de “espírito” (em grego, pneuma), que representa o ar, a respiração, o sopro da vida, portanto, refere-se às coisas sublimes, ao desapego dos bens, das honras, das coisas mundanas. Como se observa, o conceito de “carne” está mais relacionado com a avareza, com o orgulho, com o acúmulo de riquezas, com o apego ao dinheiro e aos vícios que dele se acompanham. Andai conforme o espírito, disse Paulo, e não vos deixeis levar pelos atrativos materiais, pelo poder, pela riqueza, pelo status social, pelo acúmulo de bens terrenos. A advertência de Paulo aos Gálatas, portanto, não está voltada para a reza, o jejum, para abstinência de certos alimentos, mas para a pobreza de espírito. O cristão pode possuir bens, mas não deve apegar-se a eles a ponto de afastar-se dos irmãos, desenvolvendo o egoísmo e a avareza. Nesse sentido, é também o outro ensinamento de Paulo “se sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei”. Este segundo ensinamento se põe no contexto daquela célebre discussão com os judeus convertidos, os quais afirmavam que continuava obrigatório o cumprimento da Lei de Moisés. Contra isso, Paulo diz (Gl 5, 14): com efeito, toda a Lei está resumida neste único mandamento – ama o teu próximo como a ti mesmo”. Para amar verdadeiramente o próximo, o cristão precisa desapegar-se dos bens materiais e, se os possuir, utilizá-los para ajudar os irmãos necessitados. Ele até usa a expressão hiperbólica de efeito: tornai-vos escravos uns dos outros, isto é, estai sempre a serviço uns dos outros. Fazendo isso, pronto, já está cumprindo o mandamento, não precisa mais se preocupar com o que diz a Lei. Por isso é que, quem anda conforme o espírito, não está sob o jugo da Lei. Porque a Lei de Moisés, para os judeus, era muito mais um conjunto de práticas externas do que atitudes internas de conversão do espírito. E Paulo ensina que converter-se espiritualmente é o que de fato interessa para o cristão. Por isso, o cristão não está sob o jugo da Lei.

Na leitura do evangelho de Lucas (Lc 9, 51-62), vemos três situações em que Cristo radicaliza acerca do que ele espera daqueles que chama. Ao que diz: “eu te seguirei por onde tu fores”, ele responde que não tem nem onde repousar a cabeça”, ou seja, para me seguir tem que ser assim, como se diz na linguagem popular “não ter onde cair morto”. A outro, que ele chama e diz: “deixa-me primeiro ir enterrar meu pai”, Jesus responde rispidamente: deixa que os mortos enterrem seus mortos. Ora, onde fica o mandamento de “honrar pai e mãe”? Jesus estaria discordando disso? E ao outro que diz: “eu vou seguir-te, mas deixa-me despedir-me dos meus familiares”, ele dispara: quem põe a mão no arado e olha para trás não é digno de me seguir. Quantas vezes nos disseram essa frase nas conferências semanais do período de formação!!… Como sempre digo, meus amigos, precisamos compreender as respostas de Jesus fora da simples literalidade, porque se observarmos por esse estreito ponto de vista, ele estaria sendo cruel, incoerente e injusto. Vimos, no início, que o profeta Elias aceitou o pedido de Eliseu para ir despedir-se dos seus familiares, porque Cristo teve atitudes tão radicais e violentas? Por acaso, estaria ele querendo dizer que Elias agira de forma errada, ao deixar Eliseu celebrar as suas despedidas? Obviamente não foi isso que Jesus quis dizer, embora tenha sido o que ele disse. Ademais, certamente o evangelista Lucas colacionou esses três episódios durante aquela viagem de Jesus para Jerusalém, na qual os samaritanos se recusaram a hospedá-lo, dando a impressão que Jesus havia ficado irado com os samaritanos e estava descarregando sua raiva naqueles seus candidatos a seguidores. Tenho para mim que o evangelista fez um arranjo literário para encaixar ali aqueles diálogos, porque são curtos e precisavam ser acomodados num contexto de outra narrativa, então ele os colocou nesse momento. Mas não significa que tenham ocorrido assim como está escrito, ou seja, um logo depois do outro, mas em ocasiões diversas e em situações diferentes.

