Caros Confrades,
Reportando-me à liturgia deste domingo (5º post pascham), observamos novamente a leitura do evangelho de João, portanto, trata-se de um texto mais teológico do que histórico.
Eu diria que a leitura aborda dois temas importantes: ecumenismo e trindade.
Na primeira parte da leitura, Jesus diz que na casa do Pai há muitas moradas. Este ensinamento está coerente com a leitura dos Atos, que refere as desavenças entre os cristãos de origem judaica e os cristãos de origem grega, nos primeiros tempos, essa briga interna deu muito trabalho a S. Paulo, que em várias cartas faz referência a ela.
Pois bem, penso que JC quis ensinar que amar a Deus comporta muitas facetas, não há um só modelo ou um só ritual. Faz lembrar outra passagem do evangelho que relata algo mais ou menos assim. Os discípulos disseram a JC que encontraram 'pessoas que não eram dos nossos' expulsando demônios em teu nome e os proibimos. E JC disse: não façam isso, quem não está contra mim, está comigo.
Nos dias atuais, uma exagerada ortodoxia pode ser inconveniente, se considerarmos as diferenças culturais, por exemplo, entre europeus e latino americanos. Os europeus jamais aceitarão a linha teológica da 'libertação', isso já foi tentado mas foi em vão. As consequências que daí decorreram levaram a maior fechamento da doutrina. Há uma insistência teimosa do Vaticano no sentido de ensinar o cristianismo com a visão européia, desconhecendo as realidades concretas vivenciadas em outros países.
Na época de S. Paulo, a questão era só entre judeus e gregos, agora temos diversas matizes culturais em confronto e a doutrina precisa ser 'traduzida' de forma coerente com elas. JC já previa isso: são muitas as moradas, mas o Pai é um só. O sentido de universalidade presente no termo 'katólikos' não significa que todos devem vestir a mesma farda.
O outro ensinamento da leitura deste domingo é um início da revelação da Trindade. Quando Felipe pede: mostra-nos o Pai, JC responde: quem me vê, vê o Pai, eu e o Pai somos um. Os outros evangelistas não trazem este diálogo, o que denota que João teve acesso a outras fontes que os outros não conheceram. E denota tb em João um maior aprofundamento da doutrina teológica da Trindade, que nos outros evangelhos aparece de forma mais simplista. E chama a nossa atenção a afirmação de que 'quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que essas'. Se repararmos as obras realizadas por JC, que são de grande porte, e confrontarmos com essa promessa de que o cristão 'fará ainda maiores', concluiremos quão diminuta é a nossa fé, porque ainda é muito pouco o que conseguimos realizar.
Mas temos algumas pessoas que se destacam nesse particular. Quero aqui fazer uma homenagem à beata Irmã Dulce, que na sua simplicidade conseguiu na sua vida fazer as grandes obras prometidas por JC àqueles que crêem.
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