domingo, 7 de abril de 2013

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 2º DOMINGO DA PÁSCOA - MARAVILHAS OPERADAS - 07.04.2013


COMENTÁRIO LITÚRGICO – 2º DOMINGO DA PÁSCOA – MARAVILHAS OPERADAS – 07.04.2013

Caros Confrades,

Neste segundo domingo da Páscoa (lembrar que não se diz domingo 'depois' da Páscoa), a liturgia traz para nossa consideração as maravilhas operadas pelos Apóstolos, após a ressurreição de Cristo, levando grande quantidade de judeus à conversão, em decorrência da pregação que haviam ouvido de Jesus e que agora era confirmada com a sua ressurreição e com os milagres intermediados por seus discípulos.

Na primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos (At 5, 12-16), lemos sobre os testemunhos narrados por Lucas (autor do texto) da grande adesão de novos cristãos, mediante a pregação dos Apóstolos e os milagres realizados por eles. As pessoas se admiravam da eloquência deles, pois os conheciam de muito tempo e sabia que eles eram de pouca instrução. No entanto, após a ressurreição de Cristo, houve uma transformação no seu comportamento e no seu modo de agir. Diz o texto que acorriam multidões das cidades próximas de Jerusalém, para ouvir a pregação dos Apóstolos e traziam seus doentes para serem curados. Colocavam os doentes nos locais por onde eles deviam passar e esperavam que ao menos a sua sombra os atingisse, porque isso era garantia de cura. Lembremo-nos do que Jesus havia prometido aos seus discípulos: (João 14, 12) Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará. Com efeito, pelos relatos de Atos, os Apóstolos fizeram maior quantidade de milagres do que o próprio Jesus havia feito, o que é compreensível. Jesus esperava que as pessoas acreditassem n'Ele não pelos milagres, mas pela sua pregação, pela sua doutrina. Já em relação aos Apóstolos, estes pregavam Jesus e a autenticidade do seu discurso era confirmada pelos milagres realizados por eles. Além do mais, eles eram em número de 12 e, portanto, o número de pessoas beneficiadas era muito maior. Os milagres feitos por intermédio dos Apóstolos tinham uma força probante muito maior, porque demonstravam nas pessoas destes a divindade de Jesus. O poder de convencimento que os Apóstolos exerciam eram fortíssimo.

Na segunda leitura, lemos um trecho da 2a. Carta de João, na qual ele relata o que passou quando esteve exilado na ilha de Patmos (onde ele escrevera o Apocalipse), e declara que alguém, semelhante ao filho do Homem, afirmou para ele que havia morrido, mas agora está vivo para sempre (2 Jo 1, 18), mandando ainda que ele escrevesse a visão que estava presenciando. O testemunho de João é valiosíssimo, porque ele convivera com Cristo em vida terrestre e O viu depois de ressuscitado, por diversas vezes. Associando-se isso ao fato de que João foi o Apóstolo que viveu mais tempo e, portanto, acompanhou todo o desenvolvimento do cristianismo nascente, tinha um conhecimento privilegiado de todos esses fatos e por isso a sua reflexão tinha aquela grande autoridade de cofundador do cristianismo. A carta de João, dirigida às comunidades da Ásia Menor, reforçava a fé nascente no Cristo ressuscitado e esses testemunhos são a maior prova da própria ressurreição de Cristo.

O trecho do evangelho da liturgia de hoje (Jo 20, 19-31) é o mesmo do ano passado, onde está relatado o episódio da incredulidade de Tomé, um dos episódios mais conhecidos do cristianismo antigo. E também, por duas vezes, o Apóstolo menciona que Jesus apareceu ao grupo, após a ressurreição, no primeiro dia da semana. No evangelho do domingo passado (Páscoa da ressurreição), vimos o encontro de Maria Madalena com Jesus ainda na madrugada do primeiro dia da semana, quando ela e outros tinham ido fazer a visita ao túmulo de Jesus e dali Ele havia mandado um recado aos doze de que logo mais estaria com eles em Jerusalém. Isso significa que a primeira aparição de Cristo ressuscitado aos Apóstolos se deu no próprio dia da ressurreição, ao anoitecer. E seguindo a narração de João (Jo 20, 26), o dia em que Tomé viu Jesus foi no domingo seguinte, ou seja, numa composição cronológica, este dia seria o domingo de hoje. Podemos observar que Jesus fez propositalmente suas visitas aos Apóstolos no primeiro dia da semana, sinalizando que este deveria ser o “dia do Senhor” do novo testamento, em substituição ao tradicional costume de observância do sábado. Não demorou para que os primeiros cristãos percebessem isso e transferissem o dia do descanso para o dia do Senhor.

