sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

17º Domingo Comum - 24.07.2011 - Salomão e a oração altruística


Caros Confrades,

No domingo passado, eu me encontrava fora de Fortaleza, por isso não
comentei com vcs a liturgia dominical. Volto a fazer isso agora,
abordando a primeira leitura de hoje, extraída do Livro dos Reis.
Trata-se da oração de Salomão a Javeh logo que assumiu o trono de
Israel. Diferente dos outros dirigentes, que pediam 'coisas' para si
(poder, vitória sobre os inimigos, vida longa, etc),Salomão pediu
'coisas' para poder governar bem o povo (justiça, discernimento,
compreensão) e Javeh gostou do pedido do jovem rei. Em retribuição,
deu-lhe o que ele pedira e até o que ele não pedira (vida longa, vitória
sobre os inimigos). Curioso é que o autor do livro dos Reis escreve como
se Javeh já não conhecesse antecipadamente o coração de Salomão e
tivesse se surpreendido com o pedido dele. É claro que Javeh já sabia,
mas o que o autor do texto quer ressaltar é que a subida ao trono não
'subiu à cabeça' de Salomão, que fez uma oração humilde, reconhecendo o
poder superior de Javeh. Nesse sentido, JC tb veio ensinar que "nenhum
côvado e acrescentado à nossa altura" sem a permissão divina e que o Pai
sabe das nossas necessidades. No entanto, Ele espera que nós peçamos.
Este 'pedido' que Deus espera de nós é o que se chama de oração. Várias
vezes, JC disse: pedi, pedi, tudo que pedirdes vos será concedido.
Muitas vezes, porém, nós não sabemos pedir ou a soberba e a arrogância
prejudicam nossos pedidos. Pedidos egoístas, o Pai ignora. A oração de
Salomão vem nos ensinar a orar altruisticamente. Como tb já ensinou o
Pai Seráfico: que eu não queira tanto ser consolado, quanto consolar...
nem tanto ser compreendido, quanto compreender... Este é o pedido
agradável a Deus, porque a nossa vida individual não tem sentido sem a
comunidade (ekklesia-igreja) na qual nós nos inserimos. Ao pedir pela
comunidade (ekkesia-igreja), estamos pedindo tb para nós, mas não só
para nós egoisticamente, e sim para o bem de todos, porque na comunidade
(ekklesia), se alguém está triste, todos se entristecem, se alguém está
alegre, todos se alegram, esta é a sua essência. E quando os apóstolos
pediram a JC que lhes ensinasse a orar, ele exemplificou: dizei algo
parecido com isso - Pai, venha o teu reino, faça-se a tua vontade... e
NÃO assim - Pai, eu quero isso, quero aquilo, se me deres isso eu farei
isso (uma espécie de 'comércio' dos favores divinos que é tão comum na
prática pietista do nosso povo). E Javeh disse a Salomão: eu te darei o
que me pediste e tb o que não me pediste. E JC tb disse: pedi em
primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será
dado por acréscimo. É a oração altruística perfeita.
A nossa catequese tradicional sempre ensinou uma espécie de oração
egoísta, ao contrário do que JC ensinara. Pedir a própria saúde, pedir
pra conseguir um bom emprego, pedir pra ganhar na loteria, pedir pra ter
muitos bens e uma vida folgada, etc, ou seja, pedidos individualistas. E
nesse sentido são as conhecidas 'promessas' aos santos. E lá em Canindé,
como em Juazeiro, existem salas repletas de 'pagamento' dessas
promessas. Com certeza, não foi essa a forma de orar ensinada por JC
para fazermos nossos pedidos. E nem é essa a forma agradável a Javeh.
Através do tema da oração, a liturgia de hoje tb ressalta a unidade da
doutrina entre o Antigo e o Novo Testamentos. Vê-se aqui uma confirmação
daquilo que JC falou tb várias vezes: eu não vim para mudar a lei, mas
para cumprir, exaltando a unidade entre a lei antiga e a lei nova. A
oração altruísta de Salomão tem o mesmo modelo que foi exemplificado por
JC no Pater Noster. E isso está textualmente registrado no evangelho de
Mateus, tb inserido na leitura de hoje (Mt 13,52), quando ele escreveu:
"omnis scriba doctus in regno caelorum similis est patrifamilias, qui
profert de thesauro suo nova et vetera", literalmente, todo escriba
(conhecedor da lei) que é douto (conhecedor) sobre o reino dos céus é
semelhante a um pai de familia, que retira do seu tesouro coisas novas e
velhas. Isto significa: quem segue a lei antiga na perspectiva da lei
nova, sabe integrar o novo com o velho, sabe transformar uma coisa velha
numa coisa nova, mantendo a sua essência.

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