Caros Confrades,
Retornando às nossas casas, após o nosso agradável e fraterno II ENSESE no bucólico Mosteiro da Serra do Estêvão, é tempo de refletir sobre o tema litúrgico deste 2º domingo comum, centrado no chamado ou na vocação. Na homilia da missa do sábado, dia 14, o nosso confrade Frei Wilson destacou alguns pontos importantes deste tema, por isso, sem ser repetitivo, eu gostaria de abordar outros destaques.
De início, quero lembrar aquela melodia do nosso confrade Gregório, que o Frei Higino gostava muito de nos ouvir cantando: "Falai, Senhor, que vossos servos vos ouvem e desejam instruirem-se para melhor conhecer-vos e mais ardentemente amar-vos", homenageando o nosso fradeco falecido. Ele tomou como tema exatamente o mote bíblico de 1 Sm 3, 10, o chamado de Javeh a Samuel. Este era um jovem que nunca havia tido contato com o Senhor e por isso não identificou, de início, o chamado. Quantas vezes, isso tb acontece conosco, que embora não sejamos jovens de idade como o Samuel da leitura, mas não conseguimos ouvir ou identificar o chamado que nos chega da parte de Deus. Este chamado nem sempre é assim tão claro e insistente, como sugere a 1a. leitura, às vezes, ele é sutil e delicado, que é quando o chamado vem através da voz do irmão necessitado, por exemplo. Outrora, nós fomos conduzidos até o Seminário, por termos ouvido um chamado através dos nossos pais, parentes, sacerdotes ou através de acontecimentos marcantes, que nos impulsionaram até lá. O fato de termos saído do seminário não significa que nós renunciamos a seguir o chamado, mas apenas que Deus nos deu oportunidade de seguir este chamado, através de outras atividades, que não as da vida religiosa consagrada.
Esses dois encontros realizados em Quixadá, 2011 e 2012, deixou bem claro este fato. Eu achei muito curioso o depoimento do nosso confrade Frei Joao Batista, que nao participou do encontro anterior, na hora em que o Frei Leão perguntou o que tinha significado o Seminário para a vida dele e ele respondeu simplesmente: TUDO. Se nos lembrarmos bem, foi exatamente essa a impressão que todos deixaram no encontro do ano passado, quando cada um dos participantes teve seu momento de depor para o grupo. Se ele tivesse ouvido os depoimentos dos outros, poderíamos até dizer que ele teria sido sugestionado a dizer isso, mas não, ele falou isso de própria inciativa. Ora, meus amigos, o que significa esse TUDO senão que todos nós continuamos seguindo o chamado, cada um percorrendo o seu próprio caminho? E as nossas esposas, induzidas por nós, também estão participando e colaborando neste seguimento, ou seja, o chamado dirigido a cada um de nós não ficou apenas em nós, mas se estendeu e multiplicou sobre nossas esposas e nossos filhos. Quando a gente se comunica com um colega que há muito tempo não vê e sabe que ele atua, de alguma forma, nas atividades da paróquia, nos grupos de oração, nas tarefas pedagógicas, percebe-se que esse é o seu modo pessoal de seguir e atender ao chamado do Senhor.
Na leitura do evangelho de João (1, 42), vemos a narração do chamado especial de Cristo dirigido a Pedro. Pelo que se deduz da narrativa joanina, logo na primeira vez que Pedro foi apresentado a JC pelo irmão dele, André, JC foi logo dizendo: teu nome é Simão, mas serás chamado Kéfas. Não é de admirar que só o olhar para Pedro já foi suficiente para JC entender que ele era um grande cabeça-dura, como depois ele demonstrou com seus atos. Mas era exatamente esse cabeça-dura que JC queria para ser o chefe (kéfas) da sua ekklesia.
Observem alguns aspectos interessantes da análise do vocábulo KÉFAS. No próprio texto do evangelho (1,42), o evangelista João se preocupa logo em traduzir kéfas. Lembremo-nos que o evangelho de João foi escrito por volta do ano 100 d.C. e nessa época a figura de Pedro já estava consolidada como chefe da Igreja. No texto latino, diz assim: quod interpretatur Petrus - Petrus com letra maiúscula (tradução literal: que se interpreta como Pedro). No texto grego original está escrito: ó hermeneuetai Petros, isto é, igual ao texto latino, Pedro. A palavra kéfas não é grega, mas aramaica, a língua falada por Cristo. Segundo a internet, kéfas em aramaico significaria 'rochedo esburacado'. Por isso, João disse que Kéfas se interpreta como Petros, ele não disse que era sinônimo de pedra. E João fez isso, como escrevi acima, cerca de 30 anos após a morte de Pedro, certamente lembrando a passagem de Mateus (13, 18). Isso significa que se trata de uma reflexão do próprio João, lembrando das palavras de Cristo e ao mesmo tempo vendo como essas palavras tinham se realizado historicamente no desenvolvimento da comunidade cristã.
Apenas para recordar, o evangelho de Mateus foi escrito originalmente em aramaico (a língua falada por Cristo) e só depois traduzido para o grego. Portanto, deduz-se que foi através desta passagem de Mateus (13,18 - tu es Petros e sobre esta Petra edificarei a minha igreja) que a palavra kéfas foi introduzida no idioma grego e deste, transferida para o latim.
Um outro aspecto tb interessante da palavra kéfas, que por não ser grega nem latina, ela foi simplesmente transliterada nos dois idiomas - quero dizer: tanto em grego como em latim, foi copiada a sua pronúncia do aramaico. Mas por uma feliz coincidência, kéfas contém a primeira parte da palavra grega kefalé, que significa 'cabeça', então o chamado de Pedro foi especial porque JC o colocou, ao mesmo tempo, como fundamento (alicerce) e tb como chefe (cabeça).
Percebemos assim que as leituras de hoje abordam tanto o chamado individual, que JC faz a cada um de nós para segui-lo e dar testemunho dEle, a vocação de todos nós, como tb o chamado específico de Simão para ser o chefe, simbolizando, através da pessoa dele, que ele (Pedro) seria o Seu substituto para continuar a missão, depois que ele voltasse para o Pai. Indiretamente, JC está nos dando o sinal da obediência que a comunidade eclesial deve prestar a Pedro e aos seus sucessores, como se fosse obediência a ele próprio. E é assim que a Igreja de Cristo vem se mantendo firme e forte através dos séculos.
Conta-se (não sei se é verdade) que Napoleão Bonaparte, quando assumiu o trono como imperador da França, no final da Revolução Francesa, chamou o Bispo e disse a ele que tinha como objetivo destruir a Igreja. O Bispo fez um sorriso sarcástico e falou: pode até ser que Vossa Majestade consiga, porque os padres e bispos vêm tentando fazer isso faz anos e nunca conseguiram... e nem conseguirão. Os homens, mesmo os dirigentes eclesiais, passam e a ekklesia de Cristo vai se mantendo e se fortificando.
Aproveitemos para refletir de que modo cada um de nós, nas nossas vidas na familia, no trabalho, no lazer, no estudo, na educação dos filhos, prossegue com fidelidade sendo fiel ao chamado que nos foi dirigido.
Retornando às nossas casas, após o nosso agradável e fraterno II ENSESE no bucólico Mosteiro da Serra do Estêvão, é tempo de refletir sobre o tema litúrgico deste 2º domingo comum, centrado no chamado ou na vocação. Na homilia da missa do sábado, dia 14, o nosso confrade Frei Wilson destacou alguns pontos importantes deste tema, por isso, sem ser repetitivo, eu gostaria de abordar outros destaques.
De início, quero lembrar aquela melodia do nosso confrade Gregório, que o Frei Higino gostava muito de nos ouvir cantando: "Falai, Senhor, que vossos servos vos ouvem e desejam instruirem-se para melhor conhecer-vos e mais ardentemente amar-vos", homenageando o nosso fradeco falecido. Ele tomou como tema exatamente o mote bíblico de 1 Sm 3, 10, o chamado de Javeh a Samuel. Este era um jovem que nunca havia tido contato com o Senhor e por isso não identificou, de início, o chamado. Quantas vezes, isso tb acontece conosco, que embora não sejamos jovens de idade como o Samuel da leitura, mas não conseguimos ouvir ou identificar o chamado que nos chega da parte de Deus. Este chamado nem sempre é assim tão claro e insistente, como sugere a 1a. leitura, às vezes, ele é sutil e delicado, que é quando o chamado vem através da voz do irmão necessitado, por exemplo. Outrora, nós fomos conduzidos até o Seminário, por termos ouvido um chamado através dos nossos pais, parentes, sacerdotes ou através de acontecimentos marcantes, que nos impulsionaram até lá. O fato de termos saído do seminário não significa que nós renunciamos a seguir o chamado, mas apenas que Deus nos deu oportunidade de seguir este chamado, através de outras atividades, que não as da vida religiosa consagrada.
Esses dois encontros realizados em Quixadá, 2011 e 2012, deixou bem claro este fato. Eu achei muito curioso o depoimento do nosso confrade Frei Joao Batista, que nao participou do encontro anterior, na hora em que o Frei Leão perguntou o que tinha significado o Seminário para a vida dele e ele respondeu simplesmente: TUDO. Se nos lembrarmos bem, foi exatamente essa a impressão que todos deixaram no encontro do ano passado, quando cada um dos participantes teve seu momento de depor para o grupo. Se ele tivesse ouvido os depoimentos dos outros, poderíamos até dizer que ele teria sido sugestionado a dizer isso, mas não, ele falou isso de própria inciativa. Ora, meus amigos, o que significa esse TUDO senão que todos nós continuamos seguindo o chamado, cada um percorrendo o seu próprio caminho? E as nossas esposas, induzidas por nós, também estão participando e colaborando neste seguimento, ou seja, o chamado dirigido a cada um de nós não ficou apenas em nós, mas se estendeu e multiplicou sobre nossas esposas e nossos filhos. Quando a gente se comunica com um colega que há muito tempo não vê e sabe que ele atua, de alguma forma, nas atividades da paróquia, nos grupos de oração, nas tarefas pedagógicas, percebe-se que esse é o seu modo pessoal de seguir e atender ao chamado do Senhor.
Na leitura do evangelho de João (1, 42), vemos a narração do chamado especial de Cristo dirigido a Pedro. Pelo que se deduz da narrativa joanina, logo na primeira vez que Pedro foi apresentado a JC pelo irmão dele, André, JC foi logo dizendo: teu nome é Simão, mas serás chamado Kéfas. Não é de admirar que só o olhar para Pedro já foi suficiente para JC entender que ele era um grande cabeça-dura, como depois ele demonstrou com seus atos. Mas era exatamente esse cabeça-dura que JC queria para ser o chefe (kéfas) da sua ekklesia.
Observem alguns aspectos interessantes da análise do vocábulo KÉFAS. No próprio texto do evangelho (1,42), o evangelista João se preocupa logo em traduzir kéfas. Lembremo-nos que o evangelho de João foi escrito por volta do ano 100 d.C. e nessa época a figura de Pedro já estava consolidada como chefe da Igreja. No texto latino, diz assim: quod interpretatur Petrus - Petrus com letra maiúscula (tradução literal: que se interpreta como Pedro). No texto grego original está escrito: ó hermeneuetai Petros, isto é, igual ao texto latino, Pedro. A palavra kéfas não é grega, mas aramaica, a língua falada por Cristo. Segundo a internet, kéfas em aramaico significaria 'rochedo esburacado'. Por isso, João disse que Kéfas se interpreta como Petros, ele não disse que era sinônimo de pedra. E João fez isso, como escrevi acima, cerca de 30 anos após a morte de Pedro, certamente lembrando a passagem de Mateus (13, 18). Isso significa que se trata de uma reflexão do próprio João, lembrando das palavras de Cristo e ao mesmo tempo vendo como essas palavras tinham se realizado historicamente no desenvolvimento da comunidade cristã.
Apenas para recordar, o evangelho de Mateus foi escrito originalmente em aramaico (a língua falada por Cristo) e só depois traduzido para o grego. Portanto, deduz-se que foi através desta passagem de Mateus (13,18 - tu es Petros e sobre esta Petra edificarei a minha igreja) que a palavra kéfas foi introduzida no idioma grego e deste, transferida para o latim.
Um outro aspecto tb interessante da palavra kéfas, que por não ser grega nem latina, ela foi simplesmente transliterada nos dois idiomas - quero dizer: tanto em grego como em latim, foi copiada a sua pronúncia do aramaico. Mas por uma feliz coincidência, kéfas contém a primeira parte da palavra grega kefalé, que significa 'cabeça', então o chamado de Pedro foi especial porque JC o colocou, ao mesmo tempo, como fundamento (alicerce) e tb como chefe (cabeça).
Percebemos assim que as leituras de hoje abordam tanto o chamado individual, que JC faz a cada um de nós para segui-lo e dar testemunho dEle, a vocação de todos nós, como tb o chamado específico de Simão para ser o chefe, simbolizando, através da pessoa dele, que ele (Pedro) seria o Seu substituto para continuar a missão, depois que ele voltasse para o Pai. Indiretamente, JC está nos dando o sinal da obediência que a comunidade eclesial deve prestar a Pedro e aos seus sucessores, como se fosse obediência a ele próprio. E é assim que a Igreja de Cristo vem se mantendo firme e forte através dos séculos.
Conta-se (não sei se é verdade) que Napoleão Bonaparte, quando assumiu o trono como imperador da França, no final da Revolução Francesa, chamou o Bispo e disse a ele que tinha como objetivo destruir a Igreja. O Bispo fez um sorriso sarcástico e falou: pode até ser que Vossa Majestade consiga, porque os padres e bispos vêm tentando fazer isso faz anos e nunca conseguiram... e nem conseguirão. Os homens, mesmo os dirigentes eclesiais, passam e a ekklesia de Cristo vai se mantendo e se fortificando.
Aproveitemos para refletir de que modo cada um de nós, nas nossas vidas na familia, no trabalho, no lazer, no estudo, na educação dos filhos, prossegue com fidelidade sendo fiel ao chamado que nos foi dirigido.
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