sábado, 27 de setembro de 2025

COMENTARIO LITURGICO - 26 DOMINGO COMUM - 28.09.2025

 

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 26º DOMINGO COMUM – RICOS E POBRES – 28.09.2025


Caros Confrades,


Nas leituras litúrgicas deste domingo, encontramos uma sequência da mesma temática do domingo anterior: a responsabilidade na administração dos bens materiais. A imagem anterior foi a do infiel administrador com sua elogiável esperteza. Agora, Jesus usa a imagem do rico esbanjador, contando aos fariseus a parábola do homem, em cuja casa abundavam futilidades, fazendo o contraponto com o vizinho pobre, que não tinha nem o básico para viver. Mas Jesus não afirma que o rico deveria repartir os seus bens com o pobre vizinho e nem diz que o acúmulo da riqueza nas mãos de algumas pessoas seja algo intrinsecamente mau. Contudo, adverte que os bens dos mais abastados devem ser postos a serviço dos mais necessitados, pois eles são apenas administradores da riqueza.


A primeira leitura, retirada do Profeta Amós, contém uma advertência que é muito apropriada para os dias atuais, quando a polarização do embate político põe em evidência a disparidade existente entre as classes sociais. Este profeta, que viveu cerca de 800 anos antes de Cristo, era um agricultor, uma pessoa de baixa instrução e experimentou uma situação parecida com a de hoje, em que há grande concentração de riqueza nas mãos de uns poucos, enquanto a grande maioria da população sofre a falta dos bens essenciais. A diferença é que o governo hebreu não distribuía “bolsas” nem tinha “programas” de ajuda financeira para melhorar a situação da pobreza e muitos chegaram a ser escravizados, por não terem como pagar as dívidas. Em tempos passados, a inadimplência podia transformar o devedor em escravo do credor, o que era uma situação desesperadora. Daí a grave advertência do Profeta contra “Os que dormem em camas de marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho e novilhos do seu gado; os que cantam ao som das harpas, ou, como Davi, dedilham instrumentos musicais; os que bebem vinho em taças, e se perfumam com os mais finos ungüentos e não se preocupam com a ruína de José. ” (Amós 6, 4-6) O reino de Israel (naquela época, o povo hebreu estava dividido em dois reinos – Israel ao norte e Judá ao sul) passava por um momento de prosperidade, tendo vencido os inimigos e auferido grandes riquezas, no entanto, apenas alguns privilegiados usufruíam disso, em detrimento da maioria da população. Por isso, o Profeta dirige sua ira contra a elite dos hebreus os que dormem em camas de marfim e deitam-se nas almofadas para se banquetear, sem tomar conhecimento da carência dos demais cidadãos. Vemos que Amós não condena a riqueza dos israelitas abastados, o que ele recrimina é a falta de solidariedade com os carentes, com aqueles que estavam sendo escravizados por não poderem pagar suas dívidas. Sendo Amós um agricultor, ele conhecia bem a situação dos camponeses. Deus o chamou a profetizar por causa da sua vida justa, mas também por causa do conhecimento que ele possuía sobre a situação dos mais necessitados. Porque sua pregação incomodava as autoridades políticas e religiosas, Amós foi expulso da cidade, não sem antes rogar uma praga no Sumo Sacerdote que o expulsara, além de anunciar a ruína que viria sobre eles.


Na segunda leitura, retirada da primeira carta de Paulo a Timóteo, o Apóstolo continua chamando a atenção do seu discípulo para manter a fidelidade da sua vocação. “Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e pela qual fizeste tua nobre profissão de fé diante de muitas testemunhas.(1Tim 6, 12) E acrescenta: “guarda o teu mandato íntegro e sem mancha até a manifestação gloriosa de nosso Senhor Jesus Cristo.(vers. 14) Timóteo fora consagrado bispo por Paulo, para cuidar da igreja de Éfeso, que era uma comunidade cheia de muitas tensões, por causa da grande força dos pagãos do lugar. Paulo exorta Timóteo a guardar a coerência das suas atitudes, não se deixando levar pelas pressões que viesse a sofrer da parte dos poderosos. Consta na história que Timóteo terminou os seus dias sendo apedrejado por esses infiéis, por questões religiosas. Fiel a Paulo e a Cristo, ele morreu e não fraquejou na sua fé.


