quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

DOMINGO DA PAZ – 01.01.2012



Caros Confrades,

Neste final de semana, dada a coincidência do domingo com o primeiro dia do ano civil, a liturgia foi mista, ou seja, no sábado (31/12), foi celebrada a Festa da Sagrada Família de Nazaré, a qual é comumente celebrada no domingo após o Natal, portanto, foi antecipada para o sábado; e hoje, dia 1/1, a Festa de Maria Mãe de Deus, coincidindo também com o dia mundial da paz.

Tem tudo a ver com a festa de Maria Mãe de Deus, porque ela é a rainha da paz, por ela chegou ao mundo a verdadeira paz. E tem tudo a ver tb com a figura do nosso Seráfico Patriarca, porque ele foi o artífice da paz no seu tempo. Basta lembrar, dentre tantos, o episódio da pacificação do lobo de Grubbio, os colegas devem se lembrar bem dessa história, que faz parte dos fioretti  de São Francisco. E a primeira leitura de hoje traz a emblemática oração da paz, contida no Livro dos Números, cap 6, 22, a qual era a saudação padrão de São Francisco, abreviada para a expressão Pax et Bonum. Mas a bênção da paz, tal qual foi dada por Javeh a Moisés para abençoar os filhos de Israel, era a oração clássica de São Francisco, principalmente quando um irmão estava em dificuldade: O Senhor te abençôe e te guarde; o Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e tenha piedade de ti; o Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz! Os colegas devem se lembrar que o nosso confrade Gregório compôs uma melodia para essa oração, a qual o Frei Higino gostava muito que se cantasse. Eram duas músicas do Gregório, que o frei Higino adotava como costume: aquela Falai, Senhor, que vossos servos vos ouvem... e a da paz.

Convém tb mencionar nesse contexto, a Oração de São Francisco: Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz... essa a sua oração mais característica. Por isso, afirmei acima que São Francisco foi um artífice da paz no seu tempo.

Abordando agora um pouco o tema litúrgico de hoje - Maria Mãe de Deus, vale lembrar que esse tema é bem característico da cultura católica ocidental e perene fonte de polêmica com os seguidores de Lutero, que não acreditam nisso. Nos primeiros tempos do cristianismo, surgiu a dúvida se Maria era mesmo mãe de Deus, ou apenas mãe de Cristo enquanto homem. Um bispo daquele tempo, chamado Nestório, afirmava isso categoricamente e foi proclamado hereje, porque não abdicou desse ponto de vista, quando a Igreja reafirmou a fé em Maria como Mãe de Cristo como Deus e como homem. Está no relato bíblico de Lucas, quando Maria foi visitar Isabel e esta vaticinou: de onde me vem a dita de que a mãe do meu Senhor venha me visitar? (Lc 1, 39) A doutrina de Nestório se coloca na mesma trilha de outro Bispo daquele tempo, chamado Ario, que afirmava que Cristo sofreu apenas como homem, porque como Deus ele não podia sofrer. Ora, isso seria negar a verdadeira humanidade de Cristo, era como se Ele fosse apenas um Deus disfarçado de homem, em forma humana, mas não um verdadeiro homem. Contra essas tendências, logo nos primeiros séculos, o Concílio de Nicéia (325 d.C.) veio confirmar a dupla natureza humana e divina de Cristo.

Um outro aspecto desse tema Maria Mãe de Deus, que é tb fonte de intermináveis polêmicas contra os não católicos é a respeito de Maria ter tido outros filhos, além de Jesus. Lutero e seus seguidores dizem que sim, porque na Bíblia consta que Maria deu à luz o seu primogênito (Lc 2,7), ou seja, filho primogênito é o primeiro filho, o mais velho e, portanto, houve outros filhos de Maria. Esta passagem é combinada com outra (Mt 12, 46), que diz assim: lá fora estão tua mãe e teus irmãos, que querem te ver. Não faz muito tempo, foi divulgada na imprensa a descoberta de um túmulo onde há a inscrição: Tiago, irmão de Jesus, isso foi um prato cheio para os protestantes. Pois bem, a exegese católica explica que a palavra grega 'adélphos', que é traduzida no latim por 'frater' e em português por irmão, tem um significado mais amplo do que na nossa língua. Assim, quando o grego usava a palavra adélphos não estava se referindo necessariamente a irmão de sangue, mas a um membro da família com parentesco próximo, por exemplo, um primo. Considerando que as famílias antigas eram muito numerosas, ou seja, moravam na mesma habitação do chefe da família os filhos destes, com os respectivos genros e noras e filhos destes (netos do chefe da família), então aquele aglomerado de pessoas era considerado uma família só e assim, mesmo aqueles que não eram filhos do mesmo pai/mãe eram considerados 'adelphos' num sentido amplo.

Esta explicação, contudo, não é aceita pela doutrina protestante e por isso eles criticam os católicos, que têm essa devoção extraordinária para com Maria, que muitas vezes supera a própria figura de Cristo, que devia ser o centro das atenções. Não se pode tirar totalmente a razão dos protestantes, porque a catequese tradicional deixou mesmo essa marca, não só em relação a Maria, mas aos santos em geral, que se apresentam na mente do fiel de uma forma bem mais enfática do que a figura de Cristo. No caso de Maria, incide toda a carga cultural da figura materna, que é um arquétipo fortíssimo na nossa cultura ocidental e se transfere para a vivência religiosa, nada de admirar, portanto, que tenha toda essa penetração na piedade popular.

Polêmicas à parte, a festa litúrgica de hoje nos recorda a importância do 'sim' de Maria, para que se realizasse, através dela, o mistério da nossa redenção. Que a Rainha da Paz nos ensine a ser verdadeiros instrumentos da divina paz, tal qual nos ensina o Seráfico Pai.
Renovados votos de Feliz Ano Novo a todos.

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