Prezados Confrades,
A liturgia de hoje (21 Domingo do Tempo Comum, traz no evangelho a passagem em que JC dá as 'chaves' a Pedro. Os confrades que residem fora de Fortaleza, provavelmente, tiveram na liturgia de hoje a comemoração da Assunção de Maria. Mas na Arquidiocese de Fortaleza, onde a festa da Assunção ocorreu no seu dia próprio (15/8), a liturgia foi do domingo comum. Esta é que comentarei.
Naquele conhecido diálogo de JC com os discípulos (e vós, quem dizeis que eu sou?), Pedro se antecipa a todos e diz: Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo. E JC conclui: não foi a carne nem o sangue quem te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus. E eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra assentarei a minha Igreja e te darei a chave do reino dos céus...
É interessante que esse trocadilho pedro-pedra também está presente na língua grega (pétros-petra), sendo que ambas as palavras têm significado similar. Obviamente, JC não falava em grego, mas o trocadilho em grego e nas línguas latina e neolatinas caiu bem, unindo a pessoa (Pedro) e o objeto (pedra) pela metáfora da edificação. O que se observou, ao longo da história, é que os Papas usaram e abusaram desta 'chave', indo muito além do simbolismo espiritual e descambando para o lado material e político do poder social, até chegar ao dogma da inerrância (o Papa não erra!!). Foi assim que o Papa Gregório VII excomungou o rei Henrique IV e ele perdeu por isso o seu poder real e foi preciso vir pedir perdão ao Papa vestido de mendigo (exigência do Papa), para que a excomunhão fosse retirada, ou seja, a chave do poder temporal funcionando de maneira impiedosa; foi tb o caso ao Papa Gregório XIII que foi chamado para definir o calendário mundial, quando se descobriu que a contagem dos dias estava errada, em 1582, instituindo o nosso atual calendário (Gregoriano), porque somente ele tinha autoridade de alcance mundial; era tb por isso que, até Pio XII, o Papa usava a tríplice coroa, simbolizando o sacerdócio, a jurisdição e o magistério, que colocava o Papa acima de todos os soberanos do universo. Com certeza, não foi essa a intenção de JC ao dar a 'chave' a Pedro, mas foi essa a extensão que o significado da chave pegou ao longo da história. Somente a partir de João XXIII, a tríplice coroa foi deixada de lado (não foi formalmente desconstituída), mas depois dele, os Papas não mais fizeram uso dela. Do ponto de vista espiritual, a chave foi transformada no conceito da inerrância, mas até mesmo o dogma da infalibilidade do Papa não tem mais sido invocado pelos Pontífices, embora seja uma prerrogativa canônica que é atribuída ao Papa.
E a parte final do discurso de JC é também bastante significativa, quando ele diz: tudo que ligares sobre a terra será ligado no céu e tudo que desligares aqui será desligado lá. A palavra latina para 'ligar' é o verbo 'ligare', que tem o sentido de atar, prender, semelhante ao português; já a palavra latina para 'desligar' é o verbo 'solvere', que significa literalmente desatar, desfazer, solucionar. É o mesmo verbo que em português se traduz por 'resolver' e tem o sentido jurídico de extinguir uma obrigação. Como se vê, não se trata propriamente de desligar, mas de soltar os nós, solucionar os problemas. Ocorre que o sentido histórico conferido a estes verbos está mais assemelhado ao conceito de energizar ou desenergizar alguma máquina, o que se afasta do sentido original. Eu entendo que JC falou em ligar e resolver no contexto de solucionar as dificuldades que comumente ocorrem nas comunidades humanas e que iriam ocorrer também na comunidade eclesial, portanto, no sentido humanístico, espiritual. Mas isto tb foi transmudado historicamente para o mesmo conceito de poder associado ao conceito da chave.
Felizmente, após João XXIII, passou-se a ver os atributos de ligar e desligar mais próximos do seu sentido original do evangelho. O Papa João Paulo II deu inúmeras demonstrações disso. O Papa atual tb tem procurado manter essa orientação, mas infelizmente ainda existe muito autoritarismo da parte de alguns Bispos e Párocos, que repetem atitudes comuns nos tempos pré-conciliares e não são mais compatíveis com a posição que a autoridade religiosa deve ter no mundo de hoje. Tenho por certo que, ao dar as 'chaves' a Pedro, JC o constituiu como líder do grupo, para fazer o que Ele próprio vinha fazendo, após o seu retorno para o Pai. Liderança, porém, não é sinônimo de autoritarismo. JC nunca agiu autoritariamente e, portanto, não se pode dizer que ele tenha passado esse poder aos seus discípulos. Os nossos Pastores precisam conscientizar-se disso, para que o clericalismo não venha a se sobrepor ao laicismo como se aquele fosse superior a este. Afinal, clérigos e leigos, somos todos cristãos por força do mesmo batismo na fé em Jesus Cristo.
