COMENTÁRIO LITÚRGICO – DOMINGO DA PÁSCOA – 21.04.2019 –
PÁSCOA SEMPRE
A Páscoa, a festa mais antiga da humanidade, é sempre uma ocasião inspiradora de novas esperanças, oportunidade para renovar compromissos e, principalmente, reacender a fé, porque esta é que nos mantém firmes na caminhada. A cada ano, rememoramos a gloriosa ressurreição de Jesus Cristo, fonte e sustentáculo permanentes de nossa fé, no entanto, esta festa não pode ser vista apenas como uma repetição de fatos já conhecidos, senão uma soprada de vento nas cinzas que cobrem o braseiro de nossa vivência religiosa, a fim de tornar vivo o fogo subjacente. Enquanto temos fé, temos energias para seguir adiante. Se ela fraquejar, tudo o mais também desmoronará. Portanto, a maior mensagem que a ressurreição de Cristo poderá nos trazer é a firmeza na nossa fé.
Aqui está, com efeito, o ponto central
da nossa fé cristã: a ressurreição de Cristo. Jesus não
inventou a Páscoa, mas sendo conhecedor da história humana, ele
escolheu esta significativa data para realizar nela a sua
ressurreição, isso não foi por mero acaso, tenho plena convicção
de que houve a ação divina para que esses fatos tenham se
encaminhado para uma realização conjunta. Foi tudo meticulosamente
planejado desde o início. Jesus, por diversas vezes (relatam os
evangelistas), se dirigira a Jerusalém para celebrar a Páscoa. Era
assim que todos os judeus faziam e Jesus era judeu plenamente. Até
então, a Páscoa rememorava, para eles, a libertação da escravidão
do Egito, fato que já era considerado o ponto central da fé
israelita: a conquista da liberdade perante um adversário muito mais
poderoso e bem equipado, tudo conduzido por Javeh, numa demonstração
de predileção por aquele povo e provando Sua fidelidade com a
aliança tratada com os antigos patriarcas.
Com efeito, os pesquisadores não sabem
a origem da festa da páscoa, porque essa é uma tradição que se
perde no tempo. Estima-se que a páscoa começou a ser celebrada
desde que os seres humanos começaram a formar grupos estáveis em
determinados locais, onde passaram a plantar e criar animais,
deixando assim de ser nômades, como eram os primeiros grupos
humanos. Ou seja, a festa da páscoa originalmente estaria integrada
com o próprio surgimento da sociedade humana. Esse tempo geográfico
que, no hemisfério norte, corresponde à primavera e coincide com o
tempo em que as árvores iniciam a brolhar após o frio do inverno,
começando a produzir os primeiros frutos da terra, passou a ser
festejado como o tempo da primeira colheita, tempo de fartura e da
prosperidade, celebrando a paz entre a natureza e os seus habitantes,
tempo em que os animais também acasalam e a vida sobre a terra se
renova. Este seria o sentido primitivo da páscoa, festejada desde
tempos imemoriais.
A páscoa, portanto, desde os primórdios, já tinha um significado especial para a espécie humana, mesmo antes de alguns acontecimentos importantes terem ocorrido nessa época do ano, vindo a trazer um sentido renovado para essa festa, dentro da tradição judaico-cristã. Assim é que a fuga dos hebreus do Egito, onde eles viviam como escravos, se deu por ocasião da páscoa. A narração epopeica do Êxodo reproduz a fé dos judeus no Deus de seus ancestrais, permeada de intervenções divinas poderosas, protegendo o povo contra o inimigo perseguidor. Porém, divergindo disso, teorias de alguns historiadores acreditam que ocorreu, de fato, uma fuga em massa dos hebreus, liderados por Moisés. Tudo fora combinado para que aproveitassem os festejos da páscoa, porque os egípcios também estariam festejando, e assim os hebreus teriam mais chance de não serem percebidos ou de pensarem que aquela fuga alguma forma celebrativa e isso os faria ganhar tempo e dianteira, antes que o exército do Faraó se pusesse a caminho para recapturá-los. Assim foi que o grupo de fugitivos somente foi alcançado quando já haviam atravessado o Mar Vermelho, portanto, já fora dos limites territoriais do Egito. Só que os hebreus conseguiram atravessar o mar com a maré baixa, porém quando os soldados do Faraó chegaram, a maré já estava enchendo e assim eles ainda tentaram alcançar os fugitivos, mas o mar os impediu. No livro do Êxodo (14, 21) há uma referência a isso, quando diz que Moisés estendeu a mão sobre o mar e durante toda a noite soprou vento forte, dividindo as águas. Segundo essa versão não bíblica da história, não houve uma “divisão” das águas em colunas (como aparecem nas versões cinematográficas), mas os fugitivos aguardaram na beira-mar o vento siroco que fazia a maré recuar, a ponto de conseguiram atravessar até a outra margem, com água rasa. Quando os egípcios chegaram, aquele vento forte havia cessado e eles tentaram seguir pelo mesmo caminho, mas então a profundidade da água não permitiu que eles atravessassem, e com isso os israelitas puderam seguir seu caminho. Aquela narração clássica do Êxodo, com uma linguagem carregada de símbolos, que já foi artisticamente representada nos filmes, fazia parte da catequese rabínica, para exaltar diante dos jovens judeus, que não haviam passado por aqueles momentos de aflição, a proteção de Javeh para com o seu povo.
A páscoa, portanto, desde os primórdios, já tinha um significado especial para a espécie humana, mesmo antes de alguns acontecimentos importantes terem ocorrido nessa época do ano, vindo a trazer um sentido renovado para essa festa, dentro da tradição judaico-cristã. Assim é que a fuga dos hebreus do Egito, onde eles viviam como escravos, se deu por ocasião da páscoa. A narração epopeica do Êxodo reproduz a fé dos judeus no Deus de seus ancestrais, permeada de intervenções divinas poderosas, protegendo o povo contra o inimigo perseguidor. Porém, divergindo disso, teorias de alguns historiadores acreditam que ocorreu, de fato, uma fuga em massa dos hebreus, liderados por Moisés. Tudo fora combinado para que aproveitassem os festejos da páscoa, porque os egípcios também estariam festejando, e assim os hebreus teriam mais chance de não serem percebidos ou de pensarem que aquela fuga alguma forma celebrativa e isso os faria ganhar tempo e dianteira, antes que o exército do Faraó se pusesse a caminho para recapturá-los. Assim foi que o grupo de fugitivos somente foi alcançado quando já haviam atravessado o Mar Vermelho, portanto, já fora dos limites territoriais do Egito. Só que os hebreus conseguiram atravessar o mar com a maré baixa, porém quando os soldados do Faraó chegaram, a maré já estava enchendo e assim eles ainda tentaram alcançar os fugitivos, mas o mar os impediu. No livro do Êxodo (14, 21) há uma referência a isso, quando diz que Moisés estendeu a mão sobre o mar e durante toda a noite soprou vento forte, dividindo as águas. Segundo essa versão não bíblica da história, não houve uma “divisão” das águas em colunas (como aparecem nas versões cinematográficas), mas os fugitivos aguardaram na beira-mar o vento siroco que fazia a maré recuar, a ponto de conseguiram atravessar até a outra margem, com água rasa. Quando os egípcios chegaram, aquele vento forte havia cessado e eles tentaram seguir pelo mesmo caminho, mas então a profundidade da água não permitiu que eles atravessassem, e com isso os israelitas puderam seguir seu caminho. Aquela narração clássica do Êxodo, com uma linguagem carregada de símbolos, que já foi artisticamente representada nos filmes, fazia parte da catequese rabínica, para exaltar diante dos jovens judeus, que não haviam passado por aqueles momentos de aflição, a proteção de Javeh para com o seu povo.
