domingo, 26 de fevereiro de 2017

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 8º DOMINGO COMUM - MAIS QUE AMOR DE MÃE - 26.02.2017

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 8º DOMINGO COMUM – MAIS QUE AMOR DE MÃE – 26.02.2017

Caros Leitores,

Neste oitavo domingo do tempo comum, a liturgia aborda o tema da providência divina, que é maior do que o amor da mãe para com os filhos. Ainda que uma mãe venha a desprezar o filho, Javeh não desprezará Sião, é o que diz o profeta Isaías, consolando os cativos na Babilônia. No evangelho de Mateus (Mt 6, 24-34), lemos uma frase, que me faz lembrar muito do Frei Timóteo, pois ele gostava de pronunciar nas conferências: “sufficit diei militiam suam”, isto é, basta a cada dia a sua labuta, o que subentende que não devemos nos preocupar com o dia de amanhã. Ou ainda: confiemos na providência divina.

Na primeira leitura, o profeta Isaías (cap 49) consola os hebreus no cativeiro da Babilônia, onde se lamentavam, sentindo-se abandonados por Javeh. O profeta tenta revitalizar o ânimo do povo fazendo um paralelo entre o amor divino e o amor materno. Sabemos que não existe relação mais forte, na vida humana, do que aquela que une a mãe e os filhos. Não dá nem para comparar com o amor de pai. Quem já viveu essa experiência com a própria mãe e passou a ter, depois, a experiência de ser pai sabe que a ligação do filho com a mãe é muito mais intensa, visceral mesmo. Então, o profeta Isaias se serve dessa experiência humana para explicar ao povo que o amor de Deus não é só amor de pai e também nem é só amor de mãe, é muito mais do que tudo isso. “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti.” (Is 49, 15) Ainda que, por mais absurdo que isso possa parecer, aconteça de uma mãe renegar um filho e esquecê-lo, mesmo assim Javeh não esquecerá o seu povo. Cativos e maldizentes, os judeus amargavam o castigo da sua falta de fidelidade a Javeh. Mas o castigo não significa diminuição do amor, assim como quando a mãe ou pai castigam o filho (castigavam, no tempo em que não isso era proibido!) não implicava que eles deixassem de amá-lo.

Na carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo aborda o tema da providência divina também sob o viés da fidelidade. Paulo estava sendo perseguido por causa do evangelho que pregava e temia receber alguma punição, por causa de denúncias dos inimigos. Então, diz ele, eu não tenho medo de ser julgado por nenhum tribunal humano. Primeiro, porque a sua consciência não o acusava de nada. Segundo, porque na qualidade de administrador da fé cristã, como pregador e missionário que era, ele confiava no julgamento divino apenas. Certamente, alguns amigos dele viviam alertando-o sobre possíveis ameaças. Paulo pregava nas reuniões secretas dos cristãos primitivos, naquele tempo em que o cristianismo era perseguido e considerado inimigo do império romano. Paulo viveu na época do imperador Nero, aquele que mandou incendiar Roma e depois colocou a culpa nos cristãos. Ou seja, Paulo vivia em constante perigo e tinha consciência disso. Para ele, o amanhã era sempre uma incógnita, mas isso não o intimidava na sua tarefa de pregar o evangelho. Então, ele confiava totalmente na divina providência. “É verdade que a minha consciência não me acusa de nada. Mas não é por isso que eu posso ser considerado justo. Quem me julga é o Senhor. ” (1Cor 4, 4) Paulo servia a Deus na fidelidade do seu coração e confiava que somente Ele poderia julgar suas ações. “Deus é fiel” (1Cor 1,18) é um mote paulino muito citado, sobretudo pelos crentes das igrejas não católicas, reproduzindo essa verdade proclamada pelo apóstolo Paulo e que se tornou tão popular, até tornar-se adesivo posto nos veículos e ainda nome usado como título de empresa comercial.