Mas, então, qual seria a explicação para essa total radicalidade das respostas de Jesus àqueles jovens que pretendiam segui-lo? No meu modo de pensar, Jesus quis dizer com isso que a adesão ao seu evangelho deve ser incondicional, sem meios termos, sem ressalvas. Dizer: eu aceito, mas… assim ele não quer. Deve ser: eu aceito, e vamos. Não é possível tentar conciliar o evangelho de Cristo com outras doutrinas, com outros modos de vida, com outras opções existenciais. É mais ou menos no mesmo sentido da lição de Paulo aos Gálatas, referido na segunda leitura. Não é possível juntar o “espírito” e a “carne”, não é possível aderir ao evangelho e continuar vinculado à Lei de Moisés, não há compatibilidade entre o batismo e a circuncisão. A adesão ao evangelho de Cristo deve ser total e plena, sem subterfúgios e sem acomodações. A conversão para a vida de acordo com o evangelho supre todas as demais alternativas, tudo o mais fica para trás. É isso que ele quer de nós, é isso que a comunidade espera dos verdadeiros discípulos de Cristo.

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domingo, 19 de junho de 2016

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 12º DOMINGO DO TEMPO COMUM - O FILHO DO HOMEM - 19.06.2016

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 12º DOMINGO DO TEMPO COMUM – O FILHO DO HOMEM – 19.06.2016

Caros Leitores,

Neste 12º domingo do tempo comum, as leituras litúrgicas destacam a relação entre a cruz e o batismo, através da ação salvífica do Cristo de Deus, como assim Jesus foi definido por Pedro, pela inspiração do Espírito. Falando em particular com os doze apóstolos, depois da confissão de Pedro, Jesus revela mais alguns detalhes acerca da sua futura paixão, preparando o espírito deles, para que não percam a fé, quando essas coisas terríveis vierem a acontecer.

A primeira leitura traz um texto do profeta Zacarias, no qual há uma alusão bem explícita e direta à figura do Messias, que será torturado e morto, mas depois, esses mesmos que o matarem, irão chorar sobre o seu cadáver (Zc 12, 10), irão pranteá-lo com tão profunda dor, quanto alguém pranteia a morte de um filho único ou primogênito. Este texto é reproduzido na liturgia da Semana Santa, onde se lê que “contemplarão aquele a quem traspassaram”. Trata-se de um prenúncio, com grande antecipação temporal, uma longínqua antecipação do sacrifício de cruz, considerando que a datação deste escrito é do século IV antes de Cristo.

No versículo seguinte (Zc 12, 11), o Profeta faz referência a um dia tão calamitoso quanto aquele em que o Messias irá ser imolado, recordando que “haverá um grande pranto em Jerusalém, como foi o de Adadremon, no campo de Magedo.” O fato referido pelo Profeta é a morte do rei Josias, que pereceu em circunstâncias evitáveis, ocasionando grande comoção junto do povo. Com efeito, depois de experimentar vários reis injustos e idólatras, o povo de Israel tinha um rei bom e devotado à sua gente: Josias. Ele foi tentar impedir o trânsito do exército egípcio pelo território de Israel, numa ocasião em que o Faraó travava uma guerra com os babilônios. Sem uma real necessidade, posto que os egípcios não perseguiam os judeus, o rei Josias tentou impedir a passagem do exército do Faraó e terminou morrendo numa batalha desnecessária. Este mártir inocente era a prefiguração do futuro Messias, que também seria inocentemente imolado. Esta primeira leitura, portanto, traz uma alusão direta ao sofrimento pelo qual o Messias teria de passar e também à reação de arrependimento que ocorreria entre aqueles mesmos que lhe causaram os sofrimentos. A começar por Judas e pelos soldados responsáveis pela crucifixão.

Na segunda leitura, continuando a carta de Paulo aos Gálatas (3, 26-29), lemos o ensinamento do apóstolo acerca da consequência mais importante que o batismo nos traz, que é o fato de sermos inseridos em Cristo e, com isso, nos tornamos herdeiros de toda a promessa que Javeh fez aos Patriarcas, desde os tempos antigos. “Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. … Sendo de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.” Pelo batismo, nós nos tornamos um em Cristo e isso nos unifica também entre nós, de modo que já não há mais distinção de raça, cor, sexo, origem, classe social, a adesão a Cristo nos torna membros de um só corpo e nos faz todos irmãos. Pelos sofrimentos na cruz, Cristo abriu para nós o acesso à casa do Pai. Pelo batismo, nos revestimos de Cristo e nos tornamos merecedores de sua graça. Observem que o batismo não apenas nos une a Cristo, mas nos reveste dEle, é muito mais profundo. Nesta semana, o Papa Francisco repetiu isso no seu sermão semanal na Casa de Santa Marta, onde ele reside, ao destacar uma importante lição teológica: a porta da Igreja é o batismo, não a ordenação sacerdotal ou episcopal. Trata-se de um puxão de orelhas no clericalismo reinante na Igreja, desde há muito tempo, reforçando o papel fundamental que possuem os leigos no interior da comunidade eclesial. Lamentavelmente, nossos pastores não pensam nem agem nessa direção.

A leitura do evangelho nos mostra Jesus se revelando em particular para os apóstolos. Em Lc 9, 18-21, temos aquela conhecida passagem em que Pedro faz a definição mais perfeita de Jesus, quando responde à interrogação dele próprio sobre “quem vós pensais que eu sou?” Pedro se antecipa aos demais e responde com determinação: Tu és o Cristo de Deus. Antes, Jesus havia perguntado o que o povo falava a respeito dele. Talvez algum dos antigos profetas que ressuscitou, era essa a opinião popular a seu respeito. Então, Jesus proibiu expressamente os apóstolos de ficarem falando para o povo quem ele era realmente. E passa a dissertar sobre os detalhes do seu sofrimento futuro, usando para si mesmo a expressão “filho do Homem”: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (Lc 9, 22) Por que Jesus fala sobre si mesmo como o Filho do Homem? Aqui há uma explicação interessante. Jesus se serve de uma expressão que era bem conhecida dos judeus, que em hebraico se diz “ben Adam” e que significa genericamente um ser humano, uma pessoa. Fazendo referência ao primeiro homem bíblico, que foi tirado do limo da terra (adam), Jesus usa essa expressão para representar, ao mesmo tempo, a si próprio e a todos os seres humanos, para os quais o seu sofrimento vai servir de redenção. Nesse momento, Jesus está-se referindo diretamente à sua humanidade, assumindo ser ele também um “ben Adam”, isto é, um filho da terra, assim como todos os seres humanos são. Para ilustrar melhor esse conceito, informo aos leitores que o plural dessa expressão significa, em hebraico, humanidade. Por outras palavras, Jesus está declarando que o seu ser humano vai passar por todas essas agruras. O Filho do Homem irá sofrer perseguição pelos chefes do povo, morrerá e depois ressuscitará.

Foram várias as vezes em que os apóstolos ouviram Jesus dizer isto: sofrer, morrer, ressuscitar, mas provavelmente eles só vieram a entender isso depois que esses fatos aconteceram. Judas foi um que ficou esperando, até o último momento, que Jesus fizesse uma grande demonstração de poder e liquidasse todos os inimigos de Israel. Pedro o negou por três vezes, porque não tinha compreendido o alcance daquelas palavras (sofrer, morrer, ressuscitar). João foi outro que se aproveitou do conhecimento que tinha com pessoas do palácio de Pilatos e conseguiu entrar no pretório para tentar ver o que estava acontecendo com Jesus, pois ele também não tinha entendido o sentido daquelas palavras. Aqueles dois discípulos que iam para Emaús eram outros descrentes, sem entender o que havia acontecido. Eles também não entenderam aquelas palavras. Dos demais, não se sabe, porque as reações não ficaram registradas. O certo é que, só após a ressurreição e as seguidas aparições de Jesus no meio deles, foi que começaram a juntar as ideias e compreender o que Ele havia dito. E tudo foi confirmado, depois, em Pentecostes.

E no final deste discurso, Jesus diz ainda palavras mais incompreensíveis para eles: “quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9, 24). Se eles já não tinham entendido a primeira parte, esse final era ainda mais enigmático. Quem veio trazer a explicação desse enigma foi Paulo, na epístola aos Gálatas, lida no domingo passado (Gl 2, 20): “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim. Esta minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou.” Quem quer salvar a sua vida, isto é, quem quer viver segundo seus próprios desígnios, sem seguir os ensinamentos de Cristo, vai ao final se perder, se destruir. Mas quem se deixar guiar pelos ensinamentos de Cristo, pode parecer que está perdendo o seu tempo e a sua vida, mas pela fé alcançará a salvação. A vida na carne, a vida material não pode fechar-se sobre si mesma, buscando acumular cada vez mais, possuir cada vez mais, desfrutar cada vez mais, porque quem age assim vai perdê-la. A vida material deve ser vivida na fé e na caridade, crendo no Filho do Homem e seguindo os seus ensinamentos. O cristão não abandona a vida material, a vida na sociedade, não recusa a posse dos bens materiais, mas vive tudo isso, possui tudo isso com espírito de solidariedade, utilizando esses bens a serviço dos irmãos. Isso é possível porque, pelo batismo, nos revestimos de Cristo e assim a nossa vida material se constrói numa vivência de fé, sabendo administrar os bens materiais em vista do bem de todos.

Que a lição de Paulo aos Gálatas possa se transformar no lema da nossa vida cristã.

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domingo, 12 de junho de 2016

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 11º DOMINGO COMUM - A JUSTIÇA E A LEI - 12.06.2016

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 11º DOMINGO COMUM – A JUSTIÇA E A LEI – 12.06.2016

Caros Leitores,

Neste 11º domingo comum, destaco um tema das leituras para a nossa reflexão: a lição de Paulo aos Gálatas (2, 16) - fomos justificados pela fé em Cristo, não pela prática da Lei. Este tema está presente ainda no evangelho de Lucas (7, 36-50), no conhecido episódio da pecadora que lavou os pés de Cristo com suas lágrimas. Neste ano jubilar da Misericórdia, o Papa Francisco tem repetidamente insistido no elevado significado do perdão, tanto para aquele que perdoa quanto para quem é perdoado. Em um sermão recente, ele exortou os ouvintes a deixarem-se “misericordiar” por Deus, em todos os aspectos da vida e a serem misericordiosos com os outros em todas as atividade. “Ser misericordioso não é apenas 'um modo de ser', mas 'o modo de ser'.”

Acerca do tema da justificação, lemos na carta de Paulo aos Gálatas (2, 16) uma lição taxativa e fundamental: não é pela prática da lei que somos salvos, mas pela adesão ao compromisso proposto por Cristo. A expressão “justificados pela fé em Cristo” não deve ser entendida ao pé da letra, como se a fé fosse bastante, como se não houvesse necessidade de praticar aquilo em que se crê. Esse foi o equívoco de Lutero, quando afirmou que “sola fides” (a fé sozinha) garante a salvação. A prática da lei que não salva, no dizer de Paulo, é a religião meramente exteriorizada, que não provém de uma convicção interna nem se concretiza em gestos concretos de caridade. Praticar a lei sem uma motivação interior, apenas pelo cumprimento da obrigação, não é ato de misericórdia. A verdadeira fé deve evoluir espontaneamente para a prática da caridade com os irmãos.