Temos no evangelho de Lucas (16, 19-31) aquela conhecida parábola de Cristo sobre o rico esbanjador frente ao pobre e pestilento mendigo, que esmolava na sua rua. Como de costume, a parábola narrada por Jesus era dirigida aos fariseus e Lucas realça os detalhes, para chamar a atenção dos seus leitores. É interessante observar aqui duas coisas: 1. esta parábola consta apenas no evangelho de Lucas, devendo ter sido colhida numa fonte que os demais evangelistas não conheceram; 2. Jesus não diz o nome do rico, apenas do pobre (Lázaro). É costume mencionar-se o “rico epulão” e isso pode levar alguém a imaginar que este é o nome dele, no entanto, “epulão” significa “comilão”, palavra derivada do verbo latino “epulor” (banquetear-se). São Jerônimo, na sua tradução da vulgata, escreveu que o rico se banqueteava diariamente (dives epulabatur cotidie). Jesus faz um paralelo bem contrastante entre os dois personagens, para chamar a atenção sobre o abismo social que os distanciava. Um deles possuía bens em demasia, enquanto o outro passava fome; o primeiro tinha uma casa luxuosa, o outro era um morador de rua; o primeiro era saudável, alimentava-se bem, já o outro era cheio de úlceras e esquelético de fome. A pedagogia dos contrastes, adotada por Jesus, tinha como objetivo chamar a atenção para a injustiça da riqueza que não é utilizada para atenuar o sofrimento do pobre. Tal como o profeta Amós, muitos séculos antes, Jesus não condenou o rico pelo fato de ele ser rico, mas sim por causa do seu egocentrismo, da sua falta de solidariedade. O pobre desejava pelo menos as migalhas que caíam da sua mesa, mas nem isso lhe davam. (Lc 16, 21) Na época de Jesus, os fariseus eram os ricos do povo, assim como no tempo de Amós, eram os sacerdotes de Israel que faziam parte da classe social mais elevada. Tal como Amós bradava contra o sacerdote Amasias, que terminou por expulsá-lo da cidade, Jesus clamava para que os sacerdotes judeus saíssem da sua redoma de autossuficiência e chegassem mais próximo do povo, que eles dirigiam, deixando-os assim cada vez mais irados. Tanto quanto a pregação de Amós incomodava o rei e os sacerdotes de Israel, também a exortação de Jesus incomodava os sacerdotes e doutores da lei do seu tempo. Por fim, nem os ricos do tempo de Amós se converteram, nem tampouco os fariseus, e ambos tiveram como resultado a destruição das suas cidades pelos inimigos.


Merece uma referência também aqui neste contexto o diálogo “post mortem” do rico com Abraão, junto de quem Lázaro foi morar, e que padecia no local dos tormentos. O rico fez dois pedidos, ambos recusados: 1. manda que Lázaro molhe o dedo e me refresque a língua; 2. manda que Lázaro vá avisar meus irmãos. Quanto ao primeiro pedido, Abraão disse ser impossível, porque há um grande abismo, intransponível entre eles; quanto ao segundo, Ele diz que os irmãos do rico não acreditariam em Lázaro. Aqui nós podemos fazer as seguintes reflexões: a) o rico não cedeu suas migalhas ao pobre, no entanto, queria que este fosse refrescar a sua língua com uma gota d'água, ele se sentia merecedor, sem ter realizado nenhuma ação meritória; b) o rico demonstrou solidariedade com os irmãos dele e queria que Lázaro fosse avisá-los, porém não teve solidariedade com o mendigo em sua porta; c) os fariseus, assim como aquele rico, não davam ouvidos aos profetas e às escrituras, mas criavam suas próprias regras religiosas, enquanto Jesus estava ali (como se fosse Lázaro que veio avisar) e eles não lhe davam qualquer crédito; d) o “lugar dos tormentos” (“inferno”, segundo o texto latino) não é um mar de fogo com o demônio empunhando um tridente, como aparece nas gravuras medievais, mas era a própria consciência do rico, que ardia em arrependimento.


Podemos ainda avançar nessa linha de raciocínio, para concluir o seguinte: Jesus disse que havia um grande abismo entre o local do gozo e o local dos tormentos, mas quanto o rico pediu para que Lázaro fosse avisar aos irmãos ainda vivos, Jesus não disse que isso era impossível, disse apenas que eles não acreditariam. Esticando um pouco essa interpretação, podemos alvitrar que Jesus não se posicionou contrariamente à possibilidade de comunicação entre as pessoas que estão no mundo do além com os viventes, apenas referiu-se à incredulidade destes. “`Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos'.(Lc 16, 31) Isso é apenas um palpite, porque sabe-se que Lucas não escutou as pregações de Jesus, então não se pode dizer que ele tenha ouvido Cristo dizer isso. Considerando, por outro lado, que os evangelhos foram escritos com base em documentos produzidos na comunidade da época (as fontes esparsas), fica impossível afirmar-se com certeza que tenha sido esta a mensagem de Cristo ou se foi o entendimento da comunidade onde o texto original foi escrito. De qualquer forma, podemos concluir que as primeiras comunidades cristãs não viam como impossível a comunicação com o outro mundo, como posteriormente passou a ser afirmado pela doutrina teológica. A cultura grega, dominante no ambiente em que esse texto foi escrito, via essa comunicação entre o mundo dos mortos com o mundo dos vivos como uma possibilidade. Os filósofos gregos órficos faziam “sessões secretas” onde, segundo eles, isso acontecia.


Mas, voltando ao tema básico da liturgia, a lição que retiramos das leituras deste domingo é o uso responsável e caritativo dos bens que Deus nos dá, ou seja, a solidariedade com os mais carentes.


Cordial abraço.

Antonio Carlos


sábado, 20 de setembro de 2025

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 25º DOMINGO COMUM - 21.09.2025

 

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 25º DOMINGO COMUM – SERVIR A DOIS SENHORES – 21.09.2025


Caros Confrades:


As leituras litúrgicas deste 25º domingo comum colocam para a nossa reflexão um tema político muito apropriado para os nossos paradigmas típicos da atividade política e social: a honestidade dos dirigentes públicos, em todas as esferas do poder estatal. Isso ocorre não apenas no Brasil, mas é uma consequência da tecnologia de comunicação global, através da qual os cidadãos de todo o mundo discutem e exigem a probidade dos seus representantes nas casas legislativas. A liturgia deste domingo põe em destaque um tipo censurável de conduta que, embora lamentável, é bastante frequente em alguns homens e mulheres ligados à administração pública: aproveitar-se do mandato eletivo para promover a locupletação própria. Daí a advertência de Jesus: ninguém poderá servir de modo digno a dois interesses – o público e o privado.


Na primeira leitura, retirada do livro do Profeta Amós (Am 8, 4-7), o discurso do profeta até parece que se refere à caricatura do “político profissional” do nosso país, sempre mais interessados em esfolar os concorrentes e enganar os eleitores, em proveito próprio. Tudo vale para conseguir maior número de sufrágios, até mesmo eliminar o adversário moralmente ou pior, fisicamente. No tempo do profeta Amós, ainda não havia os modelos políticos do capitalismo nem do comunismo, nem a economia de mercado nem a globalização, mas um sistema social primitivo, baseado na teocracia, e um sistema econômico também arcaico, fundado em grande parte na modalidade do escambo. Mas lamentavelmente as práticas de corrupção e de engodo da população já existiam, assim como as práticas comerciais escusas de fraudar balanças, diminuir medidas, inflacionar o preço para conseguir lucrar sempre mais. Portanto, desde os tempos do Profeta Amós, cerca de 800 anos antes de Cristo, a cobiça dos governantes e dos comerciantes já era alvo de reprovação pelos arautos de Javeh. Isso mesmo continuou a ocorrer nos séculos seguintes, dominados pela tradição romanista e depois pelo mercantilismo, que se instalou a partir do Renascimento. As mesmas práticas reprováveis de certos líderes sociais, que frequentemente são noticiadas nos dias de hoje, já ocorriam naqueles tempos. No livro de Amós, o profeta condena a injustiça social e a exploração gananciosa dos mais humildes. Fazendo-se as contas, podemos avaliar há quanto tempo esse tipo de prática vem sendo condenada publicamente e apesar disso nunca deixou de ser vergonhosamente replicada.


Na segunda leitura, retirada da carta de Paulo a Timóteo (1Tim 2, 1-8), o Apóstolo exorta à comunidade para que reze pelos administradores, pelos governantes, pelos que ocupam altos cargos, pois Deus quer que todos sejam salvos. Verifica-se, nas entrelinhas das palavras de Paulo, que os administradores públicos eram tidos por pessoas inescrupulosas, cuja ação não era agradável a Deus, daí porque era necessário orar por eles, para que cheguem ao conhecimento da verdade e sejam salvos. A preocupação de Paulo com os dirigentes da comunidade se faz sentir na necessidade de que os cristãos que ocupam cargos elevados devem dar exemplo aos não cristãos, para que a sua virtude seja imitada por estes. E para que isso aconteça, é importante a oração da comunidade em seu apoio. Naquela antiga oração que rezávamos após a bênção do Santíssimo Sacramento, havia um trecho que dizia assim, depois de orar pelo Papa, pelos Bispos, pelos administradores eclesiásticos: “rezemos por todas as pessoas constituídas em dignidade, para que governem com justiça”. E os vários documentos expedidos pelo Magistério da Igreja ao longo dos últimos séculos, desde o Papa Leão XIII, com a encíclica Rerum Novarum, tem dado continuidade a essa missão iniciada por Paulo no sentido de orientar os governantes no caminho da verdadeira justiça social. O Papa Paulo VI, na encíclica Populorum Progressio (1967) escreveu uma frase emblemática sobre a situação econômica na metade do século XX: o desenvolvimento é o novo nome da paz. A situação das nações em relação ao desenvolvimento de cada uma é o mecanismo de equilíbrio para a manutenção da paz mundial. De um modo indireto, isso quer dizer que a consciência dos administradores públicos, sobretudo dos países mais ricos, será determinante para que todas as nações vivam em paz. E podemos ver diariamente isso, na prática, e constatar o quanto o Papa estava com a razão. As guerras que eclodem em diversas partes do mundo são o contraponto dessa doutrina e vêm para comprovar a sua validade.