Nesse contexto da comparação da providência divina com o amor da mãe para os filhos, a liturgia nos traz, na leitura do evangelho de Mateus (6, 24-34), o conhecido trecho da advertência de Cristo de que “ninguém pode servir a dois senhores”. “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24). A palavra “dinheiro” empregada nessa frase não é bem a tradução do termo original, é um arranjo literário. A palavra usada por Cristo é o termo aramaico “mamona”, que no texto grego não foi traduzido e nem na vulgata latina, mantendo-se o vocábulo original. Segundo os biblistas, o texto original do evangelho de Mateus seria em aramaico, o que explicaria a utilização dessa palavra, não modificada na tradução para o grego. São Jerônimo fez tal qual o autor grego, ou seja, não traduziu, apenas transliterou a palavra “mammona” em latim: “Non potestis Deo servire et mammonae”. Provavelmente, os Colegas se lembram que, antigamente, se lia assim essa frase: não podeis servir a Deus e à mamona, o que ficava sem sentido em português, daí porque a CNBB optou em traduzir por “dinheiro”. De acordo com o significado original da palavra “mamona” no aramaico, esse termo se refere não propriamente à moeda, ao dinheiro, mas tem alcance bem mais amplo, referindo-se à ambição humana em geral pelas coisas materiais e também pelo poder e prestígio sociais. A glória humana, a fama, a ambição, o poder político e econômico, a avareza, o desejo incontrolado de possuir sempre mais, tudo isso está contido no conceito de “mamona”. No sermão de hoje, o celebrante fez alusão à fome, que mata inocentes em diversos países africanos, resultado do excesso da ambição de grupos tribais, subsidiados por interesses internacionais conflitantes, que colocam a população em grave risco. Esse desejo humano de poder desmedido chega a ser tão dilacerante que toma o lugar que deveria ser ocupado por Deus na vida da pessoa. Por isso, Cristo adverte para não nos deixarmos inebriar pelas “mamonas” da vida.

E então, Ele parte para exemplificar, de modo a deixar bem clara a sua ideia. Primeiro, diz: não vos preocupeis com o que ireis comer amanhã, ou beber, ou vestir. São Francisco interpretou esse frase ao extremo, quando escreveu na Regra franciscana “que os frades não recebam dinheiro ou pecúnia”, nem deviam ter duas túnicas, nem duas sandálias... portanto, deixem de lado a “mamona”. Antigamente como hoje, ter dinheiro significava ter poder material, quanto mais dinheiro, maior poder, e isso não combina com o ensinamento de Cristo. Dentro do modo de pensar capitalista, fica parecendo que Cristo está mandando esbanjar tudo o que se possui, porque amanhã Deus proverá mais. Não é bem assim. Por isso, não podemos fazer interpretações literais fundamentalistas, mas devemos compreender de forma adequada o que Cristo ensinou. Não é a posse simples de bens materiais que acarreta o sentido da “mamona”, mas o apego exagerado a esses bens, de modo a tirar a tranquilidade do possuidor. Se os bens possuídos por alguém forem de origem ilícita, então nem se duvida da sua desconformidade com a mensagem cristã, ainda que esses bens sejam utilizados para fins caritativos. Porém, se os bens possuídos são frutos de trabalho honesto e administrados com responsabilidade, eles só se tornarão “mamona” quando o seu possuidor der a eles maior valor do que dá ao próximo, de modo a recusar-se a ajudar quem necessita ou passar a utilizá-los unicamente para o próprio deleite, conforto e bem-estar. Relacionando com o amor de mãe, sabemos que ela será sempre capaz de desfazer-se de tudo que possui, se isso for necessário para prover a situação dos filhos. Do mesmo modo age a providência divina.

Descendo a detalhes em exemplos, Cristo faz uso novamente da sua magistral pedagogia para ensinar aquele grupo de pessoas pouco instruídas: vocês estão preocupados com a comida de amanhã? Pois olhem para os pássaros, que não semeiam nem ceifam, no entanto, o alimento nunca lhes falta. Estão preocupados com o que vão vestir? Pois olhem para os lírios que vestem roupas tão finas, que nenhum rei jamais vestiu. O Pai, que proporciona isso a eles, muito mais concederá a vocês. Essas preocupações são típicas dos pagãos. “Os pagãos é que procuram essas coisas. Vosso Pai, que está nos céus, sabe que precisais de tudo isso. ” (Mt 6, 32) E então Ele faz o arremate conclusivo dessa preciosa lição: “buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. ” (Mt 6, 33). O Reino de Deus é o oposto da “mamona”. Quem escolhe o Reino deve ter este Reino no coração e, por isso, não pode prestar culto à “mamona”. Quem está com a “mamona” no coração, não pode ter o Reino de Deus, porque são duas realidades incompatíveis. Quem tem a “mamona” no coração, não confia na providência e por isso precisa cuidar de tudo por si só e mesmo assim não conseguirá o seu intento. Quem acolhe no coração o Reino de Deus, terá como recompensa o recebimento de tudo do que necessita, sem ter de correr atrás. Se a mãe se desdobra sempre para amparar o filho, o Pai do céu faz isso muito melhor.


domingo, 19 de fevereiro de 2017

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 7º DOMINGO COMUM - PERDÃO SEM MEDIDA - 19.02.2017

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 7º DOMINGO COMUM – PERDÃO SEM MEDIDA – 19.02.2017

Caros Leitores,

Neste 7º domingo comum, a liturgia nos recorda que somos santuários vivos de Cristo, que habita em nós. E a característica própria do cristão é o amor os irmãos, mesmo aqueles que são maldosos e causam ofensas. Por isso, é preciso aprender a perdoar sem medida. No evangelho de Mateus, Jesus pergunta: o que vocês fazem a mais do que os pagãos? Amar os amigos e fazer o bem a quem lhe faz bem, isso não é grande coisa, os pagãos também fazem assim. Para fazer diferente, o cristão deve amar os inimigos e fazer o bem aos que lhe fazem o mal.

