domingo, 11 de março de 2012

COMENTARIO LITURGICO – 7º DOMINGO COMUM – COISAS NOVAS – 19.02.2012




Caros Confrades,

O tema central que percebo nas leituras litúrgicas deste domingo, 7º comum, é que Deus sempre transforma as coisas velhas em coisas novas. Este tema está na leitura de Isaías (43, 19). Conforme já comentei antes, a partir do versículo 40, o livro de Isaías é chamado pelos biblistas de Deutero Isaías ou o segundo Isaías. Isso porque o estudo técnico do texto levou à conclusão de que foi escrito depois da morte do profeta Isaías, portanto, não pode ter sido escrito por ele mas por seus discípulos. Essa conclusão é baseada nos fatos narrados a partir do versículo 40, os quais ocorreram após a morte do Profeta. Esta parte final de Isaías trata dos fatos da época da libertação do povo hebreu, que então se encontrava cativo na Babilônia. O Profeta anuncia ao povo que Javeh entendeu que eles já haviam sido suficientemente castigados e, embora não tenham se convertido totalmente, assim mesmo vai devolver-lhes a liberdade não pelos méritos deles, mas por Ele próprio, Javeh, por ser misericordioso.

Por isso, diz o Profeta: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas.” (Is 43, 18) O próprio Javeh não vai mais levar em conta os pecados do povo, pois se dependesse dos méritos do povo, a libertação nunca aconteceria. Mas Javeh vai transformar as coisas velhas, ou seja, os pecados, em coisas novas, ou seja, libertação. E fará isso por Ele próprio, como está dito no versículo 25: “Sou eu, eu mesmo, que cancelo tuas culpas por minha causa, e já não me lembrarei de teus pecados”. A libertação virá pelas mãos de Ciro, rei da Pérsia, que venceu os babilônios e devolveu a liberdade aos hebreus. Em outras passagens do Deutero Isaías, o nome de Ciro aparece como o 'ungido de Deus' que, mesmo sem conhecê-LO, no entanto, Javeh se serviu dele como instrumento para realização da sua vontade.

Numa reflexão transistórica, a figura de Ciro antecipa o Messias, que veio cumprir a vontade de Javeh para trazer a salvação a todos nós. E isso não por causa dos nossos méritos, mas pela infinita misericórdia de Javeh, que está sempre fazendo coisas novas. O Filho de Deus assumiu nossas culpas e sofreu na carne o que nós deveríamos sofrer, para nos dar a salvação, é essa a mensagem que nos introduz no vestíbulo do tempo quaresmal, que se iniciará na quarta feita de cinzas. Cumprindo a promessa do Pai, o Filho virá realizar a obra divina da salvação, da mesma forma que Javeh devolveu a liberdade aos cativos da Babilônia, conforme vimos acima no versículo 25: sou eu, eu mesmo que cancelo tuas culpas por minha causa. Aqui está o cerne do sublime mistério da redenção: Deus nos confere a sua graça sem nosso merecimento e por sua inteira misericórdia. Foi Jesus quem veio revelar isso com sua palavra e com seu exemplo.

Na leitura do evangelho escrito por Marcos (2, 1), vemos novamente Jesus fazendo coisas novas. Diz o evangelista que ele retornou a Cafarnaum, onde ele havia feito aquele milagre da cura do cego, comentada no domingo anterior, quando ele disse ao 'cego' curado que nada dissesse a ninguém e ele, ao contrário, saiu gritando pra todo mundo. Então, quando se espalhou a notícia de que Jesus estava de volta à cidade, a população acorreu em massa para vê-LO e os doentes, com certeza, tinham a expectativa de que também fossem beneficiados por um milagre, tal como acontecera com a cura do cego. Ao saberem da casa onde Jesus estava, chegaram tantas pessoas que a casa ficou cheia e até do lado de fora, nas portas, o povo se aglomerava. E também no meio dos crentes e simpatizantes, estavam os fariseus, pois estes procuravam a todo momento flagrar Jesus em alguma atitude suspeita, de modo a poderem acusá-lo. Estavam disfarçados, é claro, mas Jesus os conhecia, porque via dentro do coração deles.

