COMENTÁRIO LITÚRGICO
– 18º DOMINGO COMUM – O PÃO DO CÉU – 05.08.2012
Caros Confrades,
A liturgia deste 18º
domingo do tempo comum nos convida a refletir sobre o pão do céu,
oferecendo a leitura de Exodus (16, 2) como início desse tema. O
maná, que o povo recolhia no deserto todos os dias, era o símbolo
do verdadeiro Pão do céu, deixado a nós por Cristo.
Um comportamento
característico do povo de Deus em marcha pelo deserto era a
infidelidade a Javeh, através da simpatia para com os ídolos dos
pagãos. Por causa disso, Javeh os castigava deixando-os com fome.
Quando eles foram se queixar a Moisés, dizendo que era melhor ter
ficado como escravos no Egito, porque pelo menos lá não faltava
comida, Javeh respondeu, através de Moisés, que eles iriam comer
carne ao anoitecer e pão ao amanhecer, e assim identificariam que
era o Senhor que estava providenciando os alimentos. Diz o texto
bíblico que, ao entardecer, um banco de codornas chegou ao
acampamento, de modo que eles puderam capturá-las e comer carne em
abundância; e ao amanhecer, um denso orvalho foi aos poucos se
transformando em grãos sólidos, os quais foram usados para fazer
pão. Javeh cumprira sua promessa.
Sabemos que, alguns
dias depois, o povo foi novamente se queixar a Moisés, porque
estavam enjoados de comer aquilo todos os dias, ou seja, o povo
estava sempre insatisfeito, sempre a provocar a ira de Javeh, sempre
buscando uma desculpa para justificar as suas infidelidades e o seu
descumprimento da lei. Se observarmos bem, nos dias de hoje, essa
mesma situação continua a se repetir, os cristãos muitas vezes têm
esse mesmo comportamento inconstante e interesseiro, e a misericórdia
divina continua a agir sempre perdoando, como foi no passado.
Na leitura do
evangelho, retirado de João (6, 24), temos a sequência do milagre
da multiplicação dos pães. Após haver sido saciado com o alimento
miraculoso, os judeus saíram em massa a procurar por Cristo, até
encontrá-Lo do outro lado do mar da Galiléia. Ao ver aquela
multidão se aproximando, Jesus demonstrou certa irritação: “estais
me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e
ficastes satisfeitos”
(Jo, 6, 26), parecia que o povo estava mais interessado na comida do
que nos ensinamentos de Jesus. Então, ele recordou a todos o
fenômeno miraculoso do maná no deserto, cuja descrição era de
todos conhecida: “não
foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos
dá o verdadeiro pão do céu.”
(Jo, 6, 32) Jesus faz aí um jogo de palavras para depois concluir
que Ele é o verdadeiro Pão do céu, antecipando o que Ele iria
fazer na última ceia. “'Eu
sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê
em mim nunca mais terá sede.”
(Jo 6, 35).
Naturalmente, os
ouvintes de Jesus não atinaram para o alcance do que Ele estava a
anunciar, nem os próprios apóstolos entenderam naquele momento,
vindo a compreender somente quando Jesus celebrou a ceia com eles. Os
judeus pediram: Senhor, dá-nos sempre deste pão, mas o que eles
imaginavam era um pão material, daqueles que se come mastigando e
enche o estômago. Na verdade, Jesus falava-lhes do 'pão da
palavra', que Ele estava a distribuir através do seu ensinamento.
Para ter acesso ao verdadeiro Pão do céu, é necessário antes
aceitar o pão da palavra e pô-la em prática na nossa vida. É
neste sentido que Paulo dirá depois que aquele que come a carne e
bebe o sangue de Cristo indignamente será réu no inferno. Para ter
'direito' de saborear o verdadeiro Pão do céu, é necessário antes
degustar o pão da palavra de Deus, alimento para a alma. Buscar o
Pão do céu sem ter-se alimentado antes com o pão da palavra
equivale a uma aproximação indigna daquele. E alimentar-se com o
pão da palavra não requer apenas ler a Bíblia, porque uma simples
leitura não surte efeito.
Eu já tive
oportunidade de dizer aqui outras vezes que a Bíblia não deve
apenas ser lida, mas deve ser estudada e comentada em grupos. Outra
coisa importante: cada livro da Bíblia deve ser lido e estudado
conforme suas peculiaridades, porque cada um deles foi escrito por um
autor diferente, em épocas e locais diferentes, então não se pode
ler, por exemplo, o livro dos Reis com a mesma mentalidade que se lê
o profeta Jeremias; ou o livro dos Provérbios com o mesmo espírito
com que se lê Macabeus. Embora estejam em sequência, no entanto, os
livros da Bíblia não são como capítulos de um livro, no qual o
assunto de um tem continuidade no outro. Não deve ser assim, mas
cada livro deve ser estudado e aprofundado, antes de se passar para o
próximo. Algum de vocês poderia perguntar como é possível
realizar isso, e eu direi: há duas maneiras. Uma delas é
inscrever-se num curso bíblico, seja presencialmente, seja pela
internet, há várias ofertas. A segunda maneira é buscando nas
livrarias católicas o estudo correspondente. Nas livrarias Vozes,
Paulus, Paulinas encontram-se livros sobre cada livro da Bíblia, de
modo que cada um pode, com autodidatismo, aprender a ler a Bíblia da
forma correta, não como se lê uma revista ou uma obra de
literatura.
Na segunda leitura,
retirada da carta de Paulo aos Efésios (4, 17), lemos uma mensagem
que complementa a reflexão que fizemos antes, acerca do pão do
deserto ou o pão do céu do antigo testamento e o verdadeiro Pão do
céu, trazido pessoalmente por Cristo. Paulo exorta os Efésios a
despojarem-se do homem velho, que se corrompe sob o efeito de paixões
enganadoras, e a renovarem o espírito e a mentalidade. Completando,
diz ele: “Revesti
o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e
santidade.” (Ef 4, 24). O
homem velho, referido por Paulo, é aquele que comeu o pão caído do
céu no deserto, que alimenta apenas o corpo e com pouco tempo deixa
enjoado o paladar, levando a buscar outro alimento. O homem novo é o
que se alimenta do pão da palavra e do pão da eucaristia, alimentos
que abastecem a alma e o corpo e que nunca deixarão enjôo no
paladar e, portanto, nunca trarão a vontade de buscar outro
alimento.
Ao comentar isso, eu
não estou querendo dizer que é necessário ir à missa todos os
dias ou até mesmo ler a Bíblia todos os dias, porque isso seria
raciocinar mecanicamente, como fizeram os judeus com o pão dado no
deserto. É claro que, se alguém tem tempo disponível e devoção
suficiente para ir à missa todos os dias, tanto melhor que o faça.
Mas não apenas estes estarão se alimentando adequadamente, porque o
verdadeiro Pão do céu (palavra + eucaristia) não deve ser
associado a situações temporalizadas. A Igreja manda que se assista
à missa aos domingos e dias santificados, mas essa é uma regra
administrativa prática. Com efeito, Cristo nunca falou com que
frequência o Pão deve ser consumido nem estabeleceu datas e
horários para se celebrar a eucaristia. Ele também não disse:
tomai e comei todos os dias, ou todas as semanas, ou todos os
meses... Ele simplesmente disse: tomai e comei... tomai e bebei...
deixando a cada um a tarefa de estabelecer o seu tempo útil e
necessário.
Mais uma coisa. Nesses
tempos de informatização e de internet, nós não precisamos andar
com a Bíblia debaixo do braço, como fazem alguns irmãos separados,
pois ela está acessível em qualquer computador a qualquer momento.
Quem nunca fez isso, coloque no mecanismo de busca a palavra
'liturgia diária', vão aparecer inúmeras opções para quem quiser
fazer a sua leitura diária, ali mesmo na hora em que está
trabalhando, lendo e-mails, lendo notícias, etc, a Palavra está ali
junto, basta um clique para achá-la. A título de sugestão, eu
gosto de seguir o link da CNBB (www.cnbb.org.br
– liturgia diária). Não demora que dois ou três minutos para que
possamos tomar o nosso alimento espiritual, preparando-nos para a
eucaristia.
Que o divino Mestre nos
ensine e nos ajude a buscar o verdadeiro Pão trazido diretamente por
Ele, a mando do Pai, e nos faça sempre mais integrar esses
ensinamentos na nossa vida cotidiana.
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