Na primeira leitura, do livro do Levítico (19, 1-18), Moisés transmite ao povo o recado dado por Javé: sede santos assim como eu sou santo e, recordando o primeiro mandamento, repete o refrão da santidade: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Anos depois, Cristo irá dizer aos discípulos que este é o primeiro e o maior mandamento. Mas a lei de Moisés ainda era muito restritiva em relação a este amor ao próximo, pois considerava o próximo apenas os compatriotas, os amigos, permitindo o ódio aos inimigos. Na sua pregação, Cristo veio ampliar o conceito do próximo, estendendo-o inclusive aos não compatriotas, como é o caso famoso da parábola do Bom Samaritano. Aqui está a grande e essencial diferença entre a lei antiga e a nova lei, entre o cumprimento restrito da lei e o cumprimento desta com sabedoria, conforme tema abordado no comentário do domingo passado. O escritor do Levítico dizia: não procures vingança nem guardes rancor dos teus compatriotas (v. 18), referindo-se ao povo de Israel apenas. Jesus vai dizer: teus compatriotas são todos os teus semelhantes, porque a pátria a ser considerada, neste caso, é o céu. E a exortação de não guardar rancor nem procurar vingança se estende a todos, sem medida.

Na continuação da primeira carta aos Coríntios (1Cor 3, 16-23), Paulo continua o ensinamento já abordado no domingo anterior, dizendo que os cristãos não se devem deixar levar pela sabedoria das coisas do mundo, mas pela sabedoria que provém de Deus. E como isso será possível? Porque nós somos santuários de Deus e o Espírito de Deus habita em nós. Aquele que se inebria com a sabedoria mundana é um insensato e destrói em si próprio esse templo onde Deus habita, tornando-se habitação do mal. Assim ele diz no versículo 18: “Ninguém se iluda: Se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar sábio de verdade.” Quem não abomina essa sabedoria insensata e fugaz, fundada apenas em conceitos e experiências materiais, ao contrário, a cultua, fecha a porta ao Espírito de Deus e não será capaz de compreender a sabedoria verdadeira. O Senhor conhece os pensamentos dos sábios (da terra) e sabe que são vãos. O cristão deve buscar a verdadeira sabedoria, aquela que vem do alto e que foi ensinada por Cristo, atualizando o verbete da lei, reconhecendo em todos (judeus e gentios) a mesma irmandade. Diz Paulo, no v. 23, tudo vos pertence, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus.

Prosseguindo também na mesma temática do domingo passado, o evangelho de Mateus (5, 38-48), nos mostra outra vez Cristo ensinando, com toda a sua criatividade pedagógica, o verdadeiro sentido da lei mosaica, que Ele não veio abolir, mas aperfeiçoar. Neste domingo, Ele nos traz dois novos exemplos, que se somam aos que já comentamos antes.

No primeiro exemplo de hoje, diz Ele: “ouviste o que foi dito aos antigos: olho por olho e dente por dente” (Mt 5, 38). Esse preceito multimilenar está presente em todas as culturas antigas e simboliza o conceito mais primitivo de justiça que os seres humanos formularam, isto é, a justiça proporcional ou vingança controlada. Os estudiosos apontam que essa regra do “olho por olho, dente por dente” veio do Código de Hamirábi, um rei que governou a Babilônia cerca de dois mil anos antes de Cristo. Esse preceito foi incorporado nas culturas da época, havendo referências a ele entre os hebreus, gregos e romanos. Na primeira lei romana escrita, conhecida como Lei das XII Tábuas, essa regra já fora inserida para os casos em que não houvesse acordo, estabelecendo que uma pessoa não podia “cobrar” da outra mais do que o prejuízo causado, dando início assim ao conceito de equidade, que foi aperfeiçoado por Aristóteles e se encontra hoje nos direitos de todos os povos. Jesus faz referência, portanto, a um preceito bastante conhecido e amplamente praticado pelos judeus.

