quarta-feira, 28 de março de 2018

QUARTA FEIRA DA SEMANA MAIOR - 28.03.2018

FERIA QUARTA MAJORIS HEBDOMADAE (QUARTA FEIRA DA SEMANA MAIOR)

Os rituais comemorativos da Semana Santa da Igreja Católica evocam tradições muito antigas, cuja origem por vezes não está bem esclarecida. Desde criança, eu ouvia os mais velhos dizerem que a quarta feira da Semana Santa era dita “quarta feira de trevas”, porque nesse dia Jesus houvera sido preso pelos soldados romanos.

Pesquisando na internet, encontrei uma publicação de 1705, das obras do papa São Gregório (Cognomento magni opera omnia – tomus tertius), em cuja página 321 consta o seguinte:
“Ex more antiquo, quem videre est apud Alcuinum lib. de divinis Officiis cap. de feria quarta majoris hebdomadae: Dicit orationes solemnes, sicut in sexta feria. Et rationem subjungit quia hac feria consilium inierunt Judaei de Jesu capiendo. Ex Romana consuetudine, debere eadem die ante publicum officium orationes quae solemus in sexta feria agere, recitari.”

Assim traduzo: “Por costume antigo, que parece estar no livro sobre os Ofícios divinos de Alcuíno, capitulo sobre a quarta feira da Semana Maior: Diz-se orações solenes, assim como na sexta feira. E subordina-se o motivo ao fato de que nesse dia os Judeus deliberaram a prisão de Jesus. Pelo costume romano, devem ser recitadas nesse dia, antes do oficio publico, as orações que costumamos fazer na sexta feira.”

Alcuino de York foi um monge inglês, que viveu em 735-804, no tempo do imperador Carlos Magno, de quem era conselheiro. Se Alcuíno já se referia a esse costume, então trata-se de uma tradição realmente antiga, anterior ao primeiro milênio.

Um pouco adiante, na página 336 do mesmo livro, está a seguinte anotação: "inicia-se o rito da quinta feira da Semana Maior, isto é, quinta feira da Ceia do Senhor". Parece-me curioso que, desde aquela época, não se observara uma incoerência cronológica que há nessas duas comemorações. Se Jesus foi preso na quarta feira e levado a julgamento em seguida, como poderia estar, no dia seguinte, fazendo a Ceia com os apóstolos?

Mais curioso ainda é o que consta textualmente: “Com os demais Apóstolos, na última ceia, Nosso Senhor Jesus Cristo ofereceu seu corpo e sangue ao traidor Judas.” Sabe-se que, depois da ceia, Judas saiu para encontrar-se com os chefes dos sacerdotes interessados na prisão de Jesus.

Coordenando esses relatos, conclui-se que a última ceia deve ter sido na terça feira, tendo a prisão de Jesus ocorrido na noite daquele dia, visto que, para os judeus, após o por do sol, já se considera o dia seguinte, portanto, quarta feira.

Faço essas ponderações e observações não com o intuito de alegar erro litúrgico ou doutrinário, apenas para esclarecer uma melhor probabilidade cronológica. Com efeito, as comemorações da Semana Santa possuem um elevado conteúdo simbólico representativo que ultrapassa esses detalhes acerca de sua cronologia.

Ao ensejo, formulo votos de Feliz Páscoa a todos.

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