Para entendermos melhor a catequese de Paulo aos Gálatas, devemos recordar um fato já abordado no domingo anterior, a respeito do que aconteceu naquela cidade. Depois que Paulo havia pregado o evangelho para eles, havia conferido o batismo e fundado a comunidade local, saiu para pregar o evangelho em outras cidades. Então chegaram à Galácia os judaizantes, ou seja, um grupo de judeus convertidos, que deram muito trabalho a Paulo, defendendo a necessidade de continuar cumprindo a Lei de Moisés, para que a mensagem de Cristo tivesse efetividade. Desse modo, era necessário manter a circuncisão, os jejuns públicos, as práticas exteriores tão do gosto dos fariseus, mesmo depois de haverem aderido ao cristianismo. E Paulo dizia a eles que o ensinamento de Cristo havia deixado tudo isso pra trás. Sobre si próprio, Paulo diz: “foi em virtude da Lei que eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus.” (Gl 2, 19), isto é, depois do evangelho de Cristo, a Lei de Moisés cumpriu o seu objetivo e caducou. Em seguida, Paulo faz a afirmação de maior força e peso: se o cumprimento da lei é que nos garante a salvação, então o sacrifício de Cristo foi vão. E complementa: “ ninguém é justificado por observar a Lei de Moisés, mas por crer em Jesus Cristo, nós também abraçamos a fé em Jesus Cristo.” Trata-se, como podemos observar, do conflito entre a lei e a justiça. Não é a lei que salva, mas a justiça de Deus. E esta justiça vem a nós através da fé em Cristo, não pelo cumprimento formalista da lei.

Na leitura do evangelho (Lc 7, 36-50), temos a muito conhecida cena da pecadora lavando os pés de Cristo, na casa do fariseu Simão. Vamos tentar imaginar a cena. Um fariseu convida Jesus para almoçar com ele. Ora, esse convite tinha tudo para ser mais uma cilada a fim de apanhar Jesus em algum flagra desrespeitando a lei, como era comum nas atitudes dos fariseus daquele tempo, para assim poderem denunciá-lo formalmente. Na casa de um fariseu, certamente estariam presentes vários outros fariseus, assim a cena teria inúmeras testemunhas. Observem que Lucas, embora seja um escritor muito detalhista, não fez comentários sobre esse aspecto da visita, porque para ele o mais importante era narrar a atitude de Jesus na ocasião. Mas nós podemos fazer um cenário mental da situação. Na minha opinião, foi algo parecido com aquele episódio em que perguntaram a Jesus se era devido pagar o tributo ao imperador romano, ou seja, o objetivo era colocá-lo numa sinuca. Neste caso da pecadora, Jesus sabia que algo estava sendo tramado dos bastidores, mas ele não poderia perder aquela oportunidade de, novamente, dar uma lição nos fariseus.

Vejamos. Jesus estava numa casa cheia de convidados, na casa de um fariseu importante na cidade, evidentemente, só podiam entrar ali pessoas autorizadas. Como foi que surgiu aquela pecadora ali ajoelhada diante dele, chorando a seus pés? Obviamente, aquilo foi uma armação, uma “convidada” especial, para colocar Jesus numa enrascada. Digamos que ela houvesse entrado sem ser convidada, não teria sido expulsa pelos empregados do anfitrião? Aquilo não era uma festa pública, era uma ceia reservada para convidados. Então, a presença da pecadora, sem dúvida, era uma provocação, uma tocaia para ver que reação Jesus teria. Lucas até revela o que estariam os fariseus pensando naquele momento: Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora.' Numa tal situação, qualquer fariseu que tivesse contato físico com uma pecadora, ficaria impuro e teria que ir, logo em seguida, fazer as abluções recomendadas pela Lei de Moisés, assim como eles não se aproximavam da mulher menstruada e também não sentavam na mesa da refeição sem ter antes lavado as mãos. Ter um contato físico, por mínimo que fosse, com uma pecadora pública, era motivo para inúmeros procedimentos purificatórios.

Pois bem. Este devia ser o pensamento de Simão e dos demais fariseus que se encontravam na sala, só esperando pra ver o que Jesus faria. Se ele afastasse a pecadora, então iria contradizer os seus próprios ensinamentos; se ele não a afastasse, estaria descumprindo a Lei de Moisés, ou seja, de um modo ou de outro, Jesus estaria se colocando numa tremenda “saia justa”. Sabendo do que se passava nos pensamentos dos presentes, Jesus tomou a iniciativa de travar um diálogo com o anfitrião sobre o credor que perdoou os devedores. Simão facilmente concluiu o que Jesus queria ouvir: amará mais o credor aquele que teve o perdão da dívida maior. Apenas para recordar, a palavra “dívida”, naquele contexto, não era somente uma obrigação a ser paga com dinheiro, mas o devedor que não tivesse com que pagar, se tornaria escravo do credor, até que tivesse pago toda a dívida. Isto é, o próprio corpo do devedor passaria a ser propriedade do credor. Assim era que os fariseus consideravam o pecador em relação a Javeh, era um devedor inadimplente, portanto, Javeh poderia matá-lo ou transformá-lo em escravo de alguém.