No evangelho de Lucas, lemos hoje a conhecida parábola do administrador infiel. Esta parábola contém um forte paradoxo, destacando a pedagogia do contraditório, pois ao mesmo tempo em que Cristo elogia o comportamento do administrador inescrupuloso, Ele está querendo nos dizer o oposto, ou seja: não façam assim como ele. No tempo de Cristo, a parábola se dirigia, como na maioria das vezes, aos fariseus e aos chefes do povo, que agiam de forma perdulária e opressora, transformando a religião judaica num emaranhado de regras e proibições, em que a prática exterior da religião era mais valorizada do que a intencionalidade do crente. No evangelho de Mateus (cap 23), Cristo faz essa mesma advertência com outras palavras, dizendo que os fariseus atam pesadas cargas e as colocam nos ombros do povo, enquanto eles mesmos não ajudam nem com o dedo para aliviar o peso. Noutro contexto, vemos repetida aí a mesma reprovação feita pelo Profeta Amós contra os administradores do tempo dele. E podemos encontrar semelhante atitude de reprovação no episódio em que Jesus expulsa do templo aqueles que vendiam rolinhas e carneiros para o sacrifício, chicoteando-os e quebrando suas bancas. “Ninguém pode servir a dois senhores. Porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”, diz o evangelista Lucas (16, 13).


Apesar dessa atitude de reprovação, Jesus utiliza o argumento do raciocínio inverso para elogiar o mau administrador, destacando a sua criatividade e inteligência: os filhos das trevas são mais hábeis nos seus negócios do que os filhos da luz (Lc 16, 8). E diz mais: usai o dinheiro injusto para fazer o bem... pois se não fordes fiéis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? (Lc 16, 9-11). Jesus está contrapondo as coisas da terra (dinheiro injusto) com as coisas do céu (verdadeiro bem). Aquele que possui bens materiais e/ou desfruta de poder social tem em mãos um 'dinheiro injusto', porque toda acumulação de bens nas mãos de alguém é resultado da falta daqueles bens nas mãos de outrem. Contudo, isso não é de todo mau, desde que a administração desses bens “injustos” esteja voltada para a satisfação das necessidades dos irmãos carentes. Este é o grande desafio que se põe para o cristão que administra bens particulares ou públicos. Jesus sabia que a sociedade sempre seria desigual, quando ele disse em João (12, 8): “pobres sempre tereis entre vós”. Ele sabia que mesmo a divulgação da sua doutrina não acabaria com as desigualdades sociais, mas, por outro lado, isso não seria empecilho para que os cristãos tivessem em suas mãos a responsabilidade de administrar bens materiais. Daí Ele dizer em Lucas (16, 8) que o dono do negócio elogiou a esperteza do seu administrador. Deus quer que nós tenhamos essa mesma “esperteza” com os bens injustos para que saibamos utilizá-los com sabedoria e disponibilizá-los em benefício dos pobres da comunidade.


A advertência de que “ninguém pode servir a dois senhores” não significa que existe uma incompatibilidade absoluta entre amar a Deus e administrar bens materiais, mas sim que o amor a Deus não pode competir com o amor desses bens, pois o amor a Deus não pode ter concorrência. A propriedade e a administração de bens materiais não nos deve desviar do amor a Deus, mas sim fazer-nos amá-lo ainda mais e isso ocorre quando os bens possuídos são postos a serviço da caridade e do amor ao próximo. Aquele cujo Deus é a riqueza ou o poder, este sim estará desvirtuando os bens recebidos e colocando-os a serviço do próprio egoísmo, tal como fez o mau administrador. Podemos dizer, em resumo, que a diferença entre o bom e o mau administrador está sintetizada naquele critério que Jesus já ensinara aos apóstolos e a todos nós, através da palavra do evangelista Mateus (6, 21): “porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Se o nosso tesouro estiver em Deus, o nosso coração não se apegará ao dinheiro injusto, mas nós saberemos administrá-lo para fazer amigos que nos receberão, depois, na morada eterna.


Que assim saibamos compreender a esperteza dos filhos deste mundo para conseguirmos colocá-la em prática no exercício da nossa fé.


Cordial abraço a todos.

Antonio Carlos.

sábado, 13 de setembro de 2025

COMENTARIO LITÚRGICO - 24 DOMINGO COMUM - FESTA DA SANTA CRUZ - 14.09.2025

 

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 24º DOMINGO COMUM – A SANTA CRUZ – 14.09.2025


Caros Confrades,


Na liturgia deste domingo, 24º do tempo comum, as celebrações estão voltadas para a glorificação da cruz de Cristo. Fazendo o contraponto com a liturgia da sexta feira santa, na qual se celebra a morte de Cristo na cruz, portanto, os atos litúrgicos estão voltados para a paixão do Senhor. A diferença está em que, na sexta feira santa, o tom da festa é um silêncio circunspecto, apresentando a cruz como instrumento de suplício, enquanto nesse dia 14 de setembro, muda o tom da festa, exalta-se a cruz numa visão de alegria, porque foi através dela que veio para nós a salvação. É uma celebração litúrgica que remonta ao século IV e também é comemorada na mesma data pelas igrejas orientais com ritual solene, tendo precedência sobre a liturgia dominical.


Fora do contexto dos ritos graves que circundam o tríduo pascal, a festa da Exaltação da Santa Cruz foi instituída no ano 335, quando o imperador Constantino mandou erguer uma basílica sobre o monte Gólgota, no mesmo lugar onde Jesus fora crucificado, tendo sido colocada nesse templo a “vera cruz”, ou seja, aquela cruz em que Jesus foi crucificado. Já haviam se passado mais de 300 anos da morte de Cristo, quando os cristãos conseguiram encontrar a “vera cruz”, realizando escavações nos arredores de Jerusalém. Os trabalhos de busca levaram a diversas cruzes, porque era muito comum a utilização desse instrumento de morte na época da dominação romana. De acordo com a tradição, a “vera cruz” foi reconhecida por uma “metodologia” bastante intuitiva: com as várias cruzes enfileiradas uma ao lado da outra, teria sido colocado um cadáver de um homem sobre cada uma delas e, quando isso foi feito na verdadeira cruz, o homem milagrosamente reviveu. Muito provavelmente, essa história faz parte daquele “folclore” que vai sendo transmitido de geração em geração, a ponto de não se saber mais de onde se originou. Mas, por qualquer que tenha sido o método, os fiéis da época, liderados pelo imperador romano Constantino e pela mãe deste, Santa Helena, iniciaram a tradição de adorar essa cruz, que continua sendo reconhecida como a verdadeira. E mesmo que não seja, a sua antiguidade e a glorificação que vem recebendo ao longo de tantos séculos faz dela um verdadeiro ícone da fé cristã.


As leituras litúrgicas desta data fazem uma alusão à imagem da cruz associada à restauração da vida. Na primeira leitura, do livro dos Números (21, 4-9), relata-se o episódio da serpente de bronze amarrada a uma estaca, por ordem de Javeh. O título deste livro em hebraico diz-se Bamidbar, que significa literalmente 'No deserto'. Na tradução para a língua grega, o título do livro foi modificado para Arithmoi (aritmética, números, contagem), porque no seu texto constam dois recenseamentos do povo, feitos durante a sua trajetória pelo deserto. Neste livro, encontram-se também muitos preceitos práticos, que constituem uma espécie de tratado legislativo do povo hebreu. E é também neste livro, no cap. 6, 24, que consta aquela bênção que São Francisco costumava usar para abençoar seus frades: O Senhor te abençoe e te guarde, mostre para ti o Seu rosto e tenha piedade de ti... Pois bem. Na leitura da liturgia de hoje, relata-se o episódio em que os hebreus maldiziam Moisés por tê-los tirado do Egito e tê-los levado por uma trajetória sem fim pelo deserto, com toda a sorte de privações. E amaldiçoavam também a Javeh, que mandou serpentes venenosas para castigarem o povo maledicente. O povo se arrependeu e pediu a Moisés que intercedesse por eles. Então, Javeh ordenou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze e a pendurasse numa vara comprida. Aquele que fosse mordido por uma serpente e olhasse para aquela feita de bronze, ficaria curado. Então, a figura da serpente de bronze suspensa significou para os hebreus um instrumento de salvação. Muito tempo depois, Jesus irá retomar esse episódio para comparar com a sua própria paixão.


Na segunda leitura, da carta aos Filipenses (2, 6-11), Paulo relembra àqueles cristãos que Cristo deixou de lado sua condição divina e assumindo plenamente a sua humanidade, humilhou-se ao máximo, sendo morto numa cruz, que era naquela época um suplício aplicado apenas aos escravos e aos mais terríveis delinquentes. Daí Paulo dizer que Cristo esvaziou-se a si mesmo, isto é, escondeu sua divindade por trás da sua humanidade e, mais ainda, escondeu essa humanidade por trás da condição humana mais vil, permitindo-se um tipo de morte infame e humilhante. Mas Ele fez isso justamente para que o Pai o exaltasse, porque foi para isso que ele assumiu a condição humana. Por isso, o Pai O colocou acima de tudo e Lhe deu um nome que está acima de todo nome. E com isso, Cristo transformou aquele instrumento de suplício num recipiente de gozo, transformou aquele aparelho de sofrimento num capitel de regozijo, aquele aparato de humilhação num trono de exaltação. Depois disso, todo joelho que há no céu, na terra e embaixo da terra se dobrará em sua homenagem. Foi certamente esse hino de exaltação da cruz, composto por Paulo na carta aos Filipenses, que motivou a festa litúrgica desta data.