Pois bem, diz Jesus: os antigos ensinaram isso – olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: “não tomem como modelo as pessoas más”. É assim que eu prefiro traduzir a frase que está em Mt 5, 39. O original grego transliterado é: “mê antistenai tô ponero”, frase que São Jerônimo traduziu em latim como “non resistere malo” e a CNBB traduziu como “não enfrenteis quem é malvado”. Com todo respeito, parece-me que São Jerônimo se equivocou na tradução do verbo grego “antistenai” e traduziu por “resistire”, que em português seria “resistir”. Mas, pelo meu entendimento, o verbo grego tem o sentido de “não vos compareis” com os maus, isto é, não façais como os maus, não imitem o comportamento deles. Da forma como está traduzido (não enfrenteis quem é maldavo) dá uma ideia de fraqueza, de acovardamento, como se o cristão devesse ter medo dos maus, não reagir aos maus, não enfrentar o malvado. Mas a mim parece que, quando Cristo aconselhou “oferecer a outra face” para quem te bate no rosto, ele quis dizer outra coisa: os maus agem de forma agressiva, vocês, porém, não devem tomar esse comportamento como exemplo, façam diferente deles, não por medo, mas por convicção. Em resumo, não se equiparem aos maus, não repitam suas ações, não se comportem como eles. Esse deve ser, segundo penso, o significado metafórico da recomendação de Cristo sobre “oferecer a outra face”. Se você revidar a um bofete, você estará repetindo o mau exemplo dado por quem lhe ofendeu. Então, não retribua a violência com violência, mas com o amor, isto é amar sem medida, perdoar sem medida.

Esta mesma lição nós encontramos em Paulo aos Romanos (12, 20), quando ele diz: “se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber, assim amontoarás brasas sobre a sua cabeça”. Fora do contexto bíblico, Pelé ensinava aos jogadores mais jovens: quando algum adversário te empurrar, não faça resistência, caia e ele cairá junto contigo. Porque ele espera que você resista, então ele será surpreendido. Em todas essas situações, o ensinamento é o mesmo, ou seja, não tomem como exemplo o adversário, façam o oposto, faça o que ele não espera, surpreenda-o e assim você terá uma atitude superior, uma atitude de bem, um testemunho de ser verdadeiro seguidor do ensinamento de Cristo.

Complementa esta lição o outro exemplo dado por Cristo, na sequência do evangelho de Mateus (5, 43): os antigos diziam – ama teu próximo e odeia teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, orai pelos que vossos perseguidores. Meus amigos, com essa, Cristo pegou pesado e nos colocou o maior desafio do evangelho. Amar os amigos e odiar os inimigos é fácil, todos fazem isso. Mas se for assim, que diferença haverá entre o cristão e o não cristão? O cristão tem que ser diferente: amar os amigos e os inimigos, fazer o bem a quem faz o mal. O escritor James C. Hunter, no conhecido livro “O monge e o executivo”, faz uma interpretação interessante desse ensinamento de Cristo. Diz ele que na frase “amar os inimigos”, o significado do verbo “amar” é diferente da frase “amar os amigos”. Explicando melhor, seria assim: em relação aos amigos, amar tem o sentido de sentimento, afeto; em relação aos inimigos, amar tem um sentido puramente comportamental, ético. Então, a frase “amar os inimigos” quer dizer comportar-se de um modo ético mesmo com aquelas pessoas que fizeram algum mal a você, isto é, não exercitar a vingança, não ficar esperando uma ocasião futura para ir à desforra. Amar os inimigos significaria, dessarte, ser ético com todos, tratar as pessoas más da mesma forma como se deve tratar qualquer pessoa, com ética e dignidade, mesmo que intimamente a sua vontade seja de esganar o adversário.

Parece-me que o escritor tem certa razão. No texto grego, o verbo que está traduzido por “amai” é “agapate”, verbo com o mesmo radical da palavra “ágape”. Quando eu estudei antropologia teológica, aprendi que os gregos conheciam três significados para o verbo “amar”: 1 – amor erótico; 2 – amor amizade; 3 – amor fraternidade. Esse terceiro sentido se refere à convivência humana, ao modo respeitoso como as pessoas devem tratar umas às outras, independente de quem seja. Então, seguindo o raciocínio de J. Hunter, podemos concluir que a ordem de amar os amigos tem o sentido 2, enquanto amar os inimigos tem o sentido 3. Eu continuo pensando que a doutrina de Cristo não faz essa distinção, no entanto, pode ser uma forma de atenuar o rigor do desafio que Cristo nos deixou e, assim fazendo, quem sabe, aos poucos chegaremos a encarar o desafio de forma completa.
Que o divino Mestre nos socorra com engenho e arte, para conseguirmos colocar em prática os seus ensinamentos.

Com um cordial abraço a todos.
Antonio Carlos


domingo, 12 de fevereiro de 2017

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 6º DOMINGO COMUM - A LEI E A JUSTIÇA - 09.02.2017

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 6º DOMINGO COMUM – A LEI E A JUSTIÇA – 12.2.2017

Caros Confrades,

Na liturgia deste 6º domingo comum, Jesus ensina a diferença entre cumprir a lei e fazer a justiça. Primeiro, Jesus diz que nenhuma palavra e nenhuma vírgula será retirada da lei antes que tudo seja cumprido. Depois, ele explica como se faz para cumprir a lei com sabedoria, sem apego a formalismos, fundamentalismos ou ao exagero das palavras. E adverte: se a vossa justiça não for maior do que a dos fariseus e mestres da lei, é porque ainda não compreendestes o autêntico sentido da lei, cujo significado vai além do que está escrito.