Mais uma vez, a estratégia de Jesus foi fantástica, reverteu totalmente uma situação que, à primeira vista, parecia ser-lhe desfavorável. E ainda ironizou na cara do fariseu: tu não me ofereceste água para me lavar (como manda a lei), tu não me deste o ósculo da paz (como manda a lei), tu não me ungiste com unguento perfumado (como manda a lei), ou seja, se havia ali alguém descumprindo a lei, era o fariseu, não Jesus. E disse, referindo-se à pecadora: esta mulher lavou os meus pés, deu muitos beijos, ungiu-os com perfume, tudo isso sem dizer uma palavra sequer, apenas chorando e demonstrando arrependimento. Os fariseus ficaram todos de queixo caído, jamais esperavam ouvir aquilo. Jesus “passou na cara” deles que aquela pecadora, além de ter cumprido o que prescrevia a lei, ainda fez tudo aquilo com o coração arrependido e essa atitude interior de conversão, de confissão da sua culpa, de demonstração da fé em Cristo era muito mais importante do que tudo que ela havia praticado externamente. Por isso, os muitos pecados dela tinham sido perdoados. Lucas não continua a história, mas certamente, depois dessa bordoada, os fariseus presentes literalmente perderam a fome.

Meus amigos, convém ainda esclarecer um equívoco que algumas pessoas têm: essa pecadora que lavou os pés de Jesus com lágrimas não é Maria Madalena. Uma tradição machista, surgida logo nos primeiros tempos, divulgou essa ideia, que os biblistas procuram esclarecer. Provavelmente, esse boato teve origem de uma rixa que havia entre Maria Madalena e os apóstolos Pedro e Paulo, por divergências doutrinárias, no início do cristianismo e isso perpassou diversas gerações de leitores, sendo dissipada com os estudos mais recentes. E uma conclusão que podemos fazer sobre o tema da justiça e a lei é que o evangelho é superior ao direito canônico. Existe, entre alguns padres e fiéis católicos, uma mentalidade burocrática de seguir à risca os preceitos canônicos. Sem tirar o valor destes preceitos, não podemos voltar a incorrer no mesmo equívoco em que incorriam os fariseus no tempo de Cristo. A lei existe para o favor do cristão, não é o cristão que vive para a lei.

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domingo, 5 de junho de 2016

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 10º DOMINGO COMUM - SENHOR DA VIDA - 05.06.2016

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 10º DOMINGO COMUM – SENHOR DA VIDA – 05.06.2016

Caros Leitores,

As leituras deste décimo domingo do tempo comum trazem duas passagens bíblicas sobre o tema do renascimento e uma comovente autobiografia. O primeiro episódio, contado no 1º livro dos Reis (17, 17), narra o milagre operado por Elias, ressuscitando o filho da viúva de Sarepta, dona da casa onde ele estava hospedado, durante a grande seca naquela região. O segundo episódio, narrado por Lucas (7, 11), fala de Jesus ressuscitando o filho de outra viúva, a de Nahim. Na segunda leitura, o apóstolo Paulo narra aos Gálatas como ele também renasceu após o seu encontro com Cristo, transformando-se de perseguidor em pregador. (Gal 1, 11).