A liturgia de hoje (21 Domingo do Tempo Comum, traz no evangelho a passagem em que JC dá as 'chaves' a Pedro. Os confrades que residem fora de Fortaleza, provavelmente, tiveram na liturgia de hoje a comemoração da Assunção de Maria. Mas na Arquidiocese de Fortaleza, onde a festa da Assunção ocorreu no seu dia próprio (15/8), a liturgia foi do domingo comum. Esta é que comentarei.
Naquele conhecido diálogo de JC com os discípulos (e vós, quem dizeis que eu sou?), Pedro se antecipa a todos e diz: Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo. E JC conclui: não foi a carne nem o sangue quem te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus. E eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra assentarei a minha Igreja e te darei a chave do reino dos céus...
É interessante que esse trocadilho pedro-pedra também está presente na língua grega (pétros-petra), sendo que ambas as palavras têm significado similar. Obviamente, JC não falava em grego, mas o trocadilho em grego e nas línguas latina e neolatinas caiu bem, unindo a pessoa (Pedro) e o objeto (pedra) pela metáfora da edificação. O que se observou, ao longo da história, é que os Papas usaram e abusaram desta 'chave', indo muito além do simbolismo espiritual e descambando para o lado material e político do poder social, até chegar ao dogma da inerrância (o Papa não erra!!). Foi assim que o Papa Gregório VII excomungou o rei Henrique IV e ele perdeu por isso o seu poder real e foi preciso vir pedir perdão ao Papa vestido de mendigo (exigência do Papa), para que a excomunhão fosse retirada, ou seja, a chave do poder temporal funcionando de maneira impiedosa; foi tb o caso ao Papa Gregório XIII que foi chamado para definir o calendário mundial, quando se descobriu que a contagem dos dias estava errada, em 1582, instituindo o nosso atual calendário (Gregoriano), porque somente ele tinha autoridade de alcance mundial; era tb por isso que, até Pio XII, o Papa usava a tríplice coroa, simbolizando o sacerdócio, a jurisdição e o magistério, que colocava o Papa acima de todos os soberanos do universo. Com certeza, não foi essa a intenção de JC ao dar a 'chave' a Pedro, mas foi essa a extensão que o significado da chave pegou ao longo da história. Somente a partir de João XXIII, a tríplice coroa foi deixada de lado (não foi formalmente desconstituída), mas depois dele, os Papas não mais fizeram uso dela. Do ponto de vista espiritual, a chave foi transformada no conceito da inerrância, mas até mesmo o dogma da infalibilidade do Papa não tem mais sido invocado pelos Pontífices, embora seja uma prerrogativa canônica que é atribuída ao Papa.
E a parte final do discurso de JC é também bastante significativa, quando ele diz: tudo que ligares sobre a terra será ligado no céu e tudo que desligares aqui será desligado lá. A palavra latina para 'ligar' é o verbo 'ligare', que tem o sentido de atar, prender, semelhante ao português; já a palavra latina para 'desligar' é o verbo 'solvere', que significa literalmente desatar, desfazer, solucionar. É o mesmo verbo que em português se traduz por 'resolver' e tem o sentido jurídico de extinguir uma obrigação. Como se vê, não se trata propriamente de desligar, mas de soltar os nós, solucionar os problemas. Ocorre que o sentido histórico conferido a estes verbos está mais assemelhado ao conceito de energizar ou desenergizar alguma máquina, o que se afasta do sentido original. Eu entendo que JC falou em ligar e resolver no contexto de solucionar as dificuldades que comumente ocorrem nas comunidades humanas e que iriam ocorrer também na comunidade eclesial, portanto, no sentido humanístico, espiritual. Mas isto tb foi transmudado historicamente para o mesmo conceito de poder associado ao conceito da chave.
Felizmente, após João XXIII, passou-se a ver os atributos de ligar e desligar mais próximos do seu sentido original do evangelho. O Papa João Paulo II deu inúmeras demonstrações disso. O Papa atual tb tem procurado manter essa orientação, mas infelizmente ainda existe muito autoritarismo da parte de alguns Bispos e Párocos, que repetem atitudes comuns nos tempos pré-conciliares e não são mais compatíveis com a posição que a autoridade religiosa deve ter no mundo de hoje. Tenho por certo que, ao dar as 'chaves' a Pedro, JC o constituiu como líder do grupo, para fazer o que Ele próprio vinha fazendo, após o seu retorno para o Pai. Liderança, porém, não é sinônimo de autoritarismo. JC nunca agiu autoritariamente e, portanto, não se pode dizer que ele tenha passado esse poder aos seus discípulos. Os nossos Pastores precisam conscientizar-se disso, para que o clericalismo não venha a se sobrepor ao laicismo como se aquele fosse superior a este. Afinal, clérigos e leigos, somos todos cristãos por força do mesmo batismo na fé em Jesus Cristo.
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