quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

2º DOMINGO DO ADVENTO – BATISMO DA CONVERSÃO – 04.12.2011



Caros Confrades,

A liturgia deste 2º domingo do advento traz como tema o batismo da conversão. Mas antes de comentar diretamente o tema, gostaria de fazer umas observações preliminares.

Em primeiro lugar, ressaltar que o ano litúrgico de 2012, cujo segundo domingo ora celebramos, é classificado com a letra B, ou seja, é o ano litúrgico B. A CNBB, com o intuito de não repetir a cada ano as mesmas leituras nas missas, estabeleceu três modelos: o ano A, o ano B e o ano C. Há dois domingos, terminamos o ano litúrgico de 2011 (em 20.11.2011), que era ano A, no qual as leituras do evangelho dominical são retiradas de Mateus. Agora, iniciamos o ano B, no qual as leituras são retiradas do evangelho de Marcos. No ano C, em 2013, as leituras serão retiradas do evangelho de Lucas, com algumas inserções do evangelho de João. Depois, em 2014, retornará o ano A. Assim, as leituras só se repetem de três em três anos, porque estes três modelos fazem um revezamento.

A segunda observação se refere ao evangelho de Marcos. Conforme a pesquisa histórica, este evangelho foi o primeiro dos quatro evangelhos a ser escrito, por volta do ano 60 depois de Cristo. Portanto, o evangelho de Marcos foi escrito aproximadamente 27 anos após a morte de Cristo. Antes, pensava-se que o mais antigo era o de Mateus, mas os estudos técnicos demonstraram que o de Marcos foi o primeiro escrito. Antes dos evangelhos, havia grande quantidade de textos circulando nas primeiras comunidades cristãs, escritos por cristãos anônimos, a modo de cartas, abordando passagens diversas da vida de Cristo. Alguns destes escritos traziam os milagres, outros falavam dos discursos de JC, outros falavam das polêmicas de JC com os fariseus, outros narravam os sofrimentos de JC... então, os evangelistas Marcos, Mateus e Lucas reuniram estes escritos esparsos e deram uma sequência a eles, acrescentando aquilo que eles próprios sabiam e ouviram, formando assim os textos longos que temos hoje. Por terem utilizado basicamente as mesmas fontes, estes três evangelhos são chamados de sinóticos, ou seja, resumos. O evangelho de João, o último a ser escrito, além de ter-se baseado nas fontes dos primeiros, utilizou tb outras referências, além de ter incluído os primeiros elementos da reflexão teológica primitiva, assunto que não há nos três primeiros.

A terceira observação refere-se à pessoa do evangelista Marcos. Consta que ele era discípulo de Pedro e acompanhava a vida pública de Cristo à distância. Marcos estava presente no Jardim das Oliveiras e presenciou a prisão de JC, no momento da confusão, ele saiu correndo.

Bem, passando à análise do tema, vejamos o significado etimológico do batismo. Esta palavra deriva do verbo grego "baptizein", que significa mergulhar; batismo será assim o substantivo 'mergulho'. Era o que João Batista fazia com as pessoas que o procuravam no rio Jordão. Após as pessoas confessarem seus pecados, ele os mergulhava nas águas do rio, simbolizando com isso que o(a) pecador(a) ao mergulhar na água e retornar, é como se fosse um renascimento, uma nova pessoa. Daí o batismo da conversão. Conversão se diz em grego 'metanóia', que literalmente significa nova idéia, novo pensamento, nova mentalidade, nova compreensão. Quem se converte, passa a pensar e viver de outro modo, assume um novo estilo de vida.

Diz o evangelista que todas as pessoas da Judéia e de Jerusalém (Mc 1,5) iam ao encontro de João, confessavam seus pecados e eram 'batizados', ou seja, mergulhados no rio, para renascerem pela água. Mas João adverte (Mc 1,8) que depois virá um 'Outro' que batizará no Espírito. Isto já estava previsto tb em Isaías (Is 40, 3): preparai no deserto os caminhos do Senhor, endireitai as veredas. João pregava no deserto e as pessoas iam até ele, não era ele que ia à cidade chamar as pessoas.

Um dado interessante é que o batismo de João introduz uma novidade na ritualística do povo hebreu. Eles já tinham os procedimentos de penitência, que incluíam jejum, esmolas, orações, abluções (lavagem das mãos, sobretudo), mas João inventou algo novo: o mergulho. A novidade trazida por João era já o prenúncio das modificações que JC iria fazer na lei antiga, configurando assim a nova lei de Deus, na qual os rituais exteriores não têm valor, quando não são acompanhados da mudança interna. Os fariseus eram mestres nesse tipo de encenação, valorização da aparência, e censuravam JC e seus discípulos porque, por exemplo, não lavavam as mãos antes de comer, faziam curas no sábado, etc. E JC, por diversas vezes, fez ver a eles que o mal não é o que entra pela pessoa, mas o que sai dela; e disse tb: esse povo louva com os lábios, mas seu coração está lá longe.

E todos nós sabemos, porque o evangelho relata noutra passagem, que o próprio JC foi lá no rio Jordão para ser batizado por João, no início de sua atividade pública, deixando João muito embaraçado, mas apesar disso, Ele se submeteu ao mesmo ritual, para oficializar aquilo, ou seja, para dizer que Ele estava de acordo com aquele procedimento, embora Ele não precisasse 'renascer' como os demais batizados. Mas como Ele queria ser igual a nós em tudo, não deixou que a sua condição divina prevalecesse para ser dispensado. (Foi isso que Paulo afirmou naquele trecho já comentado aqui antes, que é traduzido por 'usurpação', tradução com a qual eu não concordo).

Meus amigos, ao falar em batismo, vem logo aquela tradicional polêmica: por que não se faz mais o mergulho? por que só derrama água na cabeça do batizado? essa é uma grande discussão que envolve católicos e não católicos, por causa da modificação feita pela Igreja de Roma no ritual, afrontando diretamente a figura do batismo de João, referendada pelo próprio JC. Efetivamente, João não batizou crianças, somente adultos. Além disso, João batizou apenas no Jordão. Como fazer isso em outras localidades distantes? qual rio devia ser escolhido no Brasil, por exemplo? Com a expansão do cristianismo, a figura original do batismo precisou ser redesenhada, para atender a novas situações fáticas. Abandonou-se, então, a ideia do mergulho direto e foi adotado o modelo simbólico de molhar a cabeça, afinal, no mergulho, esta é a última parte do corpo que entra em contato com a água e a primeira a sair dela.

Além disso, a Igreja passou a batizar tb crianças bem pequenas, inviabilizando o mergulho total, por razões óbvias. E já que se trata de um símbolo, qualquer água natural pode ser utilizada, devendo ser benzida para esta finalidade. Assim, o ritual joanino do baptizein=mergulhar foi totalmente substituído pelo novo formato. Pode-se dizer que houve 'abuso' de autoridade da Igreja nesta mudança? Os protestantes dizem que sim e continuam a utilizar o mergulho mesmo. Eu tenho um cunhado que aderiu à igreja Adventista e ele foi novamente batizado lá, mostrou-me as fotos, há um tanque cheio de água no qual entra o Pastor e, em seguida, entra o fiel, que é literalmente afundado naquele tanque, tal qual o ritual de João Batista. Ao ver as fotos, eu fiquei a pensar comigo mesmo: já que não é o rio Jordão, então pra ser na água comum, o ritual católico é bem mais conveniente para manter o simbolismo do renascimento. Além de evitar acidentes com o ato de mergulhar, conforme às vezes a gente sabe através da imprensa. Além disso, os protestantes não batizam crianças pequenas, só adolescentes e adultos, mas mesmo assim os riscos de acidentes não podem ser ignorados.

Voltando ao tema central, o segundo domingo do advento nos convida à conversão. Quando nós fomos batizados, nós já renascemos em JC para uma nova vida, um novo céu, uma nova terra. Na crisma, nós tb fomos batizados (mergulhados) no Espírito Santo. Então, através das leituras deste domingo, a liturgia nos convida a refletir sobre a nossa vida de cristãos, em constante estado de conversão. Sim, porque a conversão não é uma atitude única, que se faz uma vez e acabou. A conversão é uma tarefa de cada dia e se concretiza de forma progressiva em cada coisa boa que praticamos, em cada ato de caridade que fazemos, em cada soerguida após alguma recaída, em cada vez que damos exemplo aos outros da nossa vida de cristãos inseridos na sociedade, no trabalho, no lazer, na comunidade, na humanidade globalmente considerada. A exortação do profeta Isaías (preparai os caminhos do Senhor) é nosso chamado neste segundo domingo do advento, para reafirmarmos os nossos compromissos cristãos e para alinhar nossos passos na caminhada para o Pai.

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