domingo, 19 de agosto de 2012

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 20º DOMINGO COMUM - FESTA DA ASSUNÇÃO DE MARIA - 19.08.2012 - MARIA MÃE DA IGREJA


COMENTÁRIO LITÚRGICO 20º DOMINGO COMUM – FESTA DA ASSUNÇÃO DE MARIA – 19.08.2012 (MARIA MÃE DA IGREJA)

Caros Confrades,

Neste 20º domingo comum, a liturgia eclesiástica abre espaço para a celebração da festa da Assunção de Maria, uma concessão especial para o Brasil, autorizada pela CNBB, dentro do acordo com o Governo brasileiro acerca dos feriados religiosos. Visto que o dia próprio da festa, 15 de agosto, caiu numa quarta feira, transfere-se a celebração para o domingo seguinte. Mesmo no caso específico de Fortaleza, que celebra a festa da Assunção na data própria, por causa do feriado municipal, a festa litúrgica é transferida para o domingo, seguindo a orientação nacional da CNBB.

Esta concessão especial para o Brasil através da CNBB é decorrente das alterações litúrgicas aprovadas pelo Concílio Vaticano II, que deu autonomia às conferências dos Bispos para fazerem adaptações para os cultos locais. O mesmo Concílio autorizou e o Papa Paulo VI proclamou Maria Mãe da Igreja, em 21.11.1964, ao encerrar a sua terceira sessão e ao promulgar também a Constituição Dogmática Lumen Gentium (sobre a Igreja no mundo de hoje). O título de Maria Mãe da Igreja foi justificado, pelos padres conciliares, pelo fato de que os cristãos compartilham com Cristo a paternidade de Deus e a maternidade de Maria. Esta nova designação foi também um prolongamento de uma proclamação anterior, feita pelo Concílio de Éfeso, em 431, reconhecendo em Maria a Mãe de Deus (Theotókos), contra a heresia de Nestório que afirmava que Maria era apenas a mãe de Cristo enquanto homem, mas não de Cristo Deus, porque Este não teve mãe, uma vez que sua existência é eterna. O Concílio de Nicéia (ano 325) já havia proclamado as duas naturezas (divina e humana) de Cristo e o Concílio de Éfeso, em complementação, afirmou que Maria é Mãe de Cristo homem e Deus, portanto, Mãe de Deus. E na sequência do pensamento teológico desenvolvido pelo apóstolo Paulo, acerca da Igreja como Corpo Místico de Cristo, a tradição católica passou a venerar Maria como Mãe da Igreja, título que foi proclamado oficialmente pelo Concílio Vaticano II.

No discurso de encerramento da terceira sessão do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI afirmou: “Com efeito, é a primeira vez —  e dizê-lo enche-Nos a alma de profunda emoção —  é a primeira vez que um Concílio Ecuménico apresenta síntese tão vasta da doutrina católica acerca do lugar que Maria Santíssima ocupa no mistério de Cristo e da Igreja”. E na Exortação Apostólica “Signum Magnum”, publicada pouco depois, o mesmo Paulo VI voltaria a repetir o fato: “Está ainda viva, Veneráveis Irmãos, no nosso ânimo a recordação da grande emoção sentida ao proclamar a augusta Mãe de Deus como Mãe espiritual da Igreja e portanto de todos os fiéis e sagrados Pastores, a coroar a terceira sessão do Concílio Ecuménico Vaticano II, após ter solenemente promulgado a Constituição Dogmática «Lumen Gentium».

Meus amigos, eu estou fazendo este preâmbulo sobre Maria, lembrando-me da primeira leitura da liturgia de hoje, retirada ao Apocalipse (12, 1), que fala do grande sinal (signum magnum) visto por João no céu: uma mulher vestida com o sol, calçada com a lua e coroada com 12 estrelas. Ela estava grávida e, ao lado, apareceu um grande dragão, com sete cabeças e dez chifres (João não diz como era a disposição desses 10 cornos nas 7 cabeças, podemos então imaginar), que ficou ali esperando a criança nascer, para a devorar. De acordo com a interpretação teológica desde os tempos mais antigos, o Apocalipse trata das coisas que hão de vir, portanto, uma visão escatológica, mas de um futuro sem data prevista e que, podemos admitir, não acontece apenas uma vez, mas costuma se repetir. Refiro-me aos diversos 'dragões' que já se postaram diante da Igreja de Cristo, prontos para a devorar, em épocas passadas, e de vez em quando aparecem.