Na leitura do evangelho de João (3, 13-17), Jesus recorda a figura da serpente erguida na haste por Moisés no deserto para comparar isso a Ele próprio, no contexto de sua conversa com Nicodemos. Apenas o evangelista João narra esse episódio. Nicodemos era um mestre da lei, portanto, um fariseu especialista nas escrituras, que acreditava em Jesus, porém não podia declarar isso publicamente, por receio de represália dos demais, por isso, foi ter com Jesus à noite, às escondidas, e confessou a ele a sua fé. Nicodemos ficou embaraçado quando Jesus disse que somente quem renascesse poderia ver o reino de Deus. Renascer? Mas eu já sou um adulto, como pode ser isso? Nicodemos pensou logo no nascimento biológico, porém Jesus falava do renascimento em espírito. Por isso, Jesus fez até uma ironia com ele: “tu és mestre da lei e não sabes disso?” Sim, ele não sabia mesmo. Então, Jesus usou como exemplo uma figura conhecida por Nicodemos: a serpente de Moisés. Lembra de quando Moisés suspendeu uma serpente no deserto, para que todos os que a mirassem fossem salvos? Pois assim acontecerá com o Filho do Homem. Convém que seja suspenso também, de modo que quem olhar para ele e nele crer tenha a vida para sempre. A figura da serpente erguida por Moisés fora um símbolo que preconizava a elevação de Jesus na cruz com o mesmo objetivo: trazer a salvação aos que olharem para Ele com fé.


Meus amigos, vejamos aqui uma situação de aparente contradição. Javeh havia proibido os hebreus de fazerem ídolos ou imagens d'Ele próprio, pois Ele devia ser adorado em espírito e em verdade. No entanto, neste caso relatado em Bamidbar, o mesmo Javeh mandou que Moisés fizesse um “ídolo” de bronze em forma de serpente. Não que Javeh se comparasse à figura de uma serpente, mas de todo modo, a mesma serpente que gerava a morte também passou a gerar a vida. Somente Javeh é o senhor da vida, então aquela figura idolatrizada da serpente funcionava como uma mediação entre a morte e a vida, para os que n'Ele acreditassem. Vemos com isso que Javeh não era totalmente contrário à feitura de imagens, Ele não queria ser retratado nelas. E o fato de Jesus, muito tempo depois, ter retomado a figura da serpente de bronze como portadora da vida para comparar a Si próprio, elevado numa haste de madeira, avaliza a ideia de que a confecção de imagens não é proibida, de forma absoluta, por Deus, mas as imagens devem ser símbolos e sinais daquelas verdades que elas representam. Javeh não mandou que ninguém adorasse a serpente, mas apenas que olhasse para ela com o coração contrito. Essa é a mesma atitude que o cristão deve ter diante das imagens sagradas, não se detendo nas figuras em si, mas servindo-se delas para melhor vislumbrar os sinais que elas representam.


É curioso observar que muitas pessoas invocam textos bíblicos para afirmarem que Deus não gosta das imagens e as proibiu. Esquecem de invocar também a imagem da serpente como mediadora da salvação. É o caso de dizermos o mesmo que Jesus disse a Nicodemos: tu és um mestre da lei e ignoras isso? Ou seja, buscas na escritura apenas aquelas passagens que favorecem a justificativa do teu ponto de vista? Ficas preso às palavras e expressões da lei e não consegues descobrir nelas o sentido mais profundo da sua mensagem? É por isso que toda interpretação fundamentalista da escritura deve ser evitada. É por isso que já afirmei, nesses escritos, por diversas vezes: não basta ler a Bíblia, é necessário estudar a Bíblia, aprofundar o seu conteúdo, compreendê-la no seu contexto histórico e cultural, para que possamos tentar descobrir a sua mensagem verdadeira.


A festa da Santa Cruz é sequenciada pela festa de Nossa Senhora das Dores, nesta segunda feira, dia 15 de setembro. Ao falar na cruz e morte de Cristo, não podemos esquecer que o sofrimento de Maria está também associado à cruz e é um fator de extraordinária importância no contexto dos eventos da história da salvação. Mãe das Dores, rogai por nós.


Cordial abraço a todos.

