Caros Confrades,
Antes de comentar a mensagem litúrgica de hoje, quero fazer um registro que é caro a todos nós. Na quinta feira passada, dia 8/9, comemorou-se o natalício de Nossa Senhora (festa da natividade de Maria). Muitas denominações de Maria, que não têm uma festa específica, são comemoradas neste dia. O confrade Ubiratan me informou que, em Frecheirinha, comemora-se Nossa Senhora da Saúde, padroeira da cidade. Então, eu lembrei que, nesse dia, a gente tb comemora o dia de Nossa Senhora do Brasil, padroeira do Seminário. E lembro que era tb comemorado o onomástico do nosso caro confrade Frei Mariano (Luiz Pires). Roguemos as bênçãos de Nossa Senhora do Brasil sobre todos nós.
Passando ao tema da liturgia de hoje, a mensagem central volta ao tema de um dos últimos domingos: a misericórdia e, junto com esta, a reconciliação.
A primeira leitura, retirada do Eclesiástico (ou Ben Sirac, na tradição hebraica) é de extrema e coerente sabedoria: Se não tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão dos seus pecados? Se ele, que é um mortal, guarda rancor, quem é que vai alcançar perdão para os seus pecados? (Eclo 28,4-5).
Meus amigos, esta é uma das coisas mais difíceis de se fazer, mas esse é o mandamento. Como diz Paulo, neste mesmo sentido (embora não seja uma das leituras de hoje): amar os amigos é muito fácil, mas devemos amar os inimigos. Tem algumas atitudes que doem muito profundamente em nós, sobretudo a maledicência, a injúria, a ingratidão, doem mais do que uma alfinetada. A vontade que se tem é de nunca mais olhar na cara da pessoa que faz isso. Mas exorta o Eclesiástico (38, 8-9): Pensa nos mandamentos, e não guardes rancor ao teu próximo. Pensa na aliança do Altíssimo, e não leves em conta a falta alheia!
Certa vez, eu li naquele livro de exercicios latinos (G. Zenoni) um fato da vida de Sócrates, que me vem agora à mente. A mulher de Sócrates, de nome Xantipa, era muito grosseira, faladeira, maltravava o marido. Aos que perguntavam a ele por que não a deixava, Sócrates respondia: com ela eu exercito todos os dias a tolerância e aprendo a ser tolerante com os outros. Na minha interpretação, o exercício da tolerância, no caso de Sócrates, é o exercício do perdão. É aquilo que nós rezamos todos os dias no Pai Nosso - perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos os que nos ofenderam - mas que é tão difícil de praticar.
Tem tb a esse propósito a história de um homem que comprava jornais todos os dias de um jornaleiro que o atendia rispidamente, mas ele sempre sorria e o cumprimentava com cortesia. Um amigo perguntou porque ele não retribuía a grosseria do jornaleiro na mesma medida, então ele respondeu: porque não quero que ele decida como eu devo me comportar, quem decide o meu comportamento sou eu. Se eu retribuir a grosseria, estarei deixando que ele decida por mim; sendo gentil, eu estou no comando da decisão. Isso é algo fácil de fazer? Por certo que não. Mas se há pessoas que praticam a tolerância por motivos humanitários, nós cristãos temos, além do humanitarismo, a motivação do mandamento que manda perdoar.
No evangelho, Pedro pergunta a JC: Mestre, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim, 7 vezes? Pedro já devia achar que estava sendo bastante tolerante ao perdoar 7 vezes. Ocorre que JC respondeu de forma inesperada para ele: não apenas 7, mas 70 x 7. Os exegetas interpretam esse número (70 x 7) como sendo o infinito, isto é, deve-se perdoar infinitas vezes. E, em seguida, JC conta a história do devedor que teve a dívida perdoada pelo patrão, mas daí a pouco, quando ele encontrou alguém que lhe devia, agiu de modo intolerante e não foi capaz de passar adiante o perdão que havia recebido. O patrão mandou chamá-lo e retirou o perdão que havia dado, exigindo o pagamento de toda a dívida. E JC conclui de modo fulminante: é assim que o vosso Pai agirá convosco, se não perdoardes de coração o vosso irmão. Vejam bem, não basta perdoar simplesmente, tem de ser perdão de coração.
Meus amigos, como isso é difícil, mas este é o mandamento. Na missa de hoje da Paróquia da Glória, o celebrante (Padre Josieldo) disse algo muito interessante: ser misericordioso com o próximo não é porque o próximo mereça isso, é porque Deus é misericordioso conosco. Se nós recebemos misericórdia tb sem merecer, devemos praticar a misericórdia com quem não a merece. Este é o desafio que JC coloca para nós neste domingo. É a mesma mensagem que o Pai Seráfico ensinava com outras palavras: ninguém deve esperar ser perdoado para, só então, dar o perdão, pois é perdoando que se é perdoado. Sigamos o seu exemplo.
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