sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Domingo da Trindade - 19.06.2011 - a revelação do mysterion


Prezados Confrades,

Celebramos hoje a festa litúrgica da Santíssima Trindade. Escutei o sermão do celebrante da missa de hoje na paróquia e, infortunadamente, tudo que ele disse foi que a Santíssima Trindade é um mistério que nós devemos trazer para a nossa vida. No mais, falou aqueles chavões já conhecidos, cantou um cântico litúrgico (prova de amor) na hora da homilia e falou até em Josemaria Escrivá, o prelado espanhol criador da Opus Dei, uma entidade que é considera nebulosa no seus modus operandi... ou seja, perdeu a oportunidade de desenvolver um tema tão importante do ano litúrgico.
Pois bem, meus amigos, a Santíssima Trindade é a verdade de fé que centraliza toda a teologia cristã. Foi aquela que deu mais trabalho a JC para ensinar aos apóstolos, eles não conseguiam entender. Todo o edifício doutrinário do cristianismo se fundamenta na trindade, ou seja, no conceito de um Deus Uno e Trino, isto é, três em um só.
Vcs talvez conheçam uma historinha atribuída a Santo Agostinho. Ele estava meditando sobre o 'mistério' da trindade andando pela praia e depois de algum tempo esquentando os miolos sem conseguir entender, viu um garotinho que fazia uma tarefa insana: ele corria até o mar, onde enchia uma pequena vasilha com água e voltava e colocava aquela água num buraco que havia feito na areia. Ia e vinha inúmeras vezes fazendo essa tarefa, o que deixou Agostinho curioso. Aproximou-se e perguntou ao garoto o que ele estava a fazer. Resposta do garoto: quero colocar o mar dentro desse buraco. Agostinho sorriu e respondeu: isso é impossível. Ao que o garoto teria retrucado: será mais fácil eu colocar o mar inteiro neste buraco do que vc entender o mistério da trindade.
Folclore à parte, eu nunca procurei confirmar a veracidade desse fato, mas o que interessa dizer aqui é que a trindade não é mais um mistério, desde que JC veio explicar como ela é. A palavra 'mysterion' em grego significa 'segredo', portanto, depois de JC 'revelou' o seu conteúdo, não é mais segredo (mistério). Era mistério antes de JC ensinar, depois passou a ser doutrina de fé. O mesmo Santo Agostinho, certa vez, afirmou (isso está nas Confissões dele): Credo quia absurdum - creio, porque é um absurdo. Ou seja, se fosse uma verdade compreensível, possível de ser explicada pela razão, não haveria necessidade de crer, passava a ser algo de simples evidência. A fé é necessária exatamente porque a nossa razão não consegue entender, e mesmo assim nós aceitamos. E nós só conseguimos ter acesso a esse conteúdo porque JC veio revelar. Revelar significa literalmente 'tirar os véus', portanto, tornar visível algo que estava escondido, envolvido em véus. É assim que devemos entender o sentido da palavra 'mistério' na teologia: uma verdade revelada, um conhecimento que a nossa mente não consegue captar sozinha, precisa da ajuda da fé para ser alcançada.
Qual foi, então, o grande 'segredo' (mysterion) que JC veio revelar? Foi que o nosso Deus é comunidade. Minha gente, essa é a grande novidade da sua revelação. Em nenhuma outra religião existe isso, um Deus comunidade, que é um e ao mesmo tempo é três. Na época de Sto Agostinho não existia isso que vou dizer agora, mas hoje em dia, fica bem mais fácil pra nós entendermos isso, porque a tecnologia vem nos ajudar com os aparelhos 'três em um'. A minha impressora é tb scanner e copiadora, ou seja, é três em uma, tem três funções num só equipamento.
Evidentemente, essa comparação com a trindade é falha (toda comparação claudica, já diz o ditado), é falha porque enquanto uma das funções está operante, as outras estão inativas. Enquanto imprime, não pode escanear ou copiar. Mas na trindade divina, as três pessoas operam ao mesmo tempo, isto é, enquanto uma está agindo, nenhuma das outras pessoas fica inativa, todas operam simultaneamente.
Essa é a grande riqueza da religião cristã, que a torna diferente e superior às demais: o Deus comunidade. Em todas as demais religiões - monoteístas e politeístas - as personalidades divinas são singulares. Só na religião cristã, o Deus é singular e coletivo. Essa é a verdade central, porque só tem sentido falar em natal, paixão, morte e ressurreição, ascensão, pentecostes (comemorações litúrgicas de primeira classe), porque o nosso Deus é trindade. Se retirarmos a trindade, todas as demais verdades da religião perderão seu fundamento.

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