Para os hebreus, portanto, a Páscoa
lembrava essa trajetória heroica dos seus antepassados e desse modo
a Páscoa era a festa da liberdade reconquistada, era (e ainda é) a
principal festa do povo hebreu. Tanto assim que os chefes dos
sacerdotes queriam “resolver” a situação de Jesus antes da
Páscoa, porque se entrasse o período festivo, as pessoas iriam se
dedicar à festa e não haveria mais clima favorável ao julgamento
pretendido por eles. Porém, o que eles não sabiam é que tudo isso
já estava no plano salvífico divino. Ao chamar os apóstolos para
irem com ele a Jerusalém, para aquela páscoa especial, Jesus fez
tudo diferente: uma entrada triunfal, montado num jumento, aclamado
pela população. Quantas vezes Jesus já havia ido a Jerusalém para
a Páscoa e não tinha feito assim. Mas aquela Páscoa iria ganhar um
significado novo, aquela iria ser a Sua páscoa e, com isso, a nossa
Páscoa verdadeira e definitiva. As primeiras comunidades cristãs,
de início, não perceberam isso e continuaram celebrando o dia do
Senhor no sábado, como era a tradição hebraica. Mas depois foram
percebendo que, com a ressurreição de Cristo, a Páscoa tinha ganho
um novo sentido e aquela antiga tradição sabática precisava ser
superada pela celebração dominical, porque Jesus havia ressuscitado
no primeiro dia da semana, que passou a ser chamado de Dia do Senhor
(dies dominica). O novo significado da Páscoa, como festa da vida
renovada, da vida plena e definitiva, da vida que supera a morte
devia ser comemorada como uma nova festa, com um novo simbolismo,
essa devia ser a nova referência para as festividades pascais.
O evangelho deste domingo (Jo 20, 1-9)
relata os eventos da madrugada daquele domingo, de acordo com o
testemunho ocular de João: a pedra da entrada do túmulo estava fora
do lugar e o defunto havia sumido. A narrativa joanina é bastante
sóbria, porque outros escritos da época (chamados apócrifos)
trazem detalhes bem mais interessantes. Os chefes dos fariseus, com
receio de que os seguidores de Jesus fossem retirá-lo do túmulo,
pediram a Pilatos que colocasse guardas armados protegendo a entrada
do sepulcro. E lá estavam eles, certamente se embriagando naquela
noite enluarada de sábado (lua cheia), quando de repente um clarão
forte os assustou e eles viram dois homens com vestes de luz que
chegaram e removeram a pedra da entrada do sepulcro. A luz que veio
lá de dentro foi ainda mais intensa, de modo que eles ficaram
aterrorizados e fugiram, abandonando a guarda. Esses mesmos homens de
roupa luminosa aguardaram a chegada de Myrian de Mágdala e das
outras piedosas mulheres, para anunciar a elas que Ele, aquele a quem
elas buscavam, não estava mais ali, pois havia ressuscitado. Sem
entender muito bem aquilo, Myrian continuou a procurar pelos
arredores, até ser encontrada pelo próprio Raboni em pessoa. Que
sublime e maravilhosa distinção Jesus fez com aquela que era a sua
discípula mais devotada e sincera. Ela foi não apenas a primeira
testemunha da ressurreição, como foi também a portadora da boa
nova (evangelion) aos apóstolos.
Neste domingo de Páscoa, e nos
domingos que seguem, pois a festa da Páscoa se estende por sete
domingos, até a “festa das semanas” (Shavuot, dos hebreus), como
se todos fossem um único domingo estendido, aproveitemos para
refletir sobre tão grandioso mistério, buscando integrá-lo com as
atividades do nosso dia a dia, pois a Páscoa é aquela festa que se
renova em cada domingo, a cada vez que celebramos a eucaristia. Não
faz sentido celebrar a Páscoa apenas com o Círio aceso, os ovos de
chocolate e os cumprimentos formais, mas no nosso recinto interior,
essas festividades devem encontrar eco e ressonância perceptíveis
em todas as nossas atitudes.
Renovados votos de Feliz Páscoa a todos.
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