COMENTARIO LITURGICO –
DOMINGO APÓS EPIFANIA – BATISMO DO SENHOR – 12.01.2014
Caros amigos,
No domingo após a Epifania, a liturgia celebra a festa do Batismo do Senhor. A sequência dos domingos do ano litúrgico reproduz para nós os momentos mais significativos da história da nossa salvação, por isso há saltos temporais imensos. No domingo anterior, tivemos a manifestação de Jesus aos povos do Oriente, ou seja, o tempo de Jesus criança. Neste domingo, temos a festa do batismo de Jesus no rio Jordão, quando ele já tinha mais de 30 anos e estava prestes a iniciar a sua pregação pelas cidades e povoados da Galileia. Sabemos que, na verdade, Jesus não precisava ser batizado, pois o batismo se destina ao perdão dos pecados, mas Ele quis cumprir todo o protocolo e foi nessa ocasião que, pela primeira vez, ocorreu a manifestação da Trindade divina.
No domingo após a Epifania, a liturgia celebra a festa do Batismo do Senhor. A sequência dos domingos do ano litúrgico reproduz para nós os momentos mais significativos da história da nossa salvação, por isso há saltos temporais imensos. No domingo anterior, tivemos a manifestação de Jesus aos povos do Oriente, ou seja, o tempo de Jesus criança. Neste domingo, temos a festa do batismo de Jesus no rio Jordão, quando ele já tinha mais de 30 anos e estava prestes a iniciar a sua pregação pelas cidades e povoados da Galileia. Sabemos que, na verdade, Jesus não precisava ser batizado, pois o batismo se destina ao perdão dos pecados, mas Ele quis cumprir todo o protocolo e foi nessa ocasião que, pela primeira vez, ocorreu a manifestação da Trindade divina.
O tema do batismo é um dos que desperta mais polêmica entre a Igreja Católica e as demais igrejas cristãs, por diversas razões históricas, que todos conhecemos, porém penso que as querelas mais significativas se concentram em dois pontos: 1. o batismo de crianças recém-nascidas, fato que não ocorria no início do cristianismo, tendo sido introduzida como prática muito tempo depois; 2. o ritual do batismo por mera aspersão (derramamento de pouca água na cabeça do batizando) e não por imersão (mergulho na água).
Em relação a essa
crucial polêmica, o fato histórico é que o batismo por imersão
era a prática dominante no Antigo Testamento e o próprio Jesus se
submeteu a ela. Contudo, no Novo Testamento, os diversos relatos
sobre o batismo sugerem uma forma de batismo diferente da imersão,
como por exemplo, em Atos 16, 33, quando Paulo batizou pessoas na
prisão, certamente ali não havia um local com água para imersão.
O próprio batismo de Paulo por Ananias (Atos 9, 18), realizado na
casa de Judas, não deve ter sido por imersão. Do mesmo modo, o
episódio ocorrido após Pentecostes (Atos 2, 37-41), quando cerca de
3.000 pessoas foram batizadas após a pregação de Pedro, não deve
ter sido por imersão. De qualquer modo, as duas formas (imersão e
aspersão) eram conhecidas desde os tempos cristãos primitivos, mas
a oficialização do batismo por aspersão ocorreu após as disputas
com Lutero (que não o aceitava), já no século XVI. E as razões
teológicas para justificar a aspersão são duas fundamentais: 1. o
fato de que a pessoa deve ser purificada do pecado (no caso da
criança, o pecado original) o quanto antes possível, ou seja, logo
após ao nascer, sem esperar a idade adulta; 2. embora a criança de
pouca idade não saiba o que está ocorrendo, a Igreja age como mãe
amorosa e faz isso por ser o melhor para o pequeno fiel, assim como
toda mãe só quer o bem dos filhos, ficando com os pais e padrinhos
a responsabilidade de ensinar a criança e conscientizá-la, quando
tiver entendimento.
Além dessas questões
histórico-doutrinárias, analisando sob o aspecto gramatical, o
vocábulo batizar deriva do verbo grego BAPTIZÔ, que significa
mergulhar, submergir, mas também lavar. Por exemplo, batizar era uma
espécie de suplício em que se mergulhava o condenado até ele
morrer sem fôlego. Mas em Lucas (11, 38), quando os fariseus se
admiraram porque os discípulos de Jesus não lavavam as mãos antes
de comer, a frase latina é “quare non baptizatus esset” e a
frase grega é “ou proton ebaptiste”, demonstrando assim o
significado do verbo “baptizô” no sentido de lavar. Para lavar
as mãos, nem sempre as mergulhamos em água, muitas vezes apenas
derramamos água sobre elas. Ou seja, além dos aspectos puramente
doutrinários, há ainda o suporte no estudo etimológico dos termos.
E podemos ainda levar em consideração o aspecto da praticidade.