Na primeira leitura, do livro do Eclesiástico (Eclo 15, 16-21), o autor sagrado faz a relação entre a observância da lei e a longevidade do fiel. “Se observares os mandamentos, eles te guardarão.” Diante de nós, estão colocados o bem e o mal, a vida e a morte, cabe a cada um escolher. Obviamente, quem escolhe o bem está escolhendo viver; quem escolhe o mal está escolhendo morrer. Sobre isso, Deus não intervirá, pois ele deu a liberdade ao ser humano para que ele próprio determine os rumos de sua ação. No entanto, o resultado das nossas escolhas já pode ser previamente conhecido. Os olhos do Senhor só se voltam para os que o temem, a ninguém Ele deu licença para pecar. Pecar é fazer a opção pelo mal, pela natureza humana perversa e enganosa, pelo egoísmo e pela falta da caridade. Quem pensa estar se resguardando para si mesmo e não tem abertura para os irmãos se engana, porque quem escolhe fazer o mal não terá a garantia da vida, que é dada somente para os que observam os mandamentos.

Na segunda leitura, o apóstolo Paulo explica à comunidade de Corinto (1Cor 2, 6-10) a diferença entre a sabedoria dos homens e a sabedoria divina. Esta é misteriosa e Deus só a revela para os que lhe são caros. O poder mundano e o prestígio que lhe está associado nunca alcançarão tal sabedoria misteriosa. A nós, porém, Deus revelou esse mistério pelo Espírito, através dos ensinamentos de Cristo. Agir com sabedoria, portanto, é agir de acordo com os ideais cristãos, é ser um verdadeiro seguidor de Cristo. Essa sabedoria misteriosa é algo que nenhum olho jamais viu, nenhum ouvido jamais ouviu, nenhum coração jamais pressentiu. Por que é assim? Porque ela só é alcançada por intermédio da fé. Somente os olhos e os ouvidos da fé alcançarão o elevado patamar onde essa sabedoria se encontra.

No evangelho de Mateus (Mt 5, 17-37), num trecho bastante longo, que é considerado uma extensão do Sermão da Montanha, Cristo explica bem detalhadamente como se pode cumprir a lei com sabedoria. Primeiramente, Ele esclarece que não veio revogar a lei ou os profetas, mas veio mostrar como a lei deve ser cumprida por inteiro, sem o exagero dos formalismos, não apenas da boca para fora. Logo depois, ele faz uma afirmação surpreendente: quem descumprir algum dos mandamentos, por menor que seja, terá no reino dos céus um lugarzinho insignificante, lá atrás daqueles que cumpriram tudo. É curioso observar que Cristo não disse: quem descumprir a lei irá para o inferno, como costumava fazer a pedagogia catequética. No entanto, continua Ele, se a vossa justiça não for superior à dos mestres da lei e dos fariseus, aí sim, vocês não entrarão no reino dos céus. Qual a diferença que se observa nessas duas advertências? É porque os fariseus e mestres da lei cumpriam os mandamentos de forma incorreta exagerando no rigor das palavras, aquilo que a doutrina chama de “fundamentalismo”. Deus não é um fanático ou um burocrata que se preocupa muito mais com o formalismo do que com a consciência. Deus quer que nós cumpramos a lei usando de sabedoria, não como os fariseus o faziam, preocupando-se tanto com os detalhes e com as atitudes exteriores que terminavam por descumprir o essencial. Então, Cristo vai tirar três exemplos da lei e mostrar como é o cumprimento da lei de acordo com a verdadeira justiça.

