COMENTARIO LITURGICO – SOLENIDADE DO
BATISMO DO SENHOR – 13.01.2019
Caros amigos,
O calendário litúrgico celebra hoje a festa do Batismo do Senhor. Esta cerimônia, realizada no rio Jordão, representa o início da vida missionária de Jesus. Igual a todos os bons judeus, Jesus sempre cumpriu os rituais próprios do judaísmo: comparecimento regular à sinagoga no sábado, jejuns, festa da páscoa, festa dos tabernáculos, a observância da lei mosaica. O batismo não fazia parte, propriamente, da Lei, mas passou a ser um ritual de transição entre a antiga lei e a lei nova, através da pregação de João, o último profeta do Antigo Testamento. João conclamava todos os judeus à metanóia (mudança de pensamento – conversão) e ao arrependimento, de modo que o símbolo da adesão a este movimento era o fato de alguém apresentar-se para receber o batismo. Sabemos que, na verdade, Jesus não precisava ser batizado, pois o batismo se destina ao perdão dos pecados, mas Ele quis cumprir todo o protocolo e foi nessa ocasião que, pela primeira vez, ocorreu a manifestação da Trindade divina.
O calendário litúrgico celebra hoje a festa do Batismo do Senhor. Esta cerimônia, realizada no rio Jordão, representa o início da vida missionária de Jesus. Igual a todos os bons judeus, Jesus sempre cumpriu os rituais próprios do judaísmo: comparecimento regular à sinagoga no sábado, jejuns, festa da páscoa, festa dos tabernáculos, a observância da lei mosaica. O batismo não fazia parte, propriamente, da Lei, mas passou a ser um ritual de transição entre a antiga lei e a lei nova, através da pregação de João, o último profeta do Antigo Testamento. João conclamava todos os judeus à metanóia (mudança de pensamento – conversão) e ao arrependimento, de modo que o símbolo da adesão a este movimento era o fato de alguém apresentar-se para receber o batismo. Sabemos que, na verdade, Jesus não precisava ser batizado, pois o batismo se destina ao perdão dos pecados, mas Ele quis cumprir todo o protocolo e foi nessa ocasião que, pela primeira vez, ocorreu a manifestação da Trindade divina.
O tema do batismo sempre despertou severas polêmicas entre a Igreja Católica e as demais igrejas cristãs, por diversas razões históricas, que todos conhecemos. Penso que as querelas mais significativas se concentram em dois pontos: 1. o batismo de crianças recém-nascidas, fato que não ocorria no início do cristianismo, tendo sido introduzida como prática muito tempo depois; 2. o ritual do batismo por mera aspersão (derramamento de pouca água na cabeça do batizando) e não por imersão (mergulho na água).
É fato que o batismo operado por João
Batista era feito por imersão no rio Jordão. Porém a questão a
ser debatida é saber se essa é a única forma de realizar o
batismo. Para melhor esclarecimento do tema, iniciemos com uma
análise gramatical do vocábulo “batizar”, derivado do verbo
grego BAPTIZÔ, que significa mergulhar, submergir, mas também
lavar. Por exemplo, na antiguidade, batizar era uma espécie de
suplício, que consistia em mergulhar um condenado até ele morrer
sem fôlego. Tinha, portanto, o sentido de imersão. Mas em Lucas
(11, 38), no episódio em que os fariseus se admiraram porque os
discípulos de Jesus não lavavam as mãos antes de comer, a frase
latina é “quare non baptizatus esset” e a frase grega é “ou
proton ebaptiste”, uso gramatical que indica o sentido do verbo
“baptizô” como “lavar”. Para lavar as mãos, às vezes, as
mergulhamos na água, mas muitas vezes apenas derramamos água sobre
elas e assim o verbo “baptizô” não tem como significado único
o de imergir. E podemos ainda levar em consideração o aspecto da
praticidade. Como batizar por imersão uma pessoa que esteja enferma,
sem correr o risco de piorar sua condição de saúde? E mesmo no
caso de pessoas sadias, o ritual seria extremamente incômodo pela
necessidade de ter de realizar o batismo nos rios, lagoas, açudes,
etc., ou em tanques de água preparados dentro dos templos, o que (ao
meu ver) desvirtua o sentido da imersão de acordo com o batismo de
Jesus, que ocorreu numa fonte de água natural. Se é para seguir o
ritual, então, que se o siga por completo.
