Prezados Confrades,
Vou iniciar este comentário fazendo uma homenagem ao Frei Roberto Magalhães (de Maracanaú), que no próximo sábado, dia 10/9, completará 91 anos de idade, creio que deve ser atualmente o frade mais idoso da Província. Além de suas reconhecidas virtudes pessoais e de seu exemplar exercício da vida franciscana e sacerdotal, Frei Roberto foi agraciado por Deus com uma longevidade produtiva, pois ele continua a exercer o seu múnus ministerial, apesar da avançada idade. Eu, particularmente, tenho um motivo muito especial para fazer esta homenagem, pois foi o Frei Roberto quem me trouxe para o Seminário de Messejana, em 1964, além de ter sido ele amigo de meus pais e continua sendo uma pessoa muito querida por toda a minha família. Meus parabéns e votos de que ele ultrapasse a barreira dos 100 anos, sempre continuando a espalhar seu carisma e a dar exemplo de santidade.
As leituras da liturgia de hoje trazem dois temas importantes: a correção fraterna e o poder da oração. Todos nós nos lembramos dos exercícios de correção fraterna, que éramos 'obrigados' a fazer todas as manhãs, no Noviciado, apontando as falhas dos nossos confrades e convidando-os a superar suas fraquezas, uma prática que causava certo desconforto (pelo menos para mim causava), porque é sempre muito delicado falar dos defeitos das pessoas em público. Não obstante se reconheça o bom propósito do exercício e apesar de ser uma prática recomendada no Evangelho, mas a recomendação de JC é que, primeiramente, o irmão faltoso seja chamado a conversar em particular, depois, com duas ou três testemunhas, só depois, se necessário, o caso deve ser levado à comunidade dos irmãos. Todos nós temos as nossas limitações, portanto, ninguém pode se considerar melhor do que os outros, para sair criticando o comportamento de colegas, expondo publicamente as suas fraquezas, sair 'falando mal' das pessoas, usando uma linguagem bem popular. Lamentavelmente, a chamada lingua ferina é bastante comum no meio social e se torna mais lamentável ainda quando se usa disso para capitalizar vantagens pessoais, em detrimento de outrem. Por isso, diz S Paulo na carta a Romanos (13, 9-10) que todos os mandamentos se resumem neste: amarás o teu próximo como a ti mesmo e quem ama nunca fará mal algum contra o próximo.
Convém lembrar que não devemos simplesmente nos omitir quando vemos o irmão fazendo algo indevido, pois todos nós temos a responsabilidade de corrigir fraterna e caridosamente o irmão que erra. Na leitura de Ezequiel (33, 8), Javeh é muito rigoroso: se não advertires o ímpio acerca da sua conduta e ele morrer, ele morrerá por culpa dele, mas eu pedirei a ti contas de sua morte. Ou seja, não é lícito ao cristão ficar calado e omisso diante dos erros do próximo, tendo o dever de adverti-lo. Contudo, esta advertência deve ser na forma acima proposta. Assim, estar-se-á praticando ao mesmo tempo a caridade e a correção fraternas.
O outro tema das leituras é o poder da oração. No evangelho de Mateus (18, 19) está escrito: qualquer coisa que pedirdes ao Pai, isto vos será concedido. O mesmo ensinamento se encontra na passagem correspondente de Marcos (20, 23): tudo o que pedirdes em oração acreditando que recebereis, isto vos será dado. Deus sabe das nossas necessidades, mas ele precisa da nossa colaboração para nos conceder, e esta colaboração se dá na forma do pedido. Existe uma prática devocional muito difundida na cultura religiosa do nosso povo, que é a de pedir algo a Deus mediante o pagamento de alguma promessa. As casas de relíquias que existem em Canindé e Juazeiro do Norte são repletas de ex-votos (ou objetos representativos de milagres) ofertados por pessoas que vieram 'pagar' a Deus. Vejamos que JC não ensina isso. Ele diz 'tudo o que pedirdes com fé, recebereis', não diz que devemos prometer algo em troca, para que o recebimento aconteça. Pode-se até imaginar que o 'pagamento da promessa' é uma forma de demonstrar a gratidão a Deus e não se pode de fato duvidar desse sentimento de gratidão. Todavia, o que Deus espera de nós como gratidão é a nossa vida de fé, é o amor ao próximo, é o bom exemplo a ser seguido pelo irmão. Deus não precisa de um pedaço de madeira, ou de gesso, ou de ferro, ou de qualquer outro material perecível. Deus quer a nossa conversão interior, a nossa adesão ao seu plano de salvação. E na leitura de Marcos acima referida, há um requisito para o recebimento do pedido: pedir acreditando que vai receber, isto é, pedir com fé, com confiança não nos nossos méritos, mas na magnanimidade divina.
Além desses dois temas, eu gostaria de destacar ainda dois pontos das leituras, que me parecem interessantes. Na leitura de Ezequiel (33, 7), diz: quanto a ti, filho do homem, eu te estabeleci... quero destacar aqui a expressão 'filho do homem'. Por diversas vezes, JC deu demonstração de que conhecia bem a Torah, citando sobretudo passagens de Isaías. Mas esta expressão 'filho do homem' ele tb utilizou em diversas outras passagens, referindo-se a Ele próprio. Além de mostrar conhecimento das Escrituras, JC ao mesmo tempo tb ensina que ele está integrando o antigo com o novo, as mensagens dos profetas com a atividade dEle próprio. Um dos grandes enigmas não totalmente decifrados a respeito da vida de JC é este: como ele se tornou um exímio conhecedor das Escrituras, já que isso era uma tarefa próprias dos rabinos. Onde ele teria recebido essas lições? porque não se pode simplesmente deduzir que Ele tinha a natureza divina e então só por isso devia saber as Escrituras de cor. JC aprendeu esse conhecimento da Lei com a sua natureza humana, portanto, Ele deve ter estudado em alguma escola. Daí se propaga a teoria de que ele teria recebido um treinamento com os essênios, antes de iniciar sua vida pública. Mas isso tb não explica tudo, porque consta tb no evangelho que, aos 12 anos, ele se 'perdeu' dos pais durante uma peregrinação a Jerusalém e foi encontrado conversando com os doutores da Lei e 'discutindo' com eles. Deixo aqui apenas a referência para a reflexão dos Confrades.
O outro ponto que me parece interessante destacar se refere à passagem de Mt 18, 18, onde diz: tudo o que ligares na terra será ligado no céu... Esta mesma passagem o próprio Mateus já havia referido (16, 19), quando JC dá as 'chaves' da igreja a Pedro; curiosamente, quando esse mesmo fato, quando é relatado em Marcos (8, 27) e em Lucas (9, 18), não há referência ao caso das chaves, enquanto Mateus repete isso duas vezes. Uma passagem correspondente encontra-se tb no evangelho de João em outro contexto completamente diferente (Jo 20, 23), quando JC aparece aos discípulos, após a ressurreição, e sopra sobre eles transmitindo o Espírito Santo dizendo: a todos a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados... O Padre Uchoa, que foi nosso professor de Bíblia no Seminário da Prainha, comentava que essas repetições se devem à existência de textos esparsos, que foram coletados pelos evangelistas e inseridos nas suas compilações. No caso, observa-se uma evolução literária no texto de João, que foi escrito bastante depois do de Mateus, ele teria trocado o verbo 'ligar' por 'perdoar pecados', dando maior objetividade à ordem de JC.
Vou iniciar este comentário fazendo uma homenagem ao Frei Roberto Magalhães (de Maracanaú), que no próximo sábado, dia 10/9, completará 91 anos de idade, creio que deve ser atualmente o frade mais idoso da Província. Além de suas reconhecidas virtudes pessoais e de seu exemplar exercício da vida franciscana e sacerdotal, Frei Roberto foi agraciado por Deus com uma longevidade produtiva, pois ele continua a exercer o seu múnus ministerial, apesar da avançada idade. Eu, particularmente, tenho um motivo muito especial para fazer esta homenagem, pois foi o Frei Roberto quem me trouxe para o Seminário de Messejana, em 1964, além de ter sido ele amigo de meus pais e continua sendo uma pessoa muito querida por toda a minha família. Meus parabéns e votos de que ele ultrapasse a barreira dos 100 anos, sempre continuando a espalhar seu carisma e a dar exemplo de santidade.
As leituras da liturgia de hoje trazem dois temas importantes: a correção fraterna e o poder da oração. Todos nós nos lembramos dos exercícios de correção fraterna, que éramos 'obrigados' a fazer todas as manhãs, no Noviciado, apontando as falhas dos nossos confrades e convidando-os a superar suas fraquezas, uma prática que causava certo desconforto (pelo menos para mim causava), porque é sempre muito delicado falar dos defeitos das pessoas em público. Não obstante se reconheça o bom propósito do exercício e apesar de ser uma prática recomendada no Evangelho, mas a recomendação de JC é que, primeiramente, o irmão faltoso seja chamado a conversar em particular, depois, com duas ou três testemunhas, só depois, se necessário, o caso deve ser levado à comunidade dos irmãos. Todos nós temos as nossas limitações, portanto, ninguém pode se considerar melhor do que os outros, para sair criticando o comportamento de colegas, expondo publicamente as suas fraquezas, sair 'falando mal' das pessoas, usando uma linguagem bem popular. Lamentavelmente, a chamada lingua ferina é bastante comum no meio social e se torna mais lamentável ainda quando se usa disso para capitalizar vantagens pessoais, em detrimento de outrem. Por isso, diz S Paulo na carta a Romanos (13, 9-10) que todos os mandamentos se resumem neste: amarás o teu próximo como a ti mesmo e quem ama nunca fará mal algum contra o próximo.
