terça-feira, 15 de maio de 2018

COMENTÁRIO LITÚRGICO - 6º DOMINGO DA PÁSCOA - 06.05.2018

COMENTÁRIO LITÚRGICO – 6º DOMINGO DA PÁSCOA – ESCOLHIDOS PELO PAI – 06.05.2018

Caros Confrades,

Neste 6º domingo da Páscoa, as leituras nos revelam o quanto somos privilegiados: não fomos nós que escolhemos o Pai, mas foi o Pai quem nos escolheu. E Jesus Cristo nos ensina como é que devemos fazer para merecer tão grande distinção nessa escolha: se guardardes os meus mandamentos, permanecereis em mim, assim como eu guardo os mandamentos do Pai e permaneço nele. E o mandamento de Cristo, todos nós já sabemos: é o mandamento do amor. E não há ocasião melhor para falar sobre esse assunto do amor do que nesta semana que antecede a festa das mães.

Na primeira leitura, do livro dos Atos (At 10,25), podemos perceber o amadurecimento da ideia da salvação trazida por Cristo na mente dos apóstolos, através do discurso de Pedro perante os gentios de Cesareia, liderados por Cornélio, que era um centurião romano convertido ao cristianismo e que influenciara a conversão de muitas pessoas daquela cidade, porém ainda não tinham sido batizados. Nos versículos anteriores (Atos 10, 10-14), Pedro se vira numa situação embaraçosa, que foi a seguinte: estava com fome e teve uma visão de um grande lençol que descia do céu cheio de animais e aves, e o anjo lhe disse para escolher a comida. Pedro se recusou, porque havia ali animais que os judeus consideravam impuros, então o anjo disse: não tenhas por impuro aquilo que Deus purificou. Foi quando Pedro recebeu a visita dos emissários de Cornélio, que foram convidá-lo para ir até a casa deste, e Pedro foi. Ao chegar lá e vendo grande quantidade de gentios convertidos, Pedro pronunciou um discurso que hoje seria denominado de ecumênico: “estou compreendendo que Deus não faz distinção entre pessoas, pelo contrário, Ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença”. Este discurso é significativo porque dá a entender que, até então, Pedro ainda tinha dúvida sobre o modo de apresentar a mensagem de Cristo aos gentios, porque havia aquela famosa discussão se os pagãos, ao se converterem, deviam aceitar os costumes judeus como condição para a sua conversão. Mas naquela ocasião, ele declarou que afinal tinha compreendido que isso não era necessário, pois Deus havia purificado os pagãos da mesma forma que purificara os alimentos considerados impuros pelos judeus. E diz o texto de Atos (10, 44) que Pedro ainda estava falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a sua palavra. Isso veio corroborar o que Pedro acabara de afirmar, isto é, o Espírito Santo confirmou o discurso de Pedro perante todos os presentes. E continua o texto de Atos (10, 45) afirmando que os “judeus” ficaram admirados ao verem o Espírito Santo descendo também sobre os pagãos, eles que se consideravam os autênticos seguidores de Cristo, por serem judeus convertidos e pensavam ser necessário que os pagãos primeiramente se tornassem judeus (pela circuncisão), para depois se tornarem cristãos.

Com efeito, o texto latino traduzido pela CNBB usa aqui a palavra 'judeus', mas o texto original de São Jerônimo diz 'circuncisione fideles', ou seja, os que eram leais ao judaísmo, que acreditavam na circuncisão. Nesse contexto, ficou então decidida a polêmica, confirmando-se que a circuncisão não seria necessária, passando a prevalecer o entendimento de que não deve haver distinção entre judeu, grego, romano ou asiático ou de qualquer outra nação, circunciso ou incircunciso, pois o Espírito de Deus foi derramado sobre os pagãos na presença dos judeus. Na verdade, o que deve prevalecer entre os discípulos de Cristo não é a nacionalidade ou a herança genética, mas a observância do seu mandamento do amor.