Antonio Carlos

sábado, 6 de setembro de 2025

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 23º DOMINGO COMUM - 07.09.2025

 

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 23º DOMINGO COMUM – O DESAPEGO – 07.09.2025


Caros Confrades,


Neste 23º domingo comum, a leitura do evangelho proclama a necessidade do desapego dos bens materiais, ou seja, ser pobre em espírito, esta que deve ser a atitude padrão de quem quer ser discípulo de Jesus. Desapegar não significa renunciar ou desprezar os bens materiais, mas colocá-los no segundo plano, deixando em primeiro plano os bens espirituais. No caso, o desapego não abrange apenas os bens de consumo e os objetos de valor, mas tudo aquilo que, de alguma maneira, impede ou dificulta a nossa vida cristã, inclusive as relações familiares. Este tema está presente também nas outras leituras: do livro da Sabedoria e da carta de Paulo a Filêmon.


Na primeira leitura, retirada do livro da Sabedoria (9, 13-18), o autor destaca uma doutrina que muito se assemelha com a teoria do filósofo grego Platão, quando ele contrapõe o mundo da matéria e o mundo das ideias. No versículo 15 do cap 9, lemos: “porque o corpo corruptível torna pesada a alma e, tenda de argila, oprime a mente que pensa.” A imagem do corpo como “tenda de argila que oprime a alma” faz eco com a narração da criação do homem, de acordo com o Gênesis, quando Deus fez o homem do limo da terra. O peso da matéria corporal impede a alma de alcançar os desígnios profundos de Deus. É o que diz no vers. 16: “Mal podemos conhecer o que há na terra, e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas mãos; quem, portanto, investigará o que há nos céus?” É curioso como essa doutrina filosófica, conhecida como dualismo, era comum entre os povos daquela época. O dualismo teve uma importância muito grande nos inícios do cristianismo, sendo defendida por vários teólogos cristãos, estudiosos de Platão. Santo Agostinho foi o principal deles e, anteriormente, ele tinha simpatia até pela doutrina da reencarnação, também ensinada por Platão, vindo depois a abandoná-la, pois observou que era incompatível com o cristianismo. Grande parte da catequese católica tradicional foi elaborada com base nessa doutrina, que ainda está presente também no catecismo oficial atual. Contudo, na época contemporânea, com a influência da filosofia fenomenológica, tanto a teoria de Platão quanto a de Aristóteles ficaram superadas com o conceito da subjetividade intencional, que procura unir corpo e espírito como uma realidade integrada, de modo que não se cogita mais em separação entre corpo e espírito. A doutrina filosófica contemporânea compreende o homem como um ser integrado de corpo e espírito, de tal maneira que este deve ser entendido como um corpo espiritualizado ou um espírito corporificado, não fazendo sentido referir-se a um sem incluir também o outro, assim como também não faz sentido falar-se em “separação” entre corpo e espírito, como se fossem duas realidades opostas e incompatíveis. A ressurreição de Cristo e também a assunção de Maria são fatos que demonstram, a título de antecipação, o que ocorrerá com todos os crentes, por ocasião de sua passagem para o plano da eternidade. Não é o espírito que “se salva”, mas a salvação abrande o ser humano inteiro, incluindo corpo e alma. Não o corpo-matéria, mas o corpo glorioso e desmaterializado, tal como sugere a estampa da efígie de Cristo no Santo Sudário.


Na segunda leitura, da carta de Paulo a Filêmon (9-17), o Apóstolo destaca a doutrina da reconciliação como uma atitude decorrente do desapego cristão. Nesta carta, encontramos três personagens em situações bastante diferentes: o apóstolo Paulo levando adiante a sua pregação do evangelho, o amigo dele Filêmon, um cristão rico que morava na cidade de Colosso e tinha uma igreja funcionando na sua própria casa, e o (ex) escravo Onésimo, que é o portador da carta. Paulo deixa entender, nas entrelinhas, que Onésimo tinha sido escravo de Filêmon e estava como fugitivo em Roma, onde o encontrou. Com muita discrição, Paulo não entra em detalhes sobre o provável motivo da fuga, no entanto, apenas a fuga por si mesma já era uma afronta ao patrão. O fato transparecido nas entrelinhas da carta é que Paulo encontrou Onésimo em Roma na prisão, onde ambos estavam enclausurados, e este aceitou o batismo, após a catequese de Paulo. Vindo a saber do vínculo anterior de Onésimo com Filêmon, de quem Paulo era amigo, este fez questão que Onésimo fosse reconciliar-se com seu antigo senhor, não para que ele retornasse à condição de escravo, mas dando seu aval ao amigo Filêmon da conversão de Onésimo e da sua nova condição de irmão na fé, a fim de que o ex-patrão o recebesse na sua casa como se fosse o próprio Paulo, reforçando desse modo aquela comunidade eclesial que Paulo bem conhecia. Ao pedir a Filêmon que aceitasse Onésimo como se fosse ele próprio (Paulo), estava solicitando a ele uma dupla atitude: primeiro, que perdoasse a má conduta do seu ex-escravo e, mais do que isso, que o aceitasse como irmão na fé, recomendado pelo Apóstolo para trabalhar com ele na comunidade. O texto da carta demonstra o cuidado de Paulo na redação, para que Filêmon entendesse bem o seu pedido e demonstra mais a grande confiança que Paulo depositava nele, porque era um pedido muito delicado. Vejamos o que Paulo diz no vers. 14: “eu não quis fazer nada sem o teu parecer, para que a tua bondade não seja forçada, mas espontânea. ” E mais adiante, no vers. 17: “se estás em comunhão de fé comigo, recebe-o como se fosse a mim mesmo. ” A carta desenvolve a teologia do perdão e da reconciliação que cada um de nós deve ter para com o irmão que peca, assim como Deus tem para conosco, quando pecamos. Não ficou registrada a atitude do destinatário, mas por certo, Filêmon concordou com Paulo e recebeu Onésimo, conforme a recomendação dele.


