sábado, 12 de dezembro de 2020

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 3º DOMINGO DO ADVENTO - 13.12.2020

 

O ÚLTIMO PROFETA


Na liturgia deste domingo (13.12.2020), o tema predominante é o refrão “Alegrai-vos, Ele está bem perto”, sendo por isso denominado o domingo “laetare” (alegrar-se). No evangelho, os fariseus questionam sobre a identidade de João Batista, porque multidões a ele acorriam: “quem és tu, afinal?”, perguntavam-lhe. E ele, humildemente, negava ser o Messias ou um profeta, definindo a si próprio como “a voz que clama no deserto”. Poorém, Jesus irá dizer dele, em outra ocasião (Mt 11,11) que João Batista é muito mais do que um profeta e, dentre os nascidos da raça humana, ninguém é maior do que ele. Com efeito, João Batista foi o último profeta, aquele que anunciou que o Messias já está no meio de nós. Com o Batista, encerrou-se o ciclo do Antigo Testamento, pois o Novo já estava chegando.


O evangelista João (Jo 1, 6-28), narra um episódio em que os fariseus vão até João Batista a fim de indagarem sobre a sua identidade. A fama de João Batista se espalhara na região e os líderes judeus queriam certificar-se de quem era ele e, para isso, mandarem mensageiros a indagar-lhe. Quem és, afinal, para que possamos informar os que nos enviaram? João Batista, então, serviu-se das palavras do profeta Isaías para falar de si próprio: eu sou a voz que clama no deserto – aplainai os caminhos do Senhor. E ao afirmar que ele não era o Messias, acrescentou que “no meio de vós, está aquele que virá depois de mim”, isto é, eu não sou o Messias, mas Ele já está no meio de vós. João tinha consciência plena da sua missão preparatória, conforme ele mesmo proclamou em outra ocasião: é preciso que Ele cresça e eu desapareça. (Jo 3, 30) Ou como ele diz no evangelho de hoje: eu não sou digno nem de desamarrar as correias das Suas sandálias. (Jo 1, 27)


Os fariseus estranharam: porque João batizava sem ser um profeta. Aqui, podemos considerar dois aspectos. Primeiro, Jesus mesmo disse que João era mais do que um profeta. Etimologicamente, a palavra “profeta” deriva do grego “pro+fainô”, isto é, falar por alguém, falar em nome de alguém. A palavra correspondente, em hebraico, é NAVI (ou NABI), que significa “aquele que tem uma antevisão dos fatos”, o que ocorria geralmente com as manifestações de Javeh em sonhos para certas pessoas. Então, João Batista era mais do que isso, porque ele não falava em nome de alguém, mas em nome próprio, porque ele foi a primeira testemunha da chegada do Messias; e ainda porque ele não recebera nenhuma antevisão através de sonhos, como acontecera com os profetas anteriores. Os teólogos consideram João Batista o último profeta do Antigo Testamento, e de fato, ele foi um profeta especial, um profeta-testemunha, enquanto os outros eram apenas porta-vozes. A maior profecia de João Batista, na verdade, a sua maior revelação, foi a de dizer para aqueles que iam ouvi-lo na margem do Jordão, onde ele batizava: o Messias já está no meio de vocês.


Um outro fato a merecer destaque era o batismo trazido por João, donde lhe advém o cognome de Batista. Os outros profetas não batizavam. Na sua tradição religiosa, os judeus praticavam um ritual de purificação com água, chamado “tevilah”, que era adotado sobretudo pelas mulheres, após o ciclo menstrual ou após o parto, para se purificarem e voltarem à sinagoga. As mulheres não podiam ir à sinagoga durante a menstruação nem durante o puerpério (resguardo). João utilizou esse ritual, dando a ele um significado novo, a “tevilah” de arrependimento, a mudança de vida, preparando o caminho para a chegada do Messias. João também modificou o formato desse ritual, fazendo-o através da imersão do corpo todo no rio, significando que ao emergir, o fiel estaria renascendo, abandonando a sua vida de pecados para reviver purificado. O próprio Jesus se submeteu a esse ritual, embora não necessitasse de arrependimento. Mas o fato de Jesus ter-se associado a esse ritual é uma amostra de que Ele estava aprovando aquilo e reconhecendo o valor daquele rito simbólico. Com a tradução para o grego, a palavra hebraica “tevilah” passou para “baptizô” (ou baptismô), que significa também lavar, derramar, aspergir, tendo essa palavra grega assumido todos os significados da “tevilah” hebraica, inclusive as abluções que os judeus faziam (lavagem das mãos) antes das refeições. João deu um significado mais amplo e profundo para a “tevilah” (ou baptismô), que deixou de ser um ritual simples e repetitivo para tornar-se uma atitude única de mudança de comportamento, de assunção de um novo modo de vida. Aqui está mais uma razão para ele ser considerado o último profeta e “mais do que um profeta”, porque depois dele, não haveria mais nenhum outro, e sim a manifestação do próprio Deus, em Jesus Cristo.

 

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