sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

15º Domingo Comum - 10.07.2011 - o semeador


Diletos Confrades,

O evangelho deste domingo, 10/7, nos traz de volta a parábola do semeador, uma das mais conhecidas. Ecce exiit qui seminat seminare. (Eis que saiu aquele que semeia para semear). Esta parábola tem alguns pontos bastante intrigantes para nós, imensos desafios colocados ali por JC.
Primeiramente, gostaria de lembrar que nós todos fomos 'seminados'. A instituição do Seminário foi criada no Concílio de Trento para semear novas sementes do sacerdócio, nós continuamos a ser essas sementes, mesmo não tendo permanecido na vida religiosa, porque a semente da Palavra é lançada em todo lugar. É como se todos nós tivéssemos sido transplantados para outros campos, mas as nossas raízes continuam lá, essa é uma constatação que se tem a cada encontro.
Mas, voltando ao assunto da semeadura na parábola. Vou me concentrar em dois pontos que considero mais importantes.
Um deles é que essa é uma rara vez em que o evangelista detalha para o leitor a explicação da parábola dada pelo próprio JC. É de se supor que ele sempre explicava as parábolas para os discípulos quando conversava em particular com eles, embora nem todas essas explicações tenham sido transcritas nos evangelhos.
No caso desta, há alguns detalhes que chamam a atenção, quando os discípulos perguntam a JC: por que vc fala às pessoas em parábolas? isto é, por que vc não fala logo claramente para todos? e JC responde: "para que olhando, não vejam, e ouvindo, não entendam. Porque o coração deste povo se tornou insensível e ouviram de má vontade e fecharam seus olhos..." minha gente, isso é muito duro. Então, JC já estaria previamente condenando os judeus, porque não quiseram aceitá-lo e reconhecê-lo como o Messias?
Não creio que fosse isso, mas sim que JC já sabia dos acontecimentos futuros e via que já não mais adiantava tentar dialogar com os judeus, eram um caso perdido. Então, ele pregava para os "estrangeiros" e preparava os apóstolos para, depois, esclarecer a estes os seus ensinamentos. Ele estava literalmente lançando a semente. Essa semente ainda vai precisar medrar e desabrochar, mas já ficou lançada. Os judeus seriam aquele terreno pedregoso ou espinhoso, onde ele já sabia que a semente não iria germinar. Mas lançou tb por ali, porque no meio de todo terreno pedregoso sempre há alguma porção de terra, no meio dos espinhos há sempre algum espaço livre e assim a semente poderia germinar ali tb. Ou seja, JC não estava de antemão condenando os judeus, mas não queria desperdiçar seu tempo (que ele sabia ser curto) com um auditório que teimava em não compreender. Dirigia-se então, preferencialmente, aos estrangeiros.
Quanto a nós, precisamos cuidar para que o nosso coração tb não se torne insensível, para que o nosso orgulho e a nossa arrogância não nos transformem nesses terrenos pedregosos e espinhosos, inadequados para a semeadura, tal como outrora se apresentaram os judeus.
O outro ponto é aquele em que Ele confunde ainda mais a gente quando diz: "Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado. Pois à pessoa que tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas à pessoa que não tem será tirado até o pouco que tem." Minha gente, isso é cruel. Ao que tem alguma coisa, será dado mais; ao que não tem, até o pouco que tem será tirado. Onde ficou a misericórdia do coração de JC na hora de dizer isso?
Parece uma atitude incoerente com os seus ensinamentos. Mas eu entendo isso como um grande desafio que JC colocou para os seus discípulos daquele tempo e coloca para nós hoje tb. Os dons recebidos por cada um de nós, quando bem administrados, se multiplicam; quando não se tornam produtivos, são retirados. A misericórdia de Deus não alcança aos que deixam de corresponder aos seus dons. Ele diz: alguns produzem 100:1, outros 60:1, outros ainda 30:1, mas tem de produzir algo. Nós cristãos temos essa grande responsabilidade de demonstrar 'produção' dos dons.
Essa forma de falar até lembra um jargão do universo capitalista, mas obviamente JC jamais se referia nesse sentido. Produzir é frutificar, frutificar é ser exemplo, então a produção aqui significa ser sal e ser luz, como Ele disse em outra passagem; em outras palavras, significa fazer a diferença. Então, não basta ser cristão 'da boca pra fora' dizendo isso a todo instante, isso tem de se manifestar em ações e atitudes. Não basta dizer: Senhor, Senhor... não é suficiente orar no recôndito do seu ser. Tudo isso é importante, mas será vão se não frutificar, se não se transformar em sal e luz, se não fizer aquela diferença que faça alguém reconhecer no seu agir o comportamento de um discípulo de Cristo.
Este é o nosso desafio cotidiano, todos os nossos esforços devem convergir para uma competente superação desse desafio.

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