Caros Confrades,
Na festa litúrgica de hoje, celebramos o domingo da Epifania. A festa da epifania é repleta de simbolismos e carregada de polêmicas intrarreligiosas. No Brasil, por causa do acordo com o governo, não é mais celebrada no dia 6 de janeiro, a sua data básica, mas no domingo seguinte. A igreja grega celebra a festa do Natal neste dia, divergindo assim da igreja romana. Os colegas devem saber que a celebração do Natal no dia 25 de dezembro foi um aproveitamento de uma festa pagã mais antiga, em homenagem ao deus-sol e que os imperadores romanos cristãos transformaram na festa do nascimento de Cristo, por ser Ele o novo sol que nasceu para o mundo. Mas os padres da igreja grega não concordaram com esse aproveitamento da festa pagã e a celebração do Natal é feita lá em 6 de janeiro.
Na festa litúrgica de hoje, celebramos o domingo da Epifania. A festa da epifania é repleta de simbolismos e carregada de polêmicas intrarreligiosas. No Brasil, por causa do acordo com o governo, não é mais celebrada no dia 6 de janeiro, a sua data básica, mas no domingo seguinte. A igreja grega celebra a festa do Natal neste dia, divergindo assim da igreja romana. Os colegas devem saber que a celebração do Natal no dia 25 de dezembro foi um aproveitamento de uma festa pagã mais antiga, em homenagem ao deus-sol e que os imperadores romanos cristãos transformaram na festa do nascimento de Cristo, por ser Ele o novo sol que nasceu para o mundo. Mas os padres da igreja grega não concordaram com esse aproveitamento da festa pagã e a celebração do Natal é feita lá em 6 de janeiro.
Etimologicamente, epifania (epi-fainow) é traduzida por manifestação, enquanto a palavras matrizes do nome significam: epi=através de, sobre, acerca de; fainow=verbo brilhar, aparecer, fazer-se notar. Portanto, epi-fainow seria literalmente aparecer através de, fazer-se percebido sobre, ou seja, o termo manifestação está bastante adequado ao significado das raízes etimológicas. No caso, a epifania do Senhor é a sua apresentação pública à comunidade não apenas local, mas a todos os povos. Aí entra a tradicional figura dos Reis Magos, carregada de muitos simbolismos e fonte de inspiração de muitas tradições.
Mas a grande questão é: quem eram? eram reis? eram mágicos? de onde vieram? quantos eram? o que vieram fazer? essas perguntas são respondidas de diversos modos e com muitas interrogações.
Sobre o tema, nesta semana o site Zenit, agência católica de notícias, divulgou uma entrevista com a professora Flavia Marcacci, professora de História do pensamento científico na Pontifícia Universidade Lateranense: Diz ela: "O Proto-evangelho de Tiago fala de uma "estrela" no Capítulo 21. Esta estrela teria precedido os Magos na sua viagem até ter parado acima da gruta da Sagrada Família. Com relação ao Evangelho de Mateus (capítulo 2), que é o único que se refere à estrela, o Proto-evangelho adiciona um detalhe: tratava-se de uma “estrela grandíssima”, de notável esplendor, tão grande que obscurecia as outras estrelas do céu. Os outros Evangelhos não mencionam a estrela e nem os Magos. Por outro lado, Lucas fala de um anjo que surpreende com a sua luz os pastores (2,9) e da multidão do exército celestial que glorificava a Deus (2, 13-14). Agora, a luz, em geral, tem um valor simbólico muito importante – pensemos também no prólogo do Evangelho de João. Então se poderia dizer que também a estrela dos Magos certamente têm um significado simbólico, ainda mais porque na tradição judaica ela representava um sinal messiânico: tal interpretação é amplamente compartilhada hoje pelos exegetas."
A entrevista é longa e interessante, transcrevi apenas o pequeno trecho acima, porque está dentro do assunto que comecei a abordar. O que eu resumiria para vocês é o seguinte: eles eram sábios da Mesopotâmia, nem eram reis nem magos, como hoje nós entendemos essas palavras. De acordo com a Profa Flavia, eles eram estudiosos de astrologia, a ciência antiga que foi antecessora da astronomia, um misto de conhecimentos científicos, religiosos e místicos. A Mesopotânia era um local onde os estudos técnicos das ciências matemáticas (aritmética, geometria, álgebra e suas aplicações na engenharia, física e astrofísica) era muito desenvolvido, então esses 'cientistas' perceberam uma estrela diferente no firmamento e associaram isso às antigas profecias. Os sacerdotes de Herodes tb acertaram em cheio na profecia de Miquéias (5,1): em Belém, de Judá.
Há uma tradição que afirma que, quando eles chegaram perto de Jerusalém, a estrela desapareceu, por isso eles procuraram Herodes para se informar. Em Mateus, cap 2, isso não consta. Provavelmente eles foram procurar no palácio do rei, porque a profecia falava que nasceria o novo rei de Israel, então o mais lógico seria que ele fosse encontrado lá. Mas após a informação acerca de Belém, eles prosseguiram viagem seguindo a estrela em direção a Belém. Lá encontraram Maria e o Menino e ofereceram seus presentes (Mt 2,11): incenso, ouro e mirra. Talvez por causa disso, a tradição afirma que eram três os magos, mas no texto de Mateus, ele diz apenas que 'alguns magos do oriente chegaram a Jerusalém', não se sabe realmente quantos eram.
E outra grande incógnita: o que eles vieram fazer? de acordo com Mateus, eles vieram adorar o Salvador (2,11). Eu diria que eles vieram, de um lado, seguindo a curiosidade própria dos cientistas, com o objetivo de confirmar uma hipótese configurada nos estudos astrológicos deles; de outro lado, eu diria que eles vieram tocados pela luz divina, para chamar a atenção do mundo pelo nascimento do Messias. Se não fossem os 'magos', Herodes não saberia da sua existência, ou seja, por intermédio deles, o estado romano foi informado. A reação posterior de Herodes, mandando matar as crianças das redondezas, demonstra o aspecto político do nascimento do 'novo rei', um concorrente que não deveria sobreviver, conforme Herodes pensou ter feito. Devemos considerar ainda que a pregação de Cristo não chegou ao território da Mesopotâmia, mas o testemunho dos 'magos' deve ter transmitido a confirmação da notícia fidedigna do nascimento do novo rei dos judeus, portanto, mesmo nos povos não judaicos, a presença de Cristo foi anunciada, um prenúncio do que iria ocorrer tempos depois, com a difusão do evangelho.
Uma outra pergunta intrigante nesse contexto é: por que os outros evangelistas não se referem aos 'magos', mas apenas Mateus? Terá ele inventado essa história? Lucas fala de uma estrela muito brilhante que ofuscou os pastores e os impulsionou a procurar o estábulo onde o Menino nascera. João, mais tarde e de forma mais teologizante, fala que "não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz" (João 1,8). Alguns astrônomos, nos séculos posteriores, tentaram associar a estrela de Belém (dos magos e dos pastores) à passagem de algum cometa, talvez o cometa de Halley, fazendo cálculos retrógrados no tempo, mas não conseguiram demonstrar isso, porque a provável passagem deste cometa naquela época teria sido no ano 12 a.C., enquanto os historiadores apontam que Cristo teria nascido entre os anos 4 a 7 antes dele (vejam a contradição que o calendário nos faz mencionar). Mas essa hipótese do cometa teve muitos adeptos e foi muito forte na idade média, tanto que o pintor italiano Giotto compôs grandes painés incluindo um cometa no lugar da estrela de Belém, reforçando essa teoria, a qual porém não tem sustentação nos estudos científicos.
Penso que a explicação para o caso de apenas Mateus referir-se aos magos se deve ao fato de ele ter tido acesso a algum manuscrito que os outros evangelistas não conheceram. Os estudiosos dizem que o evangelho de Mateus foi o único escrito originalmente em aramaico, os demais foram escritos originalmente em grego. Isso denota que Mateus viveu em um local distante dos demais evangelistas e assim ele deve ter tido conhecimento de certas fontes desconhecidas dos demais. E tem ainda a confirmação do protoevangelho de Tiago, conforme citado na entrevista acima. Não deve, portanto, ter sido uma 'invenção' de Mateus, mas uma originalidade que somente por ele tivemos conhecimento nos textos canônicos.
Em resumo, meus amigos, não se pode dizer nem que foi nem que não foi. O que nos resta afirmar é que o simbolismo da luz associada ao nascimento de Cristo foi o responsável pela associação desta data com a festa pagã do deus-sol que colocou o Natal em 25 de dezembro. Que esta Luz que veio dissipar as trevas já estava prevista em Isaías (60, 1 - levanta-te Jerusalém porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor), aliás, é muito curioso como as profecias de Isaías são bastante transparentes em relação à chegada do Messias, parece que ele estava vendo, tal a fidelidade da descrição, sobretudo essas passagens do deutero-Isaías, como já mencionamos antes. Que essa Luz extraordinária ainda brilha para nós em cada celebração do Natal, porque embora esta festa seja celebrada todos os anos e não obstante todo o apelativo comercial em torno dela, ninguém fica indiferente a essa mística do Natal, que nos revigora a alma e nos faz de fato renascer a cada vez
E não podemos deixar de lembrar aqui tb a música do Tim Maia: hoje é dia dos Santos Reis, referindo-se aos reizados tão esquecidos em tempos da cultura dominada pela televisão.
E para completar, sem me alongar, referirei apenas brevemente a celebração de amanhã, 9/1, a festa do batismo de Jesus. Neste ano em que o Natal coincide com o domingo, algumas festas ficam atropeladas e passam para a semana. O batismo de Jesus comemora o início de seu ministério público e é tb a primeira epifania (manifestação) da Trindade, pois de acordo com o testemunho do evangelho, ao sair da água, ouviu-se a voz do Pai e o Espírito Santo foi visto em forma de pomba. Eram as três pessoas divinas saudando e oficializando o início da propagação da boa nova da salvação.
Como autênticos cristãos, aproveitemos a data para renovar os nossos compromissos de batizados na água e no Espírito Santo.
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