Exemplo 1. “Ouviste o que foi dito aos antigos: não matarás. Quem matar, será condenado pelo tribunal.” (Mt 5, 21). Os fariseus interpretavam essa norma no seu sentido puramente literal de matar ser igual a tirar a vida de outrem. Então, Jesus vai dizer que “matar” não é apenas eliminar uma pessoa, mas intrigar-se com o irmão também equivale a matá-lo. Dizer palavrão com o irmão é o mesmo que matá-lo. Ficar com raiva do irmão é outra forma de matá-lo. E para explicar ainda mais esse novo sentido de “matar”, ele diz: se você estiver diante do altar para fazer a sua oferenda e se lembrar que tem alguma desavença com alguém, não faça a oferta, vá primeiro resolver esse problema. Não adianta fazer a oferenda exteriormente, enquanto o coração está fechado para o irmão. Isso faz lembrar uma homilia famosa do Papa Francisco, que foi destacada na imprensa: “não saiam da missa fofocando dos irmãos. Quem vai à igreja e sai fofocando depois, é melhor não ir.” Vejam que interessante, o Papa está repetindo o mesmo ensinamento de Cristo, atualizando para a linguagem do nosso tempo. Fofocar é uma nova forma de “matar” o irmão. Essa atitude destrói a oração que ele/ela fez, ou melhor dizendo, invalida tudo. Quem vai à igreja sem estar disposto a entrar no clima da oração, a encontrar-se com Deus e com irmãos, então é melhor que não vá. Eu nunca tinha visto um Papa dar um conselho assim. A pedagogia tradicional sempre ensinava ameaçando: se não for à missa, irá pro inferno. Obviamente, o Papa não está dizendo que as pessoas não devem ir à igreja, mas que os cristãos não devem fofocar, senão a missa assistida perde o valor. Além de ser falta de caridade, produz um mau exemplo para a comunidade. Está descumprindo a lei e ainda levando outras pessoas a descumprirem também.

Exemplo 2. “Também foi dito que não se deve cometer adultério.” Os fariseus pensavam que adulterar era apenas ter um intercurso sexual com uma mulher casada. Jesus vem então explicar que não é só isso, mas se tiver apenas o desejo, já cometeu adultério. E esse desejo não significa apenas o instinto sexual, mas qualquer forma de demonstrar inveja por algo que o irmão possui e a pessoa invejosa fica desejando. Não esqueçamos que, na época de Cristo, a mulher era um dos pertences do marido, assim como os rebanhos, as propriedades, os escravos, os bens materiais em geral. Nesse contexto, “desejar a mulher do próximo” correspondia a querer apropriar-se de um objeto dele. Portanto, devemos entender a ordem de “não cometer adultério” como qualquer cobiça sobre os bens do irmão, inveja da posição que ele tem, do prestígio de que desfruta, das amizades que o rodeiam, da personalidade que a pessoa tem. Cometer adultério vai muito além da esfera da sexualidade para alcançar todos os desejos que sejam frutos da cobiça, da inveja, da maldade, do egoísmo, da vontade de dominar, da busca incontrolada pela posse de bens materiais.

Exemplo 3. “Também vocês ouviram dizer para não fazerem juramentos falsos.” Os fariseus achavam que isso se referia apenas às manifestações exteriores de afirmações ou negações. Eram tão exagerados nesse entendimento que nunca pronunciavam o nome de Javé, por receio de pronunciá-lo em vão. Tanto assim que, atualmente, não se sabe mais como era a pronúncia original dessa palavra, que ficou perdida pelo continuado desuso. Pois bem, diz Jesus, eu digo que vocês não devem jurar de jeito nenhum. Por que havia o costume de fazer juramentos? Porque não se podia acreditar na palavra das pessoas. Então, se alguém jurasse invocando os céus ou os altares ou um lugar sagrado, então as outras pessoas acreditariam, porque a pessoa estaria se expondo a um castigo, caso mentisse. Visto que nada de mau havia recaído sobre o jurador, então isso confirmava a veracidade das afirmações. Ora, é claro que esse apelo a algo sagrado não dava nenhuma garantia da verdade das afirmações, porque as pessoas podiam continuar a mentir e ninguém mais contestava, ou seja, o juramento não passava de mais uma formalidade exterior. Então, Jesus ensinou: não precisa vocês jurarem, basta falarem a verdade sempre. Se o seu “sim” ou “não” forem sempre verdadeiros, as pessoas acreditarão pela credibilidade da sua pessoa, não pelos santos ou lugares sagrados que acaso forem invocados.

Vemos, nesses exemplos que o próprio Cristo escolheu, o que significa cumprir fielmente a lei, cumprir a lei fazendo justiça. É curioso observarmos que, apesar do ensinamento de Cristo, apesar da sua rejeição ao formalismo das normas, nós ainda constatamos, atualmente, pessoas que se dizem cristãs apegadas aos formalismos, às regras canônicas, aos fundamentalismos exegéticos, à escravidão das palavras, esquecendo a lição que Cristo nos deixou, de forma tão clara e com tanta perfeição didática. Quando Ele disse que nenhuma letra ou vírgula seria retirada da lei, antes que tudo fosse cumprido, ele se referia a Si próprio, ao que as escrituras predisseram acerca d'Ele. Ele se referia à lei de Moisés, à lei antiga, os evangelhos não existiam ainda. Naturalmente, a mesma sabedoria que Ele demonstrou que deve ser adotada na interpretação da lei antiga também será adotada para a compreensão da nova lei. Ele não nos deixou escravos das palavras, mas nos ensinou a buscarmos constantemente o espírito delas. Que nós saibamos sempre ler e compreender com sabedoria os seus mandamentos.

