sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

13º Domingo Comum - 26.06.2011 - tomar a cruz


Prezados Confrades,
A liturgia inicia hoje um ciclo de domingos do tempo comum litúrgico, o qual é destinado à exposição doutrinária geral, conforme seleção de textos da CNBB.
Hoje, temos a leitura do livro dos Reis, narrando o episódio em que o profeta Eliseu retribui a boa hospadagem de uma rica madame, já em idade avançada, com a geração de um filho. Sabe-se o quanto era importante a fecundidade nos tempos mais antigos, pois existem inúmeras festas desses tempos ancestrais em homenagem à fartura da terra e à fertilidade das mulheres. Eliseu não encontrou forma melhor de agradar a sua anfitriã do que presenteá-la com um filho, mesmo já tendo passado da idade. Faz lembrar o episódio de Sarah, quando também gerou Isaac ('que a fez rir') em idade avançada.
Na outra leitura, Paulo ensina aos Romanos que nós fomos batizados na morte de Cristo para sermos ressuscitados com ele. É o conceito de 'novo homem' (hoje, devemos dizer tb 'e da nova mulher') da teologia paulina, morto para o pecado e vivo para Deus. Isso leva à conclusão da responsabilidade de cada batizado em dar seu testemunho de que ressuscitou com Cristo. É fácil ser cristão dentro do templo, mas é preciso ser e agir como cristão em toda parte, de modo que todos possam reconhecer os verdadeiros discípulos de Cristo. A madame rica que hospedava Eliseu reconheceu, pelo comportamento deste, que ele era um homem de Deus e até mandou construir um cômodo com cama, mesa, cadeira e candeeiro, ou seja, um aposento mobiliado para hospedá-lo toda vez que ele visitasse aquela cidade. Ela dizia aos seus criados: vê-se que este profeta é um homem de Deus. Assim, Paulo ensina que os cristãos devem agir de tal modo que as outras pessoas possam reconhecer neles a presença de Cristo.
E no evangelho, JC arremata: quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Não vamos entender aqui a palavra 'cruz' como sinônimo de sofrimento. É sofrimento também, mas não só isso. Tenhamos em mente o ensinamento de Paulo: morrer com Cristo, para ressuscitar com Ele. Então, quando JC diz que devemos 'tomar a cruz', fica subentendido que junto com a cruz está tb a ressurreição, porque um fato é inseparável do outro. Muitas vezes, a catequese tradicional explorava este ensinamento como uma ordem de JC para que todos se resignassem aos sofrimentos, como se a vida do cristão fosse uma vida de sofrimento apenas.
Isso demonstra o predomínio de uma ideia negativa da cruz, sobre a qual já escrevi aqui antes, quando estávamos na semana santa. A pedagogia catequética tradicional exalta muito a cruz como sofrimento, esquecendo de ressaltar que este sofrimento culmina na ressurreição. Tomar a cruz e seguir a Cristo significa encarar os sofrimentos como etapas necessárias da vida, mas para não nos levar ao desânimo, precisamos manter a esperança da ressurreição. Daí que JC diz depois: quem quiser conservar a sua vida, perde-la-á e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. Conservar a vida = evitar o sofrimento; perder a vida = encarar o sofrimento e superá-lo. É o paradoxo ensinado por JC. Quem encara com fé as dificuldades e não desanima diante do sofrimento parece que está desperdiçando a sua vida, mas ao contrário, está aperfeiçoando o seu ser a caminho da ressurreição. Ao contrário, quem reclama diante das dificuldades e busca através do apego aos bens e aos prazeres evitar o sofrimento, parece que está ganhando a vida, mas na verdade, está perdendo-a, pois não há ressurreição futura sem a morte anterior. A dialética da morte e da ressurreição exige a ocorrência dessas duas variáveis inevitáveis, que somente a fé pode esclarecer para o entendimento.

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