Numa coincidência interessante, os dois casos envolvem mulheres viúvas e ambas haviam perdido seu único filho. No primeiro caso, protagonizado pelo profeta Elias, este não foi o único milagre operado por ele em favor daquela viúva que o hospedava. Embora a leitura litúrgica não contenha o milagre anterior, este é um episódio também muito conhecido. O profeta estava em missão na região norte da Palestina e, ao chegar na cidade de Sarepta, pediu hospedagem a uma mulher, que colhia lenha no mato. Ela não recusou, porém avisou a ele que não podia oferecer-lhe uma refeição, porque tudo que ela possuía era uma pequena porção de trigo e de óleo, com a qual faria o último pão para alimentação dela e do filho e depois iriam aguardar a morte. Foi quando o profeta lhe disse: dá-me este pão e nunca faltará farinha na tua vasilha. E assim aconteceu. Porém, algum tempo depois, o filho da sua anfitriã contraiu grave enfermidade e veio a falecer. Então, a mãe se queixou para Elias: por que vieste aqui trazer a morte, eu que te forneci hospedagem. E Elias ficou deveras desapontado e cobrou de Javeh uma atitude: por que vens afligir a viúva da casa onde habito, atingindo o seu filho? Rogo-te que devolvas a vida a essa criança. E assim Elias operou o segundo milagre em favor daquela mulher. O episódio demonstra que Javeh é o Senhor da vida, porque só quem tem tal poder é capaz de criá-la e de restitui-la.

No outro caso, narrado no evangelho de Lucas, não houve nenhum pedido, o próprio Jesus tomou a iniciativa de ressuscitar o filho da outra viúva, sabendo tratar-se de seu filho único. E aquela notícia se espalhou por toda a região: um grande profeta está entre nós. Obviamente, isso causara um terrível ódio nos fariseus, que acompanhavam os passos de Jesus. Tal como no episódio do profeta Elias, Jesus demonstrava à multidão que o seguia que ele também era Senhor da vida, para embaraço dos fariseus que não acreditavam ser ele o filho de Deus. Nos dois episódios, destaca-se claramente que o Pai e o Filho são ambos o Deus da vida. Isso deve ser entendido tanto no sentido literal quanto no sentido figurado. O nosso Deus é maior do que a morte, Ele pode fazer os mortos ressuscitarem. O exemplo que ocorreu com esses dois jovens é o prenúncio do que acontecerá com todos os mortais. Se até para os não crentes, como é o caso dos jovens beneficiados com os milagres de Elias e de Cristo, a ressurreição ocorreu, quanto mais isso ocorrerá para aqueles que acreditam.

E vejam que estamos falando de ressurreição, não de salvação. A ressurreição virá para todos; a salvação, para os que praticam o evangelho de Cristo. E o que é o evangelho de Cristo? É o amor, que está resumido naqueles dois mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. No domingo passado, falamos sobre o sermão do Papa Francisco, no qual ele afirmou que até os ateus, que fazem o bem, serão salvos. O batismo e a pertença à Igreja são caminhos que nós temos para alcançar a salvação, mas não são exclusivos. Os exemplos das leituras de hoje, envolvendo dois jovens desengajados reforçam o que foi dito no domingo passado, acerca do milagre praticado por Cristo na pessoa do servo do centurião, também um não crente. O Papa não estava trazendo nenhuma novidade ao afirmar aquilo, apenas recordando que os não crentes também terão o seu prêmio, se praticarem a caridade de Cristo. E os crentes, do mesmo modo, pois não basta ter atestado de batismo. Jesus disse mais de uma vez: não é aquele que diz: Senhor, Senhor... que entrará no céu, mas o que cumpre a palavra de Deus. Esta é uma verdade simples, preciosa e muito esquecida. A salvação não se alcança pelo número de terços rezados, pelo número de missas assistidas, pelo número de comunhões recebidas, pela quantidade de sinais da cruz praticados. Tudo isso é valioso e importante, mas se não for conjugado com o cumprimento do mandamento de Cristo, não terá valor.

É oportuno destacar também que o nosso Deus tem uma predileção pelos mais necessitados. Imaginemos a situação de uma viúva, ou seja, uma mulher que já havia perdido o marido e que depois perde também o seu único filho. Numa época em que as mulheres eram consideradas economicamente inativas, como elas iriam sobreviver? Cristo, que não veio negar a lei antiga, mas cumpri-la com perfeição, repetiu o mesmo gesto do profeta Elias, que vivera cerca de mil anos antes d'Ele, restituindo a vida ao filho único de uma viúva. Apenas para esclarecer, a situação das mulheres viúvas, na antiguidade, era desesperadora, pois devido à prevalência da linhagem masculina (patriarcalismo), a herança do falecido era distribuída entre os filhos e estes não tinham obrigação de sustentar a viúva, que muitas vezes nem era a mãe deles e também porque tinham as próprias famílias. Resultado: a viúva ficava numa situação deplorável. Somente na época do imperador Justiniano (século VI depois de Cristo) esta situação mudou, quando este sábio governante determinou que 25% dos bens do falecido seriam destinados à viúva. Na época de Cristo, as viúvas faziam parte daquela parcela da população mais necessitada e para esses Cristo tinha uma especial predileção. Tanto assim que ressuscitou o filho da viúva sem que ela Lhe pedisse, para mostrar aos seus seguidores que ele, assim como o Pai, são Senhores da vida.

A autobiografia ou o renascimento de Paulo, narrado na epístola aos Gálatas (1, 11-19), é ainda mais comovente, porque é narrado em primeira pessoa. Paulo fala de si próprio, de como perseguia com todas as forças o cristianismo e ganhava pontos no farisaísmo com isso. Mas depois que Cristo o chamou, aquele Paulo perseguidor morreu e surgiu um novo Paulo evangelizador. Faz pouco tempo, eu li numa reportagem que aquela luz incandescente que derrubou Paulo do cavalo, no caminho de Damasco, teria sido um a queda de um meteorito naquele local. Não sei por que certas pessoas se esforçam para descaracterizar os fatos miraculosos, tentando relacionar com causas naturais. Mas ainda que assim o fosse, naquela ocasião específica e com o resultado que operou, aquela luz foi direcionada por Cristo, para selecionar uma pessoa de cultura, a fim de pregar o evangelho, pois Ele sabia que os seus apóstolos galileus não seriam escutados, quando fossem encarar o mundo da cultura greco-romana. Ademais, Paulo declara expressamente o que ele viu: o evangelho que eu prego a vocês, eu não recebi de homem algum, mas por revelação de Cristo (Gal 1, 12). Somente três anos depois, ele foi encontrar-se com Pedro, em Jerusalém, antes de iniciar suas viagens pelo mundo grego. Sobre o seu renascimento, ele assim relatou: “Quando, porém, aquele que me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça se dignou revelar-me o seu Filho, para que eu o pregasse entre os pagãos, não consultei carne nem sangue nem subi, logo, a Jerusalém para estar com os que eram apóstolos antes de mim.” (Gal 1, 15-17) Foi um verdadeiro batismo de luz, pelo qual Paulo recebeu toda a revelação diretamente de Cristo, nem precisou que os outros apóstolos lhe repassassem o que haviam aprendido. Os evangelistas escreveram a tradição popular do que se contava a respeito de Jesus, seus ensinamentos, seus milagres. Mas Paulo escreveu na verdade uma primeira reflexão teológica, unindo o conhecimento que recebeu de Cristo com a sua formação na cultura grega, surgindo daí as primeiras lições da teologia cristã, que veio a se desenvolver também no evangelho de João e depois, com os Padres gregos dos primeiros séculos (a chamada Patrística). O cristianismo é fruto dessa conjugação entre a mensagem cristã e o pensamento culto grego, daí porque Sto Tomás de Aquino, anos mais tarde, adotou o pensamento de Aristóteles como suporte teórico para desenvolver a Summa Theológica. A matriz grega, que estava presente na doutrina cristã desde o início, combinou perfeitamente com a filosofia aristotélica predominante na Idade Média.

Meus amigos, vejam isso: Paulo utilizou a cultura grega para ensinar o cristianismo aos povos gregos e romanos. Sto Tomás utilizou a filosofia medieval para ensinar o cristianismo na Europa. Para ensinar o cristianismo na nossa cultura, é preciso que saibamos compreender a mensagem de Cristo dentro do nosso meio cultural. Este é o nosso desafio como pessoas cultas: transmitir a mensagem de Cristo de acordo com a nossa cultura. Fazer teologia não é repetir simplesmente o pensamento de Sto Tomás, como se nós fôssemos europeus e vivêssemos na Idade Média. Muitos católicos (inclusive membros da hierarquia eclesiástica), infelizmente, não compreendem isso.

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