Ao repisar a primeira leitura de hoje, vieram-me à mente aqueles assombrosos fatos, dos quais já temos falado aqui neste espaço, versando sobre a fuga de documentos pessoais do Papa, façanha produzida pelos denominados 'corvos do Vaticano', que são os novos dragões apocalípticos dos nossos tempos. Os dilemas e os desafios encarados pelo Papa Bento XVI, cercado por uma verdadeira máfia dentro do Vaticano, nos lembram a figura da mulher do Apocalipse enfrentando o dragão, que está prestes a devorar o recém-nascido. No caso do dragão do apocalipse joanino, a mulher se safou, porque fugiu para o deserto, para um lugar que Deus tinha lhe preparado. Mas o nosso Papa não tem um deserto para onde fugir, então ele deve mesmo ficar exposto às labaredas que o dragão expele por sua enorme fornalha bucal e ainda sair sorrindo para toda a humanidade, como se nada estivesse acontecendo.

Firme na minha fé teológica e historicamente fundamentada, eu creio que Deus sempre prepara um lugar seguro em algum deserto espiritual, para onde levará refugiada a mulher assolada pelo dragão, no caso, a nossa Mãe Igreja. Tenho convicção de que a Igreja de Cristo não será devorada pelo dragão da insensatez e da ganância demonstrada pelos membros da sua própria hierarquia, mas que antes disso, o Papa ainda terá que suportar muitas vicissitudes, disso eu também não tenho dúvida. Num artigo publicado num jornal alemão (repassado pelo nosso Confrade Gerardo-Frei Mário), em 11.06.2012, os jornalistas fizeram a seguinte análise: “A velha guarda do Vaticano, composta por cardeais italianos e os seus apoiadores, acreditavam que tinham encontrado um Papa de transição em Ratzinger. Mas agora a transição está em seu oitavo ano, e a Cúria está mais ou menos onde ela estava, perto do fim da vida do Papa anterior (João PauloII): não há ninguém à vista para assumir com firmeza o leme. ” E dizem mais: “O clima no Vaticano é apocalíptico. O Papa Bento XVI parece cansado e mais incapaz e sem vontade de tomar as rédeas, em meio a lutas ferozes e a um escândalo, enquanto os controladores do Vaticano brigam pelo poder e especulam sobre o seu sucessor.”

Meus amigos, nesse contexto tão perturbador, a proclamação do Concílio Vaticano II veio em muito boa hora, atribuindo a Maria o título de Mãe da Igreja. Será realmente indispensável que Maria tome na mãos a nossa Igreja, para conduzi-la ao seu lugar seguro no deserto simbolizado por João no capitulo 12 do Apocalipse, porque o nosso Papa já não tem mais idade nem saúde para enfrentar as difíceis agruras com que se depara. Neste ano, em que se comemoram os 50 anos da instalação do Concílio Vaticano II, a lembrança do título de Maria Mãe da Igreja é por demais oportuna para que, nas nossas orações, recomendemos insistentemente a nossa Igreja à sua materna proteção. O Monsenhor Vitaliano Mattioli, articulista da revista eletrônica Zenit (www.zenit.org), em recente artigo (17.08.2012), recordou a profética declaração de um jornalista italiano, nesses termos: “Em 1966, o jornalista italiano Alberto Cavallaria escreveu em um livro-entrevista: "O verdadeiro significado do Concílio Vaticano II só será reconhecido depois de muitas décadas e toda conclusão rígida torna-se imprudente" ” O tempo vem demonstrando que o jornalista estava mesmo inspirado, ao fazer esta conclusão, porque passados estes 50 anos, o verdadeiro sentido e a verdadeira lição trazida pelo Concílio ainda está em fase de assimilação, o que tem gerado as naturais dissidências de toda mudança estrutural em qualquer organização, mas que tem se prejudicado por causa dos grupos extremistas de uma e de outra vertente, que se debatem entre si, em vez de buscarem através do diálogo, o melhor entendimento do verdadeiro espírito do Concílio.

Tradicionalistas e progressistas, grupos que começaram a se desenhar logo após o encerramento do Concílio, situação que se esperava fosse abrandando com o passar do tempo, só tem cada vez mais levado a recrudescimentos de ambas as partes, causando intensa angústia em todos os Papas, desde Paulo VI até Bento XVI. Essas posições antagônicas e radicais, por si sós, já depõem contra a orientação dada pelo Papa João XXIII, na abertura do Concílio, quando ele conclamou toda a Igreja à união entre os próprios fiéis e também com os irmãos separados. Além de essas atitudes não promoverem a última parte dessa convocação do Papa, ainda estão criando uma outra cisão, onde deveria haver a maior união.

Que Maria, a Mãe da Igreja, inspire as nossas autoridades na busca do verdadeiro caminho a ser trilhado. Rezemos nesta intenção.

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