É interessante observar que esse episódio da incredulidade de Tomé foi narrado apenas pelo evangelista João, não se encontrando nos demais evangelhos. Isso se explica, em primeiro lugar, porque João tinha conhecimento ocular do fato, por ter sido um dos que estavam presentes no momento, enquanto os outros autores dos evangelhos escreveram apenas pelo que ouviram ou leram a respeito. Mas há também um objetivo pedagógico nisso: João, em sua longevidade, encontrou diversas pessoas que não tinham conhecido Jesus como pessoa, mas O conheceram apenas através de sua doutrina e então a história de Tomé tinha o objetivo de ensinar aos novéis cristãos que o próprio Cristo havia chamado de bem aventurados os que acreditassem nele sem vê-Lo. E João ainda diz mais que Jesus havia realizado muitas outras maravilhas, que não foram escritas naquele livro, as que estão escritas são apenas uma amostra de tudo o que Ele havia feito.

Quero fazer uma referência, neste contexto, a outro trecho dos Atos dos Apóstolos que foi lido na liturgia de ontem, sábado, acerca da pregação dos Apóstolos e da adesão em massa dos judeus ao cristianismo, preocupando os chefes dos Sacerdotes judeus e os anciãos do povo. Estes sabiam que aqueles Apóstolos eram os mesmos que haviam seguido Jesus e sabiam que eles eram homens de pouca instrução, daí não conseguirem entender o motivo de eles terem ficado tão sábios e poderosos da noite para o dia, fazendo milagres que eles não podiam negar, eles mesmos presenciaram o fato. (At 4, 14). Mandaram prendê-los, mas logo depois os soltaram, com receio de uma reação por parte da multidão, que os estimava e defendia. E ficaram a discutir sobre o que fazer para frear o avanço do cristianismo nascente, para que “a coisa não se espalhe ainda mais entre o povo” (At 4. 17). Então, chamaram Pedro e João e os proibiram de ensinar e pregar o nome de Jesus, ameaçando-os. Eles simplesmente disseram que não obedeceriam aquela ordem e os fariseus não puderam fazer nada, por causa do grande apoio popular que os Apóstolos tinham.

Observa-se, meus amigos, como foi impactante o resultado da pedagogia de Cristo durante a sua missão de pregador nos fatos após a sua morte. Os fariseus e os sumos sacerdotes fizeram uma manobra política para conseguir a condenação de Jesus à morte, na expectativa de que, com isso, seus discípulos se dispersassem e a coisa se acabasse por ali. Assim já havia acontecido com outros “revolucionários” e havia dado certo, pensavam eles que seria a mesma coisa. Só que com Jesus foi diferente, porque Ele ressuscitou, isso fez toda a diferença. Desse modo, a grande massa ao ver os milagres operados pelos Apóstolos, em nome de Jesus, tiveram uma certeza do seu poder e da sua origem divina, contrariando os prognósticos dos sacerdotes. O resultado disso é que a adesão à nova fé entre os judeus se apresentou de tal monta que os sacerdotes ficaram sem saber o que fazer. Aquela estratégia imaginada com a sua condenação estava surtindo o efeito contrário do pretendido, ou seja, Jesus morto, mas ressuscitado, se tornara ainda mais poderoso do que antes de morrer. Essa é a grande mágica da loucura da cruz, de que fala o apóstolo Paulo (1 Cor 1, 18): “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” Os chefes dos sacerdotes, ao transformarem Jesus num louco perante a multidão e o submeterem ao máximo suplício, pensavam que haviam exterminado a sua pregação e a sua influência. Não demorou nada e aquela suposta loucura estava se transformando em extraordinário poder, contra o qual os seus algozes não tinham mais nenhum controle.

Meus amigos, que nós saibamos, através dos nossos atos no dia a dia, mostrar para a sociedade incrédula que a loucura da cruz é o grande diferencial que transforma o cristão de tolo em sábio, de fraco em poderoso, de condenado em vencedor.


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