quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

32º DOMINGO COMUM – FESTA DE TODOS OS SANTOS – NOVAS TÁBUAS DA LEI - 06.11.2011



Caros Confrades,

A liturgia deste domingo (32º comum) comemora o dia de todos os Santos e Santas de Deus, por não ser mais feriado religioso o dia 1 de novembro. E as leituras são muito significativas para nossa reflexão acerca do nosso convite à santidade. Ser cristão é ser convidado à santidade, aliás, Paulo já disse que somos santos (Romanos 1,7) trecho que alguns tradutores substituem a palavra 'santos' por 'cristãos', até de forma desnecessária.

Em geral, quando falamos em santos, nos referimos àqueles e àquelas que tiveram sua vida de santidade considerada como exemplo para todos e por isso foram 'canonizados', ou seja, foram tornados modelos para todos nós. Mas no sentido paulino, santos são todos os cristãos que foram banhados no sangue do cordeiro pelo batismo, ou seja, nós. Santos e pecadores, dentro da nossa ambiguidade de seres humanos. Usando uma terminologia tradicional aristotélico-tomista, santos em potência e pecadores em ato.

Este conceito paulino de 'santos' combina com a leitura do Apocalipse (7,12) quando ele se refere à grande multidão que tinha vindo da tribulação e todos vestiam a veste branca, pois haviam sido lavados e enxaguados no sangue do cordeiro. Tratando-se da revelação (apocalipse), a linguagem metafórica de João significa os cristãos espalhados por todos os cantos do mundo sendo chamados à santidade e para isso, estamos sempre atravessando tribulações. Com efeito, a vida do cristão no mundo cheio de apelos ao materialismo, ao hedonismo, ao orgulho, às vaidades, à cobiça, apelos a que a nossa natureza enfraquecida está sempre tendendo a ceder, está permanentemente cercada de tribulações, pois todos os dias, são muitos os desafios a serem vencidos. De acordo com os comentaristas bíblicos, a imagem descrita por João no Apocalipse se destinava às comunidades cristãs primitivas, que passavam por sérias perseguições religiosas, muitos dos quais haviam morrido em consequência disso e os que sobreviveram encontravam-se grandemente amedrontados e sujeitos ao desânimo, então aquela imagem dos benditos que estavam chegando dos diversos lugares servia para estimular à perseverança na fé dessas comunidades ameaçadas. Mas no sentido transistórico da hermenêutica bíblica, a mesma imagem representa as grandes legiões de seguidores de Cristo, em todas as regiões do mundo, entre os quais podemos inclusive acrescentar aqueles e aquelas que, mesmo não tendo sido batizados, deram em sua vida o testemunho da mensagem cristã. Não podemos negar, por exemplo, que Gandhi e outros líderes das religiões orientais estejam fora dessa multidão referida por João no Apocalipse.

Este conceito está referendado no evangelho de Mateus (5, 1), o conhecido 'sermão da montanha', que é lido nesta solenidade de todos os santos, pelo qual, JC nos dá as novas tábuas da lei, ou seja, as regras da sua lei, a lei do amor e da misericórdia.

Antes, vejamos a semelhança da atitude de Jesus com a de Moisés, ao receber os mandamentos. Moisés subiu ao Sinai e lá recebeu de Javeh as tábuas da lei antiga. JC subiu a um monte e de lá proclamou as suas bemaventuranças. Não foi um monte tão alto como o Sinai, mas tb ele não precisou receber de ninguém as tábuas da lei, porque estas ele já trazia consigo. E ao invés de 10 mandamentos, temos 8 bemaventuranças. E ao invés da linguagem imperativa e proibitiva (não tomar o santo nome em vão, não matar, não jurar falso testemunho...), temos a linguagem exortativa e estimuladora: felizes são os pobres, felizes são os mansos, felizes são os misericordiosos... Em vez de um Javeh terrível e amedrontador, temos um Cristo amoroso e pacífico.

Todas as bemaventuranças começam com a palavra grega 'makárioi', que foi traduzida em latim por 'beati' e em português por 'felizes' ou 'bemaventurados'. Mas esta tradução não alcança o sentido mais original da palavra grega 'makários (singular), makárioi (plural)'. De fato, makários = feliz gramaticalmente falando, ou seja, a tradução está literal. Ocorre, porém, que os gregos diziam que os seus deuses eram 'makárioi', portanto, a felicidade contida na palavra makários não é apenas aquela felicidade comum, terrena, passageira, é a felicidade própria dos deuses, intensa, elevada, duradoura. Daí que o conceito de makárioi no sermão da montanha guarda correlação com o conceito paulino de santos (no texto de Romanos, a palavra grega é 'agíoi'=santos), que nós poderíamos dizer ser o correlato de makárioi dos deuses pagãos para o universo cristão.

Como veem, meus amigos, Paulo nos chama de santos por antecipação, segundo ele, nós somos 'chamados de santos', ou seja, nós somos convocados para a santidade. Portanto, o dia de todos os santos e santas de Deus não se refere apenas àqueles e àquelas que foram alçados às honras dos altares, mas a todos aqueles e aquelas que, com seu exemplo e com o seu seguimento a JC, deram ou estão ainda dando seu testemunho de santos em potencial. E a receita para chegar à santidade plena está dada na lista das bemaventuranças: pobreza, sofrimento, mansidão, misericórdia, promoção da paz, pureza de coração... é este o testemunho que JC espera de nós e este o compromisso que nós assumimos de realizar quando fomos banhados no sangue de Cristo no nosso batismo.

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