Caros Confrades,
Inicia-se, com o domingo de hoje, o ano litúrgico de 2012, com o primeiro domingo do advento. Para um melhor entendimento deste conceito, transcrevo um trecho colhido da internet: "O tempo do Advento formou-se progressivamente a partir do século IV e já era celebrado na Gália e na Espanha. Em Roma, onde surgiu a festa do Natal, passou a ser celebrado somente a partir do século VI, quando a Igreja Romana vislumbrou na festa do Natal o início do mistério pascal e era natural que se preparasse para ela como se preparava para a Páscoa. Nesse período, o tempo do Advento consistia em seis semanas que antecediam a grande festa do Natal. Foi somente com São Gregório Magno (590-604) que esse tempo foi reduzido para quatro domingos, tal como hoje celebramos."
Inicia-se, com o domingo de hoje, o ano litúrgico de 2012, com o primeiro domingo do advento. Para um melhor entendimento deste conceito, transcrevo um trecho colhido da internet: "O tempo do Advento formou-se progressivamente a partir do século IV e já era celebrado na Gália e na Espanha. Em Roma, onde surgiu a festa do Natal, passou a ser celebrado somente a partir do século VI, quando a Igreja Romana vislumbrou na festa do Natal o início do mistério pascal e era natural que se preparasse para ela como se preparava para a Páscoa. Nesse período, o tempo do Advento consistia em seis semanas que antecediam a grande festa do Natal. Foi somente com São Gregório Magno (590-604) que esse tempo foi reduzido para quatro domingos, tal como hoje celebramos."
A palavra deriva do verbo latino 'advenire' que significa 'chegar', portanto, no advento celebramos a espera daquele que vai chegar. Na liturgia, o tempo do advento prepara para o natal, assim como o tempo da quaresma prepara para a páscoa, as duas festas centrais da nossa fé católica: a encarnação do Verbo e a nossa redenção pela morte e ressurreição de Cristo.
Neste primeiro domingo do advento, o tema é a vigilância. Vigiai (vigilate) porque não sabeis a hora em que o dono da casa vai chegar. Na primeira leitura, o profeta Isaías (63, 19) anuncia: ah, se descesses dos céus, as montanhas se inclinariam diante de Ti. O cap 63 de Isaías, conforme já foi comentado aqui, faz parte do deutero-Isaías, ou seja, não foi escrito pelo próprio profeta, mas por seus discípulos, já depois do retorno do cativeiro da Babilônia. Então, o povo já havia superado aquele trauma da escravidão e vivia momentos de esperança. Por isso, diz ele no cap 64, 3 Nunca se ouviu dizer nem chegou aos ouvidos de ninguém, jamais olhos viram que um Deus, exceto tu, tenha feito tanto pelos que nele esperam. 4 Vens ao encontro de quem pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de ti em teus caminhos.
O povo retoma seu caminho de espera do salvador prometido, já esquecendo daquele libertador temporal, que foi o rei Ciro, o responsável pela libertação deles da Babilônia. Então, agradecem a Javeh pela restituição da sua liberdade, mas continuam na espera do cumprimento da promessa. No cenário litúrgico, nós celebramos neste período o tempo de espera do Salvador, tal como os hebreus do pós-exílio.
O tema do evangelho de Marcos (13,33) complementa esta atmosfera de espera com a exortação da vigilância, aproveitando a parábola de JC sobre o patrão que foi viajar e deixou os empregados vigiando sua casa, recomendando-os para que não abandonassem o serviço, porque ele retornaria a qualquer momento. Essa recomendação de JC através do evangelho de Marcos nos adverte que a espera da chegada do 'que há de vir' não pode ser aquela atitude de displicência, de espera bocejante e sonolenta, mas espera ativa e participante. Visto que a nossa 'espera' é simbólica, porque a chegada tem data certa e prevista, mesmo assim o nosso comportamento deve ser ativo, preparando os caminhos e aplainando as veredas, como diz outro trecho de Isaías.
O tempo do natal é sempre muito explorado comercialmente, é uma das datas mais festejadas pelos lojistas, ávidos por receber o 13º de todos. Perante a fé, no entanto, esses apelos comerciais não podem ofuscar o verdadeiro sentido da preparação para a chegada do natal, meditando sobre o grande mistério da encarnação, do Verbo divino que se encarnou. É interessante lembrar aqui a expressão grega donde se traduz o conceito de encarnação: "logos sarx egéneto" (a palavra em carne se gerou). Tornar-se carne (sarx) é sinônimo de se materializar. Mas não é uma materialização qualquer, como por exemplo, uma árvore, uma pedra, um líquido, mas a materialização na forma de carne quer dizer na forma humana, na forma de todos nós. A palavra de Deus é tão poderosa que se desprende dele em transforma em um ser autônomo, o Verbo, e este cumprindo a promessa se torna um de nós para nos ensinar a ser mais humanos, para nos humanizar, para mostrar que através da nossa humanização plena, nós estaremos conquistando a vida plena com Ele.
Daí o sentido de vigiar sempre, porque esta humanização é uma tarefa permanente, que dura a vida toda. Cada dia da nossa existência deve ser utilizado para conseguir ascender mais um degrau no caminho da humanização plena. No seminário, nos diziam que nós somos chamados à santidade, e para isso nós devíamos realizar determinadas tarefas de orações, práticas virtuosas e repressão dos sentidos. Hoje nós podemos compreender melhor que a santidade se alcança com uma vida sempre mais humanizada. É a lição que nos traz o mistério da encarnação. Se a carne (humanidade) não fosse valiosa, JC não teria se tornado um de nós, teria tomado a forma de um anjo, um ser incorpóreo. Portanto, nós não precisamos renunciar ao corpo para chegar à santidade, o que precisamos é viver a nossa humanidade de forma equilibrada e justa. Quanto mais nós nos humanizamos, quanto mais aprendemos a ser gente de verdade, mais próximos nós chegamos do ideal da santidade. Por isso, a necessidade da vigilância permanente.
Que Maria, o mais eloquente símbolo da espera do Salvador, nos ensine a vigiar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário