sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

6º Domingo da Páscoa - 29.05.2011 - o Parákletos


Caros Confrades,

Na liturgia deste domingo (VI post pascha) temos a continuidade da teologia joanina da trindade:
Lemos no texto latino da vulgata - 14:15 si diligitis me mandata mea servate (se me amais, guardai meus mandamentos)
14:16 et ego rogabo Patrem et alium paracletum dabit vobis ut maneat vobiscum in aeternum (e eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro paráclito para que permaneça convosco eternamente)
14:17 Spiritum veritatis quem mundus non potest accipere quia non videt eum nec scit eum vos autem cognoscitis eum quia apud vos manebit et in vobis erit (o espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber porque não o vê nem sabe a respeito dele, porém vós o conheceis porque permanecerá junto de vós e estará em vós).
Primeiramente, gostaria de chamar a atenção para o significado do vocábulo PARÁKLETOS no grego: é um substantivo derivado do verbo PARAKALEÔ = chamar para junto de si, chamar em sua ajuda, convidar para ir junto. A tradução oficial da CNBB coloca 'defensor' e isso pode transmitir a idéia de um guarda costas, mas não é bem isso. Seria mais ou menos o equivalente ao defensor=advogado, aquele que vc chama para atuar em sua defesa. Na verdade, JC prometeu um parákletos=companheiro, ou seja, alguém que vc pode chamar em sua ajuda e convidar para ficar junto de si eternamente. Pode ser também o tipo do companheiro=consolador ou intercessor, pois este é outro significado possível do verbo parakaleô (consolar).
É neste sentido que JC disse aos apóstolos que não os deixaria órfãos, pois mandaria um "allon parákleton". São Jerônimo traduziu isso por "alium paracletum" (outro paráclito), isto é, JC está se autodenominando um parákletos, porque quando ele for embora definitivamente, o Pai mandará um outro e este outro não irá embora, mas ficará com eles para sempre. E, por outro lado, está afirmando que Ele e o Paráclito são idênticos e assim como o Pai mandou o primeiro paráclito, mandará em seguida o outro. Sinteticamente, aí está a teologia joanina da trindade, o Filho que procede do Pai e o Paráclito que procede do Pai e do Filho.
Merece destaque tb na primeira leitura, de Atos, o florescimento da comunidade cristã de Samaria, aonde foi inicialmente Felipe e depois foram Pedro e João, para infundir-lhes o espírito, pois eles ainda não o tinham recebido, só tinham sido batizados. E este fato confirma também os sacramentos da iniciação cristã: primeiro o batismo, depois a confirmação. Provavelmente, esta comunidade da Samaria, tão viva e dinâmica, ainda seria fruto do diálogo de JC com a Samaritana, relatado em um domingo atrasado, por cujo testemunho muitos da cidade creram nEle. Vou deixar para o nosso colega Bosco comentar os relatos dos 'espíritos maus que saíam dos possessos dando grandes gritos', conforme consta em At 8,7 provavelmente referindo-se a convulsões de pessoas portadoras de patologias mentais, que haviam sido curadas. Estes relatos de curas confirmam a promessa de JC (cf domingo anterior) de que aquele que crê realizará obras ainda maiores.
A propósito da expressão 'cura', tornou-se costumeiro ouvir nas intenções das missas orações por 'cura, conversão e libertação'... que me desculpem os que pensam diferentemente, mas essas expressões de pentecostalismo fundamentalista não me parecem coerentes com os ensinamentos do Concilio Vaticano II. Elas sinalizam para uma oração individualista, preocupada com a própria salvação (salvação da alma, como se dizia antigamente) e que fazem parte de uma teologia arcaica. A teologia atual ensina que a salvação é comunitária, ou seja, cada um se salva ajudando os irmãos a se salvarem. O próprio São Francisco já ensinava que é dando que se recebe. Por isso, penso que certos movimentos ditos 'renovadores', na verdade nada renovam, ao contrário, retrocedem a práticas que a partir do Vaticano II haviam sido deixadas de lado. O individualismo religioso, muito próprio da religião farisaica, já havia sido recusado pelo próprio JC, como é exemplo a parábola do bom samaritano. Penso que a ordem cristã de 'mandata mea servate' (guardai os meus mandamentos) começa pelo amor do próximo, e não pela preocupação consigo mesmo. A primeira cura que cada um deverá buscar será a libertação do próprio egoísmo, o parar de se olhar no espelho, para assim poder enxergar o irmão que lhe estende a mão à sua frente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário