COMENTÁRIO LITÚRGICO
– 1º DOMINGO DO ADVENTO – NOVA JERUSALÉM – 02.12.2012
Caros Confrades,
Com a liturgia de hoje,
1º domingo do advento, tem início o ano litúrgico de 2013, de
acordo com o calendário eclesiástico. Assim, conforme disse o Padre
Júlio Cesar na missa paroquial, é o momento de desejarmos Feliz Ano
Novo litúrgico a todos.
Todos os anos, nas
quatro semanas que antecedem o Natal, a liturgia nos leva a refletir
sobre as coisas que hão de vir (adventura), bem como sobre o Menino
que vai chegar (adveniens), convidando-nos a nos preparar para O
recebermos com o coração renovado. Sem entrar numa infindável e
estéril discussão histórica sobre a data do Natal (segundo alguns,
o nascimento de Cristo teria sido em março ou abril),
independentemente do contexto paganizado com que foi estabelecido o
dia 25 de dezembro para a celebração do nascimento de Cristo, o
fato é que a comemoração deve ser a marca da nossa preparação
espiritual, mais do que a referência a um dia específico. Ademais,
o Natal nesta data é uma festa que reúne todo o mundo ocidental,
esta grande concentração de energias mentais positivas é sempre um
momento a ser preservado.
As leituras deste
domingo fazem referência à segunda vinda de Cristo. A primeira já
aconteceu historicamente; a segunda vinda é esperada desde que ele
subiu aos céus na presença dos seus apóstolos e, ao longo dos
tempos, passou por diversos quadros interpretativos. Depois de
passados tantos séculos, já não se pensa mais numa data
determinada no calendário, mas num dia incerto e indefinido, como
está escrito no evangelho (Lc 21, 35). Dies illa, dies irae... dizia
aquele antigo e temível cântico gregoriano, do qual muitos de vocês
certamente se lembram, cantado diante da eça nas missas de finados.
É curioso observar que, em latim, a palavra dia (dies) é utilizada
no masculino e no feminino. Quando usada no masculino, refere-se a um
dia certo; quando usada no feminino, refere-se a uma data incerta,
como é o caso do 'dies illa'.
Na primeira leitura, o
profeta Jeremias diz que “naqueles dias, farei brotar a semente
da justiça que fará valer a lei... e Jerusalém terá uma população
confiante... e será designada como 'o Senhor é a nossa justiça'”.
(Jr 33, 15).
É a nova Jerusalém,
aquela que um dia há de ser destruída e depois será restaurada com
o nome de Justiça. Isso ocorrerá 'naqueles dias' que não se sabe
quando serão. Na verdade, simbolicamente o profeta está se
reportando à segunda vinda de Cristo, que virá restabelecer a
justiça na terra, esta representada pela imagem da
Jerusalém-justiça.
No advento, a cada ano,
nós reiniciamos a nossa preparação para esta futura vinda de
Cristo, no final dos tempos bíblicos, através dos atos litúrgicos
que nos rememoram a vida histórica de Cristo, para que estejamos
sempre vigilantes, como Ele próprio ensinou. Na segunda leitura,
carta de Paulo aos cristãos Tessalonicenses (1Ts 4,1), o apóstolo
os exorta a viverem como foi ensinado a eles, para agradar a Deus,
seguindo as instruções que lhes foram passadas em nome do Senhor
Jesus. É essa a mesma exortação que a Igreja, através da
liturgia, nos dirige no tempo do advento.
O evangelho de Lucas
(Lc 21, 25-36) traz a narrativa daqueles fatos que são indicativos
da segunda vinda de Cristo: “Haverá
sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão
angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas.”
Conforme já expus aqui neste espaço em comentários anteriores,
essa descrição não deve ser pensada textualmente, mas no sentido
metafórico. Em diversas épocas históricas, as pessoas já
utilizaram essas palavras proféticas para associar com eventos
naturais ou provocados pelo homem: catástrofes, guerras,
revoluções... e ainda hoje muitas pessoas ficam impressionadas com
os presságios de alguns que se dizem entendidos no assunto. Neste
momento, as atenções estão voltadas para um presumível 'fim do
mundo' no dia 21.12.2012, de acordo com as leituras de um antigo
texto da civilização Maia. Outros já interpretam o mesmo texto
como sendo uma mudança de era, um fenômeno cósmico que ocorre
dentro de uma média de 3.600 anos. Há poucos dias, eu li uma
matéria divulgada pelo site da NASA tentando acalmar as pessoas que
escreveram para lá pedindo informações sobre esse cataclismo,
algumas pessoas até afirmando que estão planejando suicidar-se
antes do fato, para não passar por ele.
Ora, vejamos.
Textualmente, no evangelho de Lucas (Lc 21, 26), até parece que
estas coisas estão descritas: “Os
homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao
mundo, porque as forças do céu serão abaladas.”
Mas Jesus disse diversas vezes que somente o Pai sabe esse dia, nem
Ele sabia, como é que uns pobres mortais poderão adivinhá-lo? Para
nós, o que importa é a fé na salvação que Cristo trouxe,
aconteça o que acontecer. O que Ele recomenda, e isso sim deve ser
sempre lembrado é: “Tomai
cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa
da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não
caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha
sobre todos os habitantes de toda a terra.”
(Lc 21, 34-35). Percebem, meus amigos, qual é a grande preocupação
de Cristo conosco? É para que não nos deixemos dispersar pelos
prazeres materiais e pelas preocupações da vida, para que a nossa
fé esteja sempre atenta. E o que ele pede é simples: ficai atentos
e orai a todo momento, para terdes força pra ficar de pé diante do
Filho do Homem.
Meus amigos, o nosso
conhecido e reverenciado Frei (Dom) Timóteo dizia uma frase que
sempre me impressionou: há mais tempo do que vida. A nossa vida, de
fato, é limitada no tempo, mas o tempo, esse não tem um limite
previsível. Então, o ensinamento de Cristo para que fiquemos
vigilantes sempre não se refere a um tempo abstrato e indefinido,
mas ao nosso tempo existencial. A nossa fé n'Ele deve ser renovada a
cada dia, para que não sejamos surpreendidos, não pelo fim do
mundo, porque deste nós não sabemos nada, mas pelo fim dos nossos
dias, porque estes têm um prazo até certo ponto previsível. Desde
os tempos mais antigos, o salmista já dizia: a 70 anos vai a duração
da nossa vida, a maior parte deles sofrimento e vaidade (Salmo 90,
10). Pela tabela mais recente do IBGE, a expectativa de vida do
brasileiro é em média 74 anos.
Desse modo, quando o
advento nos convida a estar vigilantes porque não sabemos o dia nem
a hora, a nossa atenção não deve se voltar para “o
Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória.”
(Lc 21, 27), mas para o dia em que cada um de nós deveremos ficar em
pé diante d'Ele, quando formos prestar conta da nossa existência.
Aproveitemos o tempo do
advento para renovar cada vez mais a nossa fé na sua divina
promessa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário