domingo, 18 de maio de 2014

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 5º DOMINGO DA PÁSCOA - DIACONIA - 18.05.2014

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 5º DOMINGO DA PÁSCOA – DIACONIA – 18.05.2014

Caros Confrades,

Neste 5º domingo da Páscoa, a liturgia nos traz um texto interessante dos Atos dos Apóstolos, quando eles decidiram pela criação dos Diáconos. A função destes seria cuidar dos trabalhos assistenciais e sociais, enquanto os Apóstolos se dedicavam à pregação e às funções sagradas. Por muitos anos, a figura do Diácono ficou esquecida no ambiente eclesial, sendo reativada pelo Concílio Vaticano II e tornava efetiva nas últimas décadas. O nosso confrade Ribamar faz parte desse grupo dos novos diáconos do nosso tempo.

No texto dos Atos, lido hoje, consta o nome dos primeiros sete diáconos (At 6,5): Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas e Nicolau de Antioquia. De acordo com o texto lucano, a tarefa deles será “servir às mesas”, o que eu entendo como obras de caridade material e assistencial. Todos homens. No entanto, Paulo, na carta a Romanos (16,1), refere-se a “Phoebe, nossa irmã, diaconisa da igreja de Cencréia”, o que implica entender que havia mulheres também exercendo a diaconia. O site “prebiteros.com.br” explica que “eram mulheres de conduta irrepreensível chamadas a participar dos serviços que a Igreja prestava a pessoas do sexo feminino, principalmente por ocasião do Batismo (ministrado por imersão). Recebiam o seu ministério pela imposição das mãos do Bispo, que não conferia caráter sacramental. – Com a rarefação do Batismo de adultos, foi-se extinguindo a figura da diaconisa na Igreja a partir do século VI. ” Deve ter sido também a época em que os diáconos homens foram perdendo seu prestígio, provavelmente pelo acentuado número de padres já então. Com a restauração da função do Diácono, a partir do Concilio Vaticano II, deixou-se de lado a figura feminina, evidenciando um injustificável preconceito por parte dos padres conciliares. Aqui em Fortaleza, lembro que nos anos 90, Dom Aloísio nomeou uma freira (Irmã Elizabeth) para oficiar casamentos, batizados e celebrações da palavra na Paróquia do Conjunto Ceará, por causa da escassez de ministros ordenados, e ela oficiou nessa função por bastante tempo, para admiração de uns e inveja de outros e outras. Uma pessoa admirável a Irmã Elizabeth Stumpfler, uma alemã que fugiu da Alemanha Oriental na época da segunda guerra mundial e veio trabalhar até o fim dos seus dias entre as comunidades carentes do Ceará. Ainda hoje, eu louvo a coragem e a ousadia de Dom Aloísio, ao par da sua visão teológica afinada com o evangelho na teoria e na prática. Quem sabe, o Seráfico Papa venha a se inspirar nas atitudes de Dom Aloísio e imitá-lo, algum dia.

Na segunda leitura, temos novamente um trecho das cartas de Pedro (1Ped 2, 4-9), o que está sendo a novidade deste ano litúrgico. Conforme já comentei antes, as cartas de Pedro eram dirigidas aos novéis convertidos judeus, da região da Ásia Menor, que eram ofendidos e perseguidos pelos judeus legalistas, por causa da sua conversão ao cristianismo. Pedro procura levantar-lhes o moral, dizendo que eles são as pedras com as quais Cristo constrói o seu edifício, que é a Igreja, e que essas mesmas pedras, para os que não creem, são tropeço e ignomínia. “ Vós, como pedras vivas, formai um edifício espiritual, um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo.” (2, 5) Enquanto Paulo dirigia suas cartas às comunidades do território grego, Pedro atendia aos fiéis convertidos da região habitada pelos judeus.