Foi quando chegaram umas pessoas trazendo um paralítico que, pelo seu severo estado de entrevamento, era trazido carregado junto com a cama. Ora, se a casa estava repleta de gente, de modo que não havia como entrar uma pessoa andando normalmente, imagine como conseguiriam entrar carregando uma cama com o paralítico deitado? A solução criativa, engenhosa de alguém foi subir no telhado e descer a cama por meio de cordas bem no local onde Jesus se encontrava. Lembremo-nos que as casas na região da Palestina naquele tempo (e ainda hoje algumas são) não possuem telhado como as nossas, coberto com telhas, mas a cobertura é de lages de pedra, que foram afastadas para a descida da cama. Dá pra imaginar o rebuliço que a cena causou, chamando a atenção de todos. A cama foi descendo e as pessoas que estavam abaixo dela foram se afastando, para não serem molestados pelo móvel. Naturalmente, todas as atenções se voltaram para Jesus e também os fariseus ficaram à espreita do que Ele iria fazer.

Diz o evangelista Marcos (2, 8): “Jesus percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo” e disse de propósito, para provocá-los, dirigindo-se ao paralítico – filho, teus pecados te são perdoados. Os fariseus ficaram se coçando e morderam a isca, murmurando entre eles: quem é este que perdoa pecados, porque somente Deus pode perdoar, está blasfemando. De acordo com o ensinamento dos fariseus, interpretando a lei mosaica, quando alguém tinha alguma doença, essa era consequência ou castigo por causa de algum pecado da própria pessoa, ou dos pais, dos familiares, ou seja, uma doença era um sinal público de que aquela pessoa era pecadora. Então, quando Jesus disse “teus pecados estão perdoados”, os fariseus ficaram zombando intimamente: se Ele tivesse mesmo poder de perdoar pecados, o paralítico teria ficado curado na mesma hora. Foi aí que Jesus perguntou: por que pensais assim em vossos corações? Pois, para que saibais que Eu tenho poder de perdoar pecados, falou ao paralítico: levanta-te, toma tua cama e vai pra casa. E ele se levantou e saiu levando a cama nas costas.

Ora, meus amigos, com este gesto, Jesus está, em primeiro lugar, dando um sinal evidente da sua divindade, a qual os fariseus teimaram em desconhecer, assim como ainda hoje o fazem os judeus (com todo respeito à fé deles). Enquanto o povo todo louvava e bendizia a Deus pelas coisas extraordinárias que Jesus fazia, os fariseus não acreditavam nEle e continuavam a persegui-lo, procurando algo que pudesse incriminá-LO. Em segundo lugar, com esse gesto, Jesus também está realizando as coisas novas anunciadas pelo Profeta: os cegos vêem, os surdos ouvem, os coxos andam, os leprosos são limpos e os pobres são evangelizados, assim está escrito em Mateus (11, 5). E Marcos arremata, em 2, 12, que as pessoas diziam: nunca vimos uma coisa assim.

Na segunda leitura, de Paulo a Coríntios (2Cor 1, 18), o apóstolo confirma que Jesus é o 'sim' do Pai, através de quem todas as promessas feitas aos antepassados nEle foram cumpridas. Todas as promessas de Javeh têm em Jesus o seu 'sim' garantido, por isso Jesus sempre ensinou o 'sim', ou seja, a fidelidade. Jesus não era homem de duas palavras (sim e não), mas de uma palavra só, somente 'sim'. É o que também está escrito em Mateus (5, 37): seja o vosso falar sim, sim; não, não. Portanto, o cristão não pode ser uma pessoas de duas conversas, não pode acender uma vela a Deus e outra para o demônio. Jesus deu o exemplo máximo de fidelidade às promessas do Pai, que Ele veio cumprir, e nos deixou esse mesmo ensinamento de fidelidade. Por isso, disse Paulo em 2Cor 1, 19: o Jesus que pregamos entre vós nunca foi de sim e não, mas somente de sim, exortando os coríntios (e a todos nós hoje) sobre o nosso compromisso de fidelidade ao ensinamento cristão. Ser cristão é estar sempre transformando coisas velhas em coisas novas, é estar sempre ressuscitando com Jesus, despindo-se do homem velho e vestindo-se do homem novo, é acompanhar o dia a dia da sociedade e estar sempre pronto a dar seu testemunho de uma maneira renovada, sem se apegar aos trapos de uma fé antiquada e obsoleta, pois o ensinamento de Cristo não parou no tempo, mas está constantemente se atualizando. Pensar diferente disso é não reconhecer que Jesus, em cumprimento à promessa de Javé, está sempre renovando o mundo, tornando novas todas as coisas.
Que Ele nos ajude a sermos sempre cristãos renovados dentro do dinamismo da sociedade.


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