sábado, 21 de janeiro de 2012

19º Domingo Comum - 07.08.2011 - o desespero de Paulo


Prezados Confrades,

Na liturgia deste 19º Domingo Comum, quero destacar dois pontos relativos às atividades de Paulo e de Pedro.

Na carta de Paulo a Romanos, vemos a sua angústia com os problemas que aconteciam naquela comunidade, de tão aflito, ele até pede para ser 'segregado' por Cristo, eu entendo isso como se ele estivesse dizendo, na nossa expressão nordestina, 'eu prefiro uma boa morte a ter de fazer isso'. O grande problema de Paulo nesse contexto era a polêmica entre os judeus convertidos ao cristianismo e os cristãos de outras nacionalidades. A religião judaica tinha (e ainda tem) como rito inicial a circuncisão e os judeus convertidos queriam que isso fosse reconhecido como obrigatório tb para os cristãos, no que os demais discordavam.

Eles se julgavam 'donos' da situação e queriam impor sua vontade, pelo fato de serem conterrâneos de JC e proprietários da antiga aliança, que JC veio confirmar. Paulo discordava disso, dizendo que agora era o batismo que identificava o cristão, não a circuncisão, porque esta era o rito da lei antiga e o batismo era o rito da lei nova. Mas a resistência dos cristãos judaizantes era tão severa que Paulo perdia a paciência e chegou a preferir uma boa morte, pra não assistir a tão enorme e desgastante discussão. Por fim, é óbvio, prevaleceu a idéia de Paulo, mas essa foi uma das questões mais trabalhosas que ele teve de enfrentar.

O outro ponto que quero destacar se refere ao vacilo de Pedro, quando andava sobre as águas. JC já havia dado aos discípulos uma extraordinária demonstração do seu poder divino com a multiplicação dos pães e, na sequẽncia, fez outra grande demonstração ao caminhar sobre as águas. Pedro, com sua peculiar impulsividade, quis uma prova mais contundente do poder de JC e pediu: manda-me ir ao teu encontro. JC disse: Vem, e ele começou a andar, mas logo teve medo e começou a afundar. O medo não combina com a fé. Medo é dúvida. Em outra passagem, JC disse que, se a nossa fé for do tamanho de uma semente de mostarda, será capaz de mover montanhas. Sempre que JC fazia uma cura, ele dizia: a tua fé te curou, a tua fé te salvou. Isso significa que Deus não faz benefícios 'de graça' para nós, é preciso que colaboremos, para que eles aconteçam. E a nossa colaboração principal é a fé. Não que Deus precise da nossa colaboração, pois o seu poder está acima disso. Mas se Deus deu ao ser humano o livre arbítrio, ele estaria sendo incoerente ao fazer conosco algo sem a nossa concordância.

Por outro lado, esta concordância não pode ser algo passivo. Ou seja, a fé exige ação, atividade. O poder divino coloca todas as condições para que algo aconteça em nós, é isso que a teologia chama de 'graça divina', mas se não houver a nossa colaboração, a sua graça não produz efeito. Por outras palavras, Deus inicia um trabalho em nós, mas requer a nossa colaboração para que esse trabalho se complete e se efetive. De outro modo, Deus estaria desrespeitando a nossa condição de seres livres, impondo-nos a sua vontade. E se assim fosse, com esta imposição, a salvação não teria nenhum mérito nosso e a redenção trazida por JC ficaria sem sentido.

Isso equivaleria à doutrina da predestinação, que é rejeitada pela teologia católica. Portanto, é com a fé que se completa em nós a obra divina, porque a fé indica a adesão da nossa vontade ao plano da salvação. Por isso, a fé não pode ser pequena, não pode vacilar, isso comprometeria todo o processo. Por isso tb, diz a música litúrgica: creio, Senhor, mas aumentai minha fé, porque não basta crer, mas crer implica a convergência de todas as forças do nosso espírito.

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