Na leitura do Evangelho de João (Jo 14, 1-12), continuamos a observar as dificuldades pedagógicas de Jesus com os seus rudes discípulos. Depois de passar três anos, convivendo diuturnamente com eles e ensinando-lhes a sua Boa Nova, para que eles a espalhassem pelo mundo, Jesus ainda passou cinquenta dias após a sua ressurreição, dando aulas de reforço. Quem já atuou professor, sobretudo em classes de reforço, já deve ter sentido na pele aquela desanimadora atitude do(a) aluno(a) que, depois de você explicar um assunto já em repescagem, faz uma pergunta pela qual você percebe que ele não entendeu nada e você tem de começar a explicar tudo do começo. Dá vontade de sair correndo da sala. Pois é, Jesus passou por isso também. Estando a se aproximar o dia em que Ele, definitivamente, iria deixar o grupo e encerrar a sua missão, Ele está passando as últimas informações, recordando as lições antigas e fazendo a reciclagem. O apóstolo João faz questão de mostrar a cabeça dura daqueles antigos pescadores de peixes, que Jesus pretendia transformar em pescadores de homens e não economiza as palavras: “Vou preparar um lugar para vós e, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós. E, para onde eu vou, vós conheceis o caminho”. (14, 3-4) Então, vem Tomé com aquela desconcertante pergunta: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Parece que a gente escuta Jesus responder: “pelamordedeus”, Tomé, Eu sou o caminho, ninguém vai ao Pai senão por mim. Aí chega o Felipe com uma ainda mais desanimadora complementação: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!” E Jesus, em vez de sair correndo de desespero com tamanho despreparo, vai pacientemente explicar de novo. Como é que tu dizes: mostra-nos o Pai... Felipe, quanto tempo eu estou com vocês e ainda não me conhecem? Quem Me vê, vê o Pai, porque Eu estou no Pai e o Pai está em Mim. Se não acreditam no que digo, acreditem ao menos nas obras que fiz. Meus amigos, ao refletir sobre essas situações, temos a certeza da origem divina da Igreja. Só mesmo o poder divino pôde conseguir que uma dezena de pessoas incultas e de limitado entendimento construíssem todo esse arcabouço de fé e doutrina, que nos legaram através dos tempos. Alguém poderia até argumentar: mas depois eles receberam o Espírito Santo e ficaram inteligentes... não é bem assim. O Espírito ilumina e vivifica, mas não acrescenta recursos intelectuais a quem não os possui pela natureza. A difusão da Igreja de Cristo só se explica mesmo pela promessa que Ele fez: ide pelo mundo e Eu estarei convosco até o fim do mundo.

Nesse trecho do evangelho, João também coloca na boca de Jesus uma frase que é muito conhecida e interpretada das mais diversas maneiras: Na casa do meu Pai há muitas moradas. (Jo 14, 2) Eu prefiro enxergar nessa afirmação a raiz do ecumenismo. Não me parece legítimo interpretar as “muitas moradas” no sentido quantitativo, como se fosse uma “casinha para cada um”. Do ponto de vista do ecumenismo, as muitas moradas seriam as múltiplas crenças religiosas, sendo que todas elas, quando exercidas com consciência e fidelidade, são caminhos válidos para o encontro com Deus. Durante séculos, os teólogos ensinaram (e os Papas tornaram isso quase um dogma) que fora da Igreja Católica não há salvação, porque esta é a única e verdadeira Igreja de Cristo. Muitos católicos ainda defendem esse ponto de vista, sobretudo os grupos mais tradicionalistas, fundamentalistas e carismáticos. Noutro dia, eu ouvi um rapaz dizendo que quem faz afirmações contrárias ao que diz o Papa é um herege. Bem, era assim mesmo durante a Idade Média, mas nos dias de hoje, somente as pessoas que vivem mentalmente em época anterior ao Concílio Vaticano II acreditam nisso. Faz poucos meses, o Papa Francisco fez uma afirmação desse gênero, que teve grande divulgação na imprensa, e no dia seguinte o “porta voz” do Vaticano deu entrevista dizendo que “não é bem assim” do jeito que o Papa falou. Ele disse algo no sentido de que também as pessoas de outras crenças, que têm atitudes compatíveis com o evangelho, mesmo sem serem cristãs, merecem a salvação. Pois é. Jesus já sabia que, no decorrer dos tempos, haveria grandes dissensões de idéias e graves divergências doutrinárias dentro da sua Igreja e, nem por isso, deixaria de haver um só rebanho. Nas próximas semanas, o Papa Francisco deverá fazer uma viagem apostólica à Terra Santa e essa visita está sendo esperada com grande expectativa por toda a comunidade dos crentes orientais, cristãos e não cristãos, porque o Papa tem uma credibilidade dentre eles que, há muito tempo, um Papa não tinha. Patriarcas orientais, rabinos judaicos, autoridades árabes, todos estão ansiosos com essa aproximação que o Papa irá fazer, porque isso demonstra uma brutal quebra de preconceitos e tabus seculares, coisa que os Papas anteriores não ousaram enfrentar. E assim estamos caminhando verdadeiramente, pela via do diálogo e da mútua compreensão, para realizar o desejo de Cristo: que haja um só rebanho e um só Pastor, que é Ele próprio.


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