Na segunda leitura, da carta de João (1Jo 4, 7-10), o apóstolo repete o tema que lhe é tão caro em todos os seus textos: amemo-nos uns aos outros, porque todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. E então, ele confirma que nós fomos escolhidos, nós não escolhemos: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho ” (1Jo 4, 10). Esta afirmação de João guarda total sintonia com o discurso de Pedro, referido na primeira leitura, razão pela qual a mensagem cristã chegou até nós. Os judeus pensavam que eles eram os escolhidos, porque eram os herdeiros da antiga aliança. Mas os judeus recusaram a aceitar Cristo como o Messias, então Jesus mandou os apóstolos a pregarem a sua mensagem a todos os povos da terra. E confirmou isso com demonstrações extraordinárias, como o fato narrado na leitura dos Atos 10, referida acima, em que os fiéis judeus viram o Espírito Santo descer sobre os gentios convertidos, antes mesmo que estes fossem batizados. Foi quando Pedro falou: “'Podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas que receberam, como nós, o Espírito Santo?' E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo.” (At 10, 47-48). A descida do Espírito Santo era a confirmação de que o Pai havia escolhido aqueles gentios e retirou da mente de Pedro qualquer dúvida que ele ainda tinha acerca da universalidade da salvação.

Na leitura do evangelho de João (Jo 15, 9-17), aparece este mesmo ensinamento, agora colocado na boca de Cristo: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi ” (Jo 15, 16). Jesus falava isso para os apóstolos, mas a escolha se estende a todos nós, cristãos. Deus nos amou primeiro e nos escolheu, ou seja, nos deu o privilégio de sermos seus amigos. E mandou o Filho para nos revelar isso e nos ensinar como devemos proceder para permanecermos nessa divina amizade. Em Jo 15, 14 Jesus diz que “vós sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos mandei”. E o que foi que ele mandou? Isso todos já sabemos: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. ” (Jo 15, 12) E explica: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. ” (Jo 15, 10) Então, meus irmãos, a única exigência para permanecermos amigos do Pai é esta e está dita com todas as letras, não há como não compreender. No vers. 15,15 essa amizade está mais do que confirmada: “Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. ” Pensemos bem nesse tão grande privilégio com que o Pai nos distinguiu: sermos escolhidos por ele. E a condição é também totalmente acessível a qualquer pessoa: amar o próximo.

A propósito da festa das mães, no próximo domingo, temos um momento oportuno para falar do amor na sua forma incondicional. Uma empresa colocou um anúncio de contratação de empregados, que deviam ter as seguintes qualificações: entender de medicina, psicologia, economia, gastronomia; estar disponível para trabalhar 24 horas por dia e 7 dias por semana, sem descanso e sem horário para dormir, monitorar constantemente os seus subordinados e acompanhá-los mesmo durante a noite; não há férias, não há salário, não há aposentadoria. E os pretendentes faziam cara de estupefação: isso não é emprego, é escravidão, é impossível alguém aceitar esse encargo. Então, o entrevistador dizia que aquela função era ser mãe e todos, sem exceção, concordaram que essas qualificações são todas reais em todas as mães. E o mais notável e incompreensível de tudo isso é que, mesmo sabendo com antecipação de que a situação é assim, todas as mulheres querem ser mães. E aqui deixem-me puxar um pouco a brasa para a sardinha dos pais, porque a maternidade é compartilhada com a paternidade, tanto a paternidade quanto a maternidade vêm de Deus e têm a mesma dignidade.

Pois bem. O Pai nem exige tanto de nós para continuarmos na condição de amigos dele, e se pensarmos que mães e pais se dispõem a tanta dedicação quando decidem gerar um filho, podemos concluir que não é muito o que Deus nos pede para sermos amigos dele. Se as pessoas são capazes de tanta abnegação e disponibilidade por uma causa oriunda da natureza, é só direcionar esse mesmo comportamento para o bem dos irmãos, por uma causa oriunda do espírito, e assim estaremos sendo fiéis ao mandamento de Cristo e nos dignificando para merecermos a sublime honra de sermos amigos do Pai.

Cordial abraço a todos.
Antonio Carlos

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