Em relação ao aspecto doutrinário, o
batismo por imersão era a prática dominante no Antigo Testamento e
o próprio Jesus se submeteu a ela. Contudo, no Novo Testamento, há
diversos relatos sobre o batismo que sugerem uma forma diferente da
imersão, como por exemplo, em Atos 16, 33, quando Paulo batizou
pessoas na prisão. Certamente ali não havia um local com água para
imersão. O próprio batismo de Paulo por Ananias (Atos 9, 18),
realizado na casa de Judas, não deve ter sido por imersão. Do mesmo
modo, o episódio ocorrido após Pentecostes (Atos 2, 37-41), quando
cerca de 3.000 pessoas foram batizadas após a pregação de Pedro,
não deve ter sido por imersão. De qualquer modo, as duas formas
(imersão e aspersão) eram conhecidas desde os tempos cristãos
primitivos e ambas eram utilizadas circunstancialmente. Mas a
oficialização do batismo infantil e por aspersão ocorreu após as
disputas com Lutero (que não o aceitava), no século XVI. A Igreja
adotou a forma de aspersão e as razões teológicas para justificar
isso são duas fundamentais: 1. o fato de que a pessoa deve ser
purificada do pecado (no caso da criança, o pecado original) o
quanto antes possível, ou seja, logo após nascer, sem esperar a
idade adulta; 2. embora a criança de pouca idade não saiba o que
está ocorrendo, a Igreja age como mãe amorosa e faz isso por ser o
melhor para o pequeno fiel, assim como toda mãe só quer o bem dos
filhos, ficando com os pais e padrinhos a responsabilidade de ensinar
a criança e conscientizá-la, quando tiver entendimento.
Devemos ainda considerar a hipótese da
carência da água em quantidade suficiente para a imersão, como
ocorre, por exemplo, em certas localidades nordestinas e em outros
locais do mundo, onde a água é um bem escasso. Além disso, se as
duas formas de realizar o ritual foram sempre aceitas na antiguidade
(imersão ou aspersão), o simples fato de que o batismo de Jesus foi
por imersão não deve ser adotado como padrão, de modo que a outra
forma deva ser considerada inválida. Além do mais, eu diria que o
modo de realizar o batismo, se por imersão ou por aspersão, não é
isso que realmente importa, e sim a fé que deve motivar o fiel a
receber o batismo. No caso de crianças pequenas, a fé é dos
adultos que as levam a batizar e que se comprometem a catequizar o
batizado na mesma fé que professam.
Atendo-nos agora às leituras
litúrgicas de hoje, o evangelho de Mateus (3, 13-17) relata o
batismo de Jesus por João, no rio Jordão. Evidentemente, Jesus não
precisava ser batizado e o próprio João se recusou, conforme relata
Mateus (13, 14): 'Eu
preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?'
Porém, Jesus o persuadiu a fazer igual como fazia aos outros, e
assim ele fez. Na verdade, Jesus pediu para ser batizado por João,
diante da relutância deste. Com este ato, Jesus estava ensinando o
valor do batismo e consagrando a sua importância para o cristão.
Podemos concluir que Jesus batizou-se não para converter-se e
purificar-se, porque já era totalmente puro, mas para purificar as
águas do Jordão, e nestas, simbolicamente, abençoar todas as águas
da terra, para conferir a elas o poder de nos purificar pelo batismo
na fé da sua doutrina.
Além disso, o batismo de Jesus foi o
primeiro momento em que se manifestou publicamente a Trindade divina,
quando “o
céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e
vindo pousar sobre ele. E do céu veio uma voz...
” (Mt 13, 16), isto é, o início da missão pública de Jesus foi
oficialmente homologado pelas três pessoas divinas. Obviamente,
naquele momento, as pessoas que presenciaram o fato não
compreenderam o que havia acontecido, mas posteriormente, após a
ressurreição de Jesus, quando as comunidades dos primeiros fiéis
fizeram a rememoração dos acontecimentos da Sua vida, de onde
provêm os textos primitivos que deram origem aos evangelhos, puderam
compreender o alcance dessa sublime manifestação trinitária.
Uma curiosidade que releva tratar aqui é que, do ponto de vista da fé, a data do batismo do cristão deveria ser comemorada assim como se comemoram as datas natalícias, porque essa data representa o nascimento para a comunidade eclesial. Com certeza, todos se recordam de que, desde quando recebíamos a batina no seminário, nós não comemorávamos mais o dia do aniversário, mas o dia do onomástico, isto é, o dia do santo padroeiro do seu nome, numa clara referência a um novo nascimento, que ocorria com a vestição religiosa. Essa mesma ideia bem que poderia ser adotada em relação à data do batismo. Porém, o que mais comumente ocorre é que a maioria dos cristãos não sabe ou não se recorda o dia do seu batismo, como se não atribuísse importância a essa data. As Paróquias mesmo não estimulam os fiéis a essa lembrança, no que fariam muito bem se assim procedessem.
Para finalizar, gostaria de ponderar
que o batismo não deve ser um fato longínquo e esquecido na nossa
caminhada existencial, mas um fato a ser testemunhado diuturnamente,
na nossa vivência de cristãos, seja na família, seja no trabalho,
nas relações familiares, nas amizades, na vida social em geral,
através do nosso comportamento de pessoas engajadas e comprometidas
com a fé assumida no batismo. Que o divino Espírito nos assista
constantemente no exercício dessa missão.
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