A leitura do evangelho (Lc 14, 25-33), como antecipado, enfoca a atitude de desapego que deve ter o cristão em relação às coisas materiais. Na tradução latina desse texto, a exigência de Cristo é bem mais forte do que na tradução oficial. Diz assim: “si quis venit ad me et non odit patrem suum et matrem et uxorem...”, ou seja, se alguém vem a mim e não odeia seu pai, mãe, esposa... a tradução de São Jerônimo é literal do verbo grego “miseô”, que significa odiar, detestar. Porém, o sentido original desta palavra no hebraico (sanê) tem relação com “sentir ciúme”, “não dar a preferência”, ou falando numa expressão positiva, de “amar mais”, ou seja, sentir ciúme se alguém amar mais seu pai, sua mãe, sua esposa … do que a Mim... Daí porque a tradução da CNBB para a frase citada é “se alguém vem a mim, mas não se desapega do seu pai, sua mãe, sua esposa...” Neste caso, a tradução oficial está bem mais conforme o texto hebraico do que com a tradução latina. E é este o sentido mais autêntico da exigência que Jesus faz aos seus seguidores, ou seja, ele não quer dizer que o cristão deve literalmente “odiar” o pai, a mãe, a esposa, os irmãos, os filhos, mas sim que não deve dedicar maior amor aos familiares do que ao próprio Jesus. Não quer dizer que devemos rejeitar, detestar os familiares, mas sim que o amor que dedicamos a estes deve ser fruto do amor primordial a Cristo, amar os familiares no amor de Cristo, com o amor de Cristo. E, em último caso, se as relações familiares ou as relações de amizade forem motivo de afastar o cristão do seu verdadeiro ideal, então o fiel deve fazer a sua escolha radical pela adesão ao ensinamento de Cristo. Esta é a grande dificuldade de se ler a Bíblia nas traduções, sem ter conhecimento do significado dos termos na língua original, ou seja, pode conduzir a conclusões bem divergentes daquele que é o melhor significado da mensagem. Este é o grande problema que ocorre quando o fiel apenas “lê” a Bíblia. Ler não é bastante, é necessário “estudar” a Bíblia, a fim de obter da leitura o melhor aprendizado. Desse modo, num entendimento mais humanizado, a interpretação dessa exigência de Cristo se desloca mais para o sentido espiritual do desapego interior, na linha de pensamento da pobreza em espírito.


Os outros dois exemplos citados pelo evangelista vão também nessa mesma linha de raciocínio. Sobre o homem que queria construir a torre, mas não tinha economias suficientes para levar adiante a pretensão, Cristo quer dizer que devemos nos desapegar também de projetos mirabolantes, que estão mais a serviço da nossa vaidade do que da nossa fé. Qual o objetivo de alguém construir uma torre? Devia ser para tornar-se famoso, para ser visto e conhecido pelas outras pessoas. Mas, até que ponto isso irá contribuir para o bem do próximo, para o serviço da comunidade? Então, os nossos projetos devem estar coerentes com as exigências da nossa fé, não com a nossa vaidade pessoal. Sobre o outro exemplo do rei que vai guerrear com o rival, qual seria o seu objetivo, senão enaltecer o seu egoísmo e o seu orgulho, pensando na vitória sobre o outro? Ora, reconhecer a superioridade do outro é também uma atitude de desapego, de renúncia da própria vaidade. Embora a narrativa sugira que o rei evitou o confronto com receio de ser derrotado, visto que o rival tinha um exército mais numeroso, devemos nos lembrar que Cristo fazia essas preleções para pessoas do povo e usava exemplos simples de casos mais compreensíveis, porém depois ele explicava o verdadeiro significado para os discípulos.


O sentido cristão do desapego, portanto, não é simplesmente largar tudo e ir morar debaixo da ponte. Desapegar-se significa ser pobre em espírito, porque há pessoas extremamente pobres de bens materiais, mas que demonstram espírito rico e de exagerada avareza, invejando o que os outros possuem.


Cordial abraço a todos.

Antonio Carlos