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domingo, 5 de fevereiro de 2017

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 5º DOMINGO COMUM - A LUZ E O SAL - 05.02.2017

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 5º DOMINGO COMUM – A LUZ E O SAL – 05.02.2017

Caros Leitores,

Neste 5º domingo comum, a liturgia coloca para nossa reflexão a figura da luz, exemplificando com o brilho da autora, que ilumina a terra. A luz que brilha sobre nós, semelhante à aurora, é exatamente a luz da graça divina, que recebemos de Deus no nosso batismo e que deve permanecer viva e brilhante, de modo a iluminar os atos da nossa vida e, ao mesmo tempo, deve funcionar como guia para clarear sobre os irmãos, especialmente aqueles mais fracos na fé. O evangelho associa a figura da luz com outro elemento essencial para a nossa vida, que é o sal. Um e outro são metáforas dos compromissos que nós, batizados, assumimos como autênticos discípulos de Cristo.

A teologia da revelação ensina que nós nascemos com a sombra do pecado original, uma falha da natureza humana, que não devemos atribuir ao Criador, que é perfeito, mas à nossa própria condição de humanidade, herdeiros de Adão e Eva. Para extirpar essa sombra, que carregamos como uma consequência da fragilidade humana, nós temos o remédio eficaz, que é a graça divina. Através da ablução com a água batismal, nós somos purificados dessa mácula, todavia, essa purificação não funciona de modo automático, mas precisa ser renovada e reforçada com as nossas boas ações, o que só é possível quando nós abrimos nosso coração para receber a graça e, em consequência, orientamos nossa vontade para que a graça atue em nós e produza seus divinos efeitos. A referência a Adão e Eva é a linguagem simbólica pela qual o escritor sagrado personifica de um modo genérico as duas figuras humanas de homem e mulher, imperfeitos pela natureza, mas aperfeiçoados pela graça recebida do Criador. E o pecado original não deve ser identificado com aquela vetusta história da maçã, mas com a vulnerabilidade inerente à natureza humana, que nos impede de conseguirmos alcançar, sozinhos, a salvação. Para isso, todos nós dependemos essencialmente da graça e da misericórdia de Deus.

Na primeira leitura, o profeta Isaías exemplifica, de um modo bem didático, algumas ações humanas que tipificam aquilo que a teologia chama de “pecado original”: “Se destruíres teus instrumentos de opressão e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa, … a tua vida obscura será como o meio-dia.” (Is 58, 9) Esses instrumentos de opressão são aquelas forças instintivas que nos impelem para o egoísmo, o autoritarismo e a inveja, ou seja, uma tendência inata para agir de forma injusta com os irmãos. Aquele que consegue superar essas imperfeições decorrentes da nossa natureza desviada, esse andará na luz, a sua vida será clara como o meio-dia. Diz ainda Isaías em 58, 7: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos, quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne [teu semelhante]. Então, brilhará tua luz como a aurora.” Lembremo-nos de que, na época do profeta, ainda não havia sido instituído o batismo da conversão, que somente surgiu com a pregação de João Batista. No entanto, Isaías já preconizava aquelas ações que seriam propostas pelo Batista para os que se preparavam para a chegada o Messias, aplainando os caminhos e capinando as veredas. E quando, tempos depois, Cristo instituiu o batismo sacramental, o batismo da salvação, os benefícios da graça batismal atuaram de modo pleno no tempo, incluindo presente, passado e futuro, de modo que os que viveram segundo a orientação do Profeta foram também alcançados pela graça da salvação. O sacrifício redentor de Cristo foi realizado num tempo histórico determinado, no entanto, os seus efeitos se estendem em plenitude para um tempo indeterminado (anterior e posterior), referendando todas as práticas de justiça que as pessoas efetivaram, como consequência de sua fé. Com sua morte e sua ressurreição, Cristo aspergiu seu sangue sobre todos, independentemente da época em que viverem ou viverão, alcançando a todos estes os benefícios decorrentes da consumação da antiga aliança de Javeh com o povo hebreu. A única condição para isso é a adesão que cada um deve fazer a esse “contrato” patriarcal, renovado e consolidado pela intervenção do Messias, cujo conteúdo é o compromisso batismal, e cuja assinatura é traçada pela água derramada em nossas cabeças.

Na segunda leitura, de Paulo aos Coríntios (1Cor 2, 1-5), o Apóstolo diz que foi àquela cidade para anunciar ao povo o “mistério de Deus”. Que mistério seria esse? O próprio Paulo responde: Jesus Cristo crucificado. E para esse anúncio, Paulo não usou discursos bonitos nem oratória erudita, mas apenas a linguagem comum, para que o conteúdo de sua pregação se destacasse, e não a sonoridade das palavras bonitas. Meus amigos, a palavra “mistério” significa aquilo que estava escondido e foi revelado. Paulo utiliza o termo para referir-se àquilo que antes era obscuro e incompreensível aos homens, mas que tornou-se claro e iluminado, pela força da luz de Cristo. Ele é a própria luz e é através dele que nós, seus discípulos, podemos iluminar o mundo. Pelos sacramentos, que Ele instituiu e nos deixou, sob a coordenação da comunidade eclesial, nós participamos da claridade que essa luz transmite. A partir do recebimento do batismo, abre-se para nós a porta de acesso aos demais sacramentos, isto é, aos diversos canais pelos quais Ele distribui a sua graça. Paulo fez isso na comunidade de Corinto e noutras cidades daquela região. Nos dias de hoje, a Igreja dá continuidade a essa tarefa de acolher os fiéis e conduzi-los ao ambiente onde essa graça continua a ser distribuída. Dentro da comunidade eclesial, a graça que recebemos deve ser potencializada para que, em nossa vida cotidiana fora do ambiente típico da sacralidade, as demais pessoas possam perceber a luminosidade do nosso ser através do nosso comportamento, do nosso modo de agir.

O evangelho de Mateus (Mt 5, 13-16) associa duas metáforas muito poderosas: a luz e o sal. Desde os tempos mais remotos, as pessoas compreenderam a importância do sal para a vida humana. Chegou ao ponto de que, em eras primitivas, o pagamento de trabalhos realizados pelos operários era feito não com dinheiro, mas com sal (salarium). Os minerais trazidos pelo sal são essenciais para o nosso organismo, de modo que a vida humana se tornaria inviável sem o consumo de porções (moderadas) de sal. Do mesmo modo como a vida humana seria inviável sem a luz, assim também seria sem o sal. Atuando de modos diferentes, mas sempre em caráter indispensável, a luz e o sal são insumos que tornam possível a vida humana, seja individual, seja social. Daí porque Cristo utilizou muitas vezes essas figuras como recursos pedagógicos para a sua catequese.

Ora, diz Jesus, imaginem se o sal viesse a perder a sua funcionalidade básica, com o que iríamos salgar os alimentos? Nos dias de hoje, a indústria química já consegue produzir materiais alternativos que geram efeito similar ao sal para o preparo dos alimentos a pessoas que possuem certas doenças agravadas com a ingestão do sódio, componente principal do sal. Mas na época de Cristo, isso não existia e ele falava para o povo daquela época, do modo que fosse mais compreensível para eles. Um sal que não produzisse seus efeitos não serviria para mais nada. Quando muito, seria usado como pedrisco para pavimentar os caminhos. Com isso Jesus vem nos dizer que um cristão que não desenvolver em si a graça que recebeu com o batismo, é como se a graça recebida não produzisse os efeitos que deveria gerar, portanto, haverá um desperdício da graça, pois um tal cristão não seria capaz de “salgar” a sociedade com o seu exemplo e o seu testemunho. Meus amigos, essa é uma séria advertência para que cada um de nós avalie de que modo a graça que recebemos está ou não produzindo seus frutos na nossa vida, para que não estejamos nos arriscando a ser esbanjadores da graça divina. No caso, essa graça inócua em nós, além de não contribuir para que superemos as vicissitudes próprias da nossa natureza imperfeita, ainda nos tornará réus de uma acusação muito grave, qual seja, de sermos desperdiçadores desse valioso dom.

Numa consideração analógica com a luz, a graça divina deverá nos tornar iguais a grandes lamparinas em noite de apagão. Ninguém acende uma lucerna e a coloca debaixo de uma vasilha, pois assim ela não cumprirá a sua finalidade. A graça divina que recebemos não deve ficar restrita ao nosso ser, à nossa subjetividade, mas deve ser compartilhada com os irmãos. Colocar a luz escondida significa agir egoisticamente, usar a lamparina para clarear apenas o nosso próprio caminho. Não foi para isso que Jesus veio abrir para nós a porta da salvação. Ninguém se salva sozinho, a salvação se realiza na comunidade. Houve uma época em que a catequese pregava: “salva a tua alma”... hoje em dia esse discurso mudou completamente para “salva o teu irmão e assim tu também serás salvo”. Por isso é que a luz deve ser colocada num local elevado, a fim de clarear o caminho para muitos, a fim de chamar a atenção dos incautos, daqueles que se encontram envolvidos com as coisas mundanas, daqueles onde a graça está dormitando, a fim de incentivá-los a também se tornarem luminares eficazes e generosos. Manter a luz escondida é uma contradição com ela própria, cuja existência só se justifica se for um ponto de orientação para todos, assim como o farol orienta os que viajam pelo mar.

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