terça-feira, 24 de janeiro de 2012

25º Domingo Comum - 18.9.2011 - Meus pensamentos


Caros Confrades,

A liturgia deste domingo traz este tema muito interessante, retirado do profeta Isaías (55,8): meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, vossos caminhos não são como os meus caminhos. É curioso observar como, desde aquele tempo (o profeta Isaías é contemporâneo do cativeiro dos hebreus na Babilônia, aprox. 550 a.C.) Javeh já advertia o povo, através dos profetas, para não pensarem sobre Ele de modo antropológico, e nos dias de hoje, nós ainda vemos com frequencia as pessoas antropologizarem o divino, ou seja, referirem-se às coisas divinas com categorias humanas. Naqueles convites para missa de finados, às vezes, se lê assim: fulano de tal,cinco anos de vida eterna.

Ora, meus amigos, a contagem dos anos é coisa dos homens, a eternidade é a dimensão divina, lá não há contagem de tempo. A vida eterna não tem passado nem futuro, nem semanas, nem meses, nem anos, apenas presente infinito. Esse é um modo de pensar o divino com categorias antropológicas. Por isso, o profeta adverte: meus pensamentos não são como os vossos.

Outro fato que tb faz parte da nossa tradição religiosa é tentar 'negociar' com Deus através de promessas: me dê isso que eu faço aquilo. Ora, nós nunca seremos merecedores de nada diante de Deus porque não temos mérito nosso, tudo o que merecermos de Deus é por causa da nossa redenção em JC. E Deus sabe de tudo aquilo do que nós precisamos, não é preciso 'provocar' Deus fazendo uma espécie de chantagem, como se Deus perdesse algo porque nós deixamos de fazer alguma coisa. Isso é pensar antropologicamente o divino. Daí porque Javeh exorta através do profeta Isaías: os meus pensamentos não são como os vossos pensamentos.

É tb comum as pessoas falarem algo do tipo: isso é castigo de Deus. Lá vem novamente a antropologização. O pai castiga o filho, mas Deus não castiga, nós é que causamos a nossa própria desgraça, com nossas atitudes e decisões inconsequentes. Este 'nós' aqui é o nós plural da raça humana, não um determinado grupo de pessoas, por isso, muitas vezes, pessoas inocentes são inexplicavelmente atingidas. Fazer algo apenas para não receber castigo de Deus é tb pensar antropologicamente o divino. Então,vem novamente o oráculo: meus pensamentos não são como os vossos pensamentos. Não devemos pensar nas ações de Deus com categorias antropológicas, mas com a categoria divina básica do amor, o mesmo amor que O fez criar o mundo e dar Seu próprio Filho para redimir o pecado da humanidade. Pensar sobre Deus sem colocar em primeiro plano esse amor inefável e infinito é pensar antropologicamente, é reduzir Deus ao plano humano.

Dentro desta mesma temática se situa o evangelho de Mateus (20, 1-16) sobre os trabalhadores da vinha. JC dá um severo puxão de orelha nos fariseus, os 'trabalhadores da primeira hora', porque Ele estava prometendo aos não-judeus a mesma recompensa que eles (judeus) esperavam ter. Ora, os judeus já vinham 'guardando' a lei desde muito tempo, fazendo jejuns e orações, pagando o dízimo e dando esmolas, etc... como é que aqueles que estavam agora recebendo o chamado iriam ter a mesma recompensa deles, que trabalharam 'o dia todo, suportando o sol e o calor'? Os fariseus se consideravam os judeus da elite, os puros, aqueles que desfrutavam da amizade de Javeh, certamente eles queriam que o 'céu' deles fosse diferente daquele dos pagãos, que somente agora passaram a fazer parte do grupo dos adoradores. Queixavam-se que a mensagem de JC era injusta com eles, porque eles eram mais merecedores. E JC fala bem sério: "Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?"

Volta novamente a advertência do profeta: meus pensamentos não são como os vossos. Dentro do olhar puramente humano, parece injustiça que os primeiros adoradores, aqueles que primeiro receberam a promessa através dos Patriarcas (os judeus) venham a ter a mesma recompensa daqueles adoradores da última hora (os gentios), aqueles que receberam a promessa naqueles dias. Mas dentro da categoria básica divina do amor, a 'moeda de prata' do amor divino não tem diferença ao 'pagar' os que trabalham desde a madrugada e os que começaram às 5 da tarde, por uma razão muito simples: o amor de Deus não tem graduação, pois é sempre dispensado em grau máximo. Tal como os pensamentos de Deus não são como os pensamentos dos homens, a justiça divina também não é como a justiça dos homens.

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