Convém lembrar que não devemos simplesmente nos omitir quando vemos o irmão fazendo algo indevido, pois todos nós temos a responsabilidade de corrigir fraterna e caridosamente o irmão que erra. Na leitura de Ezequiel (33, 8), Javeh é muito rigoroso: se não advertires o ímpio acerca da sua conduta e ele morrer, ele morrerá por culpa dele, mas eu pedirei a ti contas de sua morte. Ou seja, não é lícito ao cristão ficar calado e omisso diante dos erros do próximo, tendo o dever de adverti-lo. Contudo, esta advertência deve ser na forma acima proposta. Assim, estar-se-á praticando ao mesmo tempo a caridade e a correção fraternas.
O outro tema das leituras é o poder da oração. No evangelho de Mateus (18, 19) está escrito: qualquer coisa que pedirdes ao Pai, isto vos será concedido. O mesmo ensinamento se encontra na passagem correspondente de Marcos (20, 23): tudo o que pedirdes em oração acreditando que recebereis, isto vos será dado. Deus sabe das nossas necessidades, mas ele precisa da nossa colaboração para nos conceder, e esta colaboração se dá na forma do pedido. Existe uma prática devocional muito difundida na cultura religiosa do nosso povo, que é a de pedir algo a Deus mediante o pagamento de alguma promessa. As casas de relíquias que existem em Canindé e Juazeiro do Norte são repletas de ex-votos (ou objetos representativos de milagres) ofertados por pessoas que vieram 'pagar' a Deus. Vejamos que JC não ensina isso. Ele diz 'tudo o que pedirdes com fé, recebereis', não diz que devemos prometer algo em troca, para que o recebimento aconteça. Pode-se até imaginar que o 'pagamento da promessa' é uma forma de demonstrar a gratidão a Deus e não se pode de fato duvidar desse sentimento de gratidão. Todavia, o que Deus espera de nós como gratidão é a nossa vida de fé, é o amor ao próximo, é o bom exemplo a ser seguido pelo irmão. Deus não precisa de um pedaço de madeira, ou de gesso, ou de ferro, ou de qualquer outro material perecível. Deus quer a nossa conversão interior, a nossa adesão ao seu plano de salvação. E na leitura de Marcos acima referida, há um requisito para o recebimento do pedido: pedir acreditando que vai receber, isto é, pedir com fé, com confiança não nos nossos méritos, mas na magnanimidade divina.
Além desses dois temas, eu gostaria de destacar ainda dois pontos das leituras, que me parecem interessantes. Na leitura de Ezequiel (33, 7), diz: quanto a ti, filho do homem, eu te estabeleci... quero destacar aqui a expressão 'filho do homem'. Por diversas vezes, JC deu demonstração de que conhecia bem a Torah, citando sobretudo passagens de Isaías. Mas esta expressão 'filho do homem' ele tb utilizou em diversas outras passagens, referindo-se a Ele próprio. Além de mostrar conhecimento das Escrituras, JC ao mesmo tempo tb ensina que ele está integrando o antigo com o novo, as mensagens dos profetas com a atividade dEle próprio. Um dos grandes enigmas não totalmente decifrados a respeito da vida de JC é este: como ele se tornou um exímio conhecedor das Escrituras, já que isso era uma tarefa próprias dos rabinos. Onde ele teria recebido essas lições? porque não se pode simplesmente deduzir que Ele tinha a natureza divina e então só por isso devia saber as Escrituras de cor. JC aprendeu esse conhecimento da Lei com a sua natureza humana, portanto, Ele deve ter estudado em alguma escola. Daí se propaga a teoria de que ele teria recebido um treinamento com os essênios, antes de iniciar sua vida pública. Mas isso tb não explica tudo, porque consta tb no evangelho que, aos 12 anos, ele se 'perdeu' dos pais durante uma peregrinação a Jerusalém e foi encontrado conversando com os doutores da Lei e 'discutindo' com eles. Deixo aqui apenas a referência para a reflexão dos Confrades.
O outro ponto que me parece interessante destacar se refere à passagem de Mt 18, 18, onde diz: tudo o que ligares na terra será ligado no céu... Esta mesma passagem o próprio Mateus já havia referido (16, 19), quando JC dá as 'chaves' da igreja a Pedro; curiosamente, quando esse mesmo fato, quando é relatado em Marcos (8, 27) e em Lucas (9, 18), não há referência ao caso das chaves, enquanto Mateus repete isso duas vezes. Uma passagem correspondente encontra-se tb no evangelho de João em outro contexto completamente diferente (Jo 20, 23), quando JC aparece aos discípulos, após a ressurreição, e sopra sobre eles transmitindo o Espírito Santo dizendo: a todos a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados... O Padre Uchoa, que foi nosso professor de Bíblia no Seminário da Prainha, comentava que essas repetições se devem à existência de textos esparsos, que foram coletados pelos evangelistas e inseridos nas suas compilações. No caso, observa-se uma evolução literária no texto de João, que foi escrito bastante depois do de Mateus, ele teria trocado o verbo 'ligar' por 'perdoar pecados', dando maior objetividade à ordem de JC.
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