Como batizar por imersão uma criança que esteja enferma, sem correr
o risco de piorar sua condição de saúde? E mesmo no caso de
pessoas sadias, o ritual seria extremamente incômodo pela
necessidade de ter de realizar o batismo nos rios, lagoas, açudes,
etc., ou em tanques de água preparados dentro dos templos, o que (ao
meu ver) desvirtua o sentido da imersão de acordo com o batismo de
Jesus, que ocorreu numa fonte de água natural. Se é para seguir o
ritual, então, que se o siga por completo.
Devemos ainda considerar a hipótese da carência da água em quantidade suficiente para a imersão, como ocorre, por exemplo, em certas localidades nordestinas. Conta-se que um certo pastor “evangélico” fazia pregações na África, num local onde a água era escassa e cara. Ele mandou fazer um tanque para mergulhar as pessoas e comprava água de um certo comerciante. Ao saber do destino da água, o comerciante começou a aumentar o preço da água e o pastor foi reclamar dele. Resposta do vendedor: o que tem muito aqui é areia, se você quiser fazer seu ritual com areia, não vai precisar comprar, mas se quer se dar ao luxo de fazer com água, deve ter condições de pagar... Em síntese, digo que a forma de realizar o batismo, se por imersão ou por aspersão, não é relevante, e sim a fé que deve motivar o fiel a receber o batismo. No caso de crianças pequenas, a fé é dos adultos que as levam a batizar e que se comprometem a catequizar o batizado na mesma fé que professam.
Acerca das leituras litúrgicas dessa festa, o evangelho de Mateus (3, 13-17) relata o batismo de Jesus por João, que já foi cognominado Batista exatamente pelo ritual que ele fazia com as pessoas convertidas, o batismo da penitência. João preparava os caminhos para a chegada do Messias e conclamava todos a fazerem penitência. O sinal da adesão era o batismo no rio Jordão. Para lá foi Jesus, com a finalidade de também ser batizado. Evidentemente, Jesus não precisava ser batizado e o próprio João se recusou, conforme relata Mateus (13, 14): 'Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?' Porém, Jesus o persuadiu a fazer igual como fazia aos outros, e assim ele fez. Sobre este fato, eu li um comentário interessante hoje, no site Zenit, do padre Antonio Rivero, nos seguintes termos: “podemos dizer que Jesus se batizou por nós. Submergiu-se naquelas águas para purificá-las, no contato com sua carne santíssima, e assim conferiu-lhes o poder de purificar. Submergiu-se também para fecunda-las, dando-lhes a capacidade de gerar filhos para Deus. ” Então, nessa linha de raciocínio, Jesus batizou-se não para purificar-se, porque já era totalmente puro, mas para purificar as águas do Jordão, e nestas simbolicamente todas as águas da terra, para conferir a elas o poder de nos purificar pelo batismo na fé da sua doutrina.
Além disso, o batismo de Jesus foi o primeiro momento em que se manifestou publicamente a Trindade divina, quando “o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo pousar sobre ele. E do céu veio uma voz... ” (Mt 13, 16), isto é, o início da pregação pública de Jesus foi oficialmente homologado pelas três pessoas divinas. Obviamente, naquele momento, as pessoas não compreenderam o que havia acontecido, mas posteriormente, após a ressurreição de Jesus, quando as comunidades dos primeiros fiéis fizeram a rememoração dos acontecimentos da Sua vida, de onde provêm os textos primitivos que deram origem aos evangelhos, puderam compreender o alcance desse fato deveras significativo.
Uma curiosidade que releva tratar aqui é que, do ponto de vista da fé, a data do batismo do cristão deveria ser comemorada assim como se comemoram as datas natalícias, porque essa data representa o nascimento para a comunidade eclesial. Com certeza, todos se recordam de que, quando recebíamos a batina no seminário, nós não comemorávamos mais o dia do aniversário, mas o dia do onomástico, isto é, o dia do santo padroeiro do seu nome, numa clara referência a um novo nascimento, que ocorria com a vestição religiosa. Essa mesma ideia bem que poderia ser adotada em relação à data do batismo. Porém, o que mais comumente ocorre é que a maioria dos cristãos não sabe ou não se recorda o dia do seu batismo, como se não atribuísse importância a essa data. As Paróquias mesmo não estimulam os fiéis a essa lembrança, o que fariam muito bem se assim procedessem.
Para finalizar, gostaria de ponderar que o batismo não deve ser um fato longínquo e esquecido na nossa caminhada existencial, mas um fato a ser testemunhado diuturnamente, na nossa vivência de cristãos, seja na família, seja no trabalho, nas relações familiares, nas amizades, na vida social em geral, através do nosso comportamento de pessoas engajadas e comprometidas com a fé assumida no batismo. Que o divino Espírito nos assista constantemente no exercício dessa missão.
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