Caros Confrades,
A liturgia deste terceiro domingo do advento traz uma conotação de alegria: Magnificat anima mea Dominum... quantas vezes nós cantamos essa estrofe lá no Seminário. É este o tema do salmo responsorial deste domingo, aproveitando o texto do evangelho de Lucas.
A liturgia deste terceiro domingo do advento traz uma conotação de alegria: Magnificat anima mea Dominum... quantas vezes nós cantamos essa estrofe lá no Seminário. É este o tema do salmo responsorial deste domingo, aproveitando o texto do evangelho de Lucas.
Temos, na primeira leitura, outra vez um trecho do deuteroIsaías (cap 61), de grande inspiração futurística e que o próprio JC, certa vez, ao fazer uma leitura na sinagoga, escolheu de propósito este trecho para ler: "O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa-nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos; para proclamar o tempo da graça do Senhor." Conforme Lucas testemunha, em 4,21, ao terminar de ler este trecho, JC sentou-se e todos ficaram olhando para ele, esperando o que ele iria dizer. Então Ele disse: hoje se cumpriu aquilo que o Profeta predissera. Meus amigos, JC declarou, sem meias palavras, que Ele era aquele sobre quem o profeta Isaías havia escrito aquelas palavras. É curioso como os fariseus e os mestres da lei, presentes na sinagoga, ouviram isso e não entenderam. Ou não quiseram entender, talvez.
Este trecho de Isaias (cap 61) está em total sintonia com a leitura do evangelho de João (cap 1, 19) falando a respeito do outro João. Aliás, saindo da regra básica, a CNBB coloca para nossa leitura neste domingo um trecho do evangelho de João (deveria ser de Marcos, por ser ano B), mas a justificativa deve estar ligada à reflexão teológica feita por João evangelista sobre a missão do outro João, o batista. Quando os emissários dos fariseus perguntaram ao Batista: quem és tu? o Messias, um novo Elias, outro profeta? João Batista respondeu repetindo outro trecho de Isaias: eu sou a voz que clama no deserto... Mas eles não ficaram satisfeitos e perguntaram novamente: dize quem és tu, para que possamos responder aos que nos enviaram... Esta forma inquisitorial do diálogo dos enviados dos fariseus com o Batista, que é narrada apenas por João Evangelista, denota um certo grau de oficialidade na conversa. Era como se fossem Oficiais de Justiça cumprindo mandado por ordem de um Juiz. E perguntaram mais: por que batizas, se não és nem o Messias nem algum dos profetas? E o Batista terminou não dizendo quem era ele mesmo, mas avisou: no meio de vós está o que virá depois de mim e eu não sou digno nem de desamarrar as sandálias dos pés dele.
O que se observa nesse diálogo é uma reflexão teológica bem posterior aos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), pois vai além de uma simples narrativa. Na verdade, João, o evangelista, está doutrinando para a sua comunidade sobre o importante papel do outro João, o batista, na preparação da atividade pública de JC. De fato, todo o primeiro capítulo do evangelho de João é uma grande reflexão teológica. O prólogo (No princípio era o Verbo, o Verbo estava em Deus, o Verbo era Deus...) durante muito tempo era lido em todas as missas, como último evangelho. Todos os Colegas devem se recordar disso. Somente com as modificações litúrgicas efetuadas após o Concilio Vaticano II, esta leitura foi retirada. Isso indica que o tema deste primeiro capítulo foi escrito pelo próprio João, ele não retirou esses ensinamentos de outros escritos (como as narrativas sobre os milagres, por exemplo), esse era o desenvolvimento das primeiras reflexões da teologia nascente, que foi muito fertilizada com as cartas de Paulo. João (o batista) veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele, diz João (o evangelista), no cap 1, 7.
De acordo com os registros históricos, Paulo foi martirizado no ano 67 d.C., portanto, as cartas paulinas foram escritas antes desta data. Já o evangelho de João foi escrito por volta do ano 100 d.C., ou seja, uns 70 anos após a morte de Cristo. Como todos sabem, João era o discípulo mais jovem, foi o único que não morreu mártir e viveu muitos anos. Se na ocasião da morte de JC João devia ter por volta de 20 anos, ao escrever o seu evangelho, ele teria em torno de 90 anos de idade. Com certeza, João tinha conhecimento e muito provavelmente teria lido pelo menos algumas cartas de Paulo (estas cartas circularam entre as comunidades cristãs, embora fossem dirigidas originalmente a uma delas), além do que João foi bispo em Éfeso, uma comunidade fundada por Paulo. João viajava muito pelas comunidades de toda a Ásia e foi nesta parte do mundo que foram fundadas as primeiras Escolas bíblicas da antiguidade (Antioquia e Alexandria). As escolas de Antioquia e de Alexandria foram as responsáveis pelos primeiros ensinamentos de exegese bíblica nos primeiros tempos do cristianismo, com certeza os ensinamentos de João Evangelista tiveram um papel muito importante na elaboração das primeiras reflexões teológicas produzidas naqueles tempos do cristianismo em expansão. Devemos nos lembrar tb que o livro do Apocalipse é da autoria de João, o que demonstra a sua grande produtividade intelectual.
Retornando ao tema deste domingo, a liturgia destaca a importância do trabalho preparatório de João Batista, neste tempo do Advento, em que a Igreja se prepara para o Natal do Senhor. O exemplo de João Batista serve de inspiração para todos nós prepararmos bem os caminhos e aplainar as veredas da nossa mente para a celebração